Açúcar e infância: consequências do consumo precoce do alimento

In Geral, Saúde

Como o açúcar adicionado incentiva maus hábitos alimentares e colabora para o desenvolvimento de doenças.

Helena Cardoso

Você com certeza sabe que açúcar em excesso faz mal e provavelmente cresceu ouvindo sobre os males que ele pode causar no organismo. Entretanto, o que talvez não saiba, é que as consequências do consumo deste alimento ficam ainda maiores quando se é criança.

De acordo com o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, criado pelo Ministério da Saúde, desde a introdução alimentar (após os seis meses) até essa idade, o uso de açúcares, bem como mel e outros adoçantes, não é recomendado.

Menos açúcar, mais saúde

O pediatra Rafael Placeres explica que é na introdução alimentar que o paladar da criança começa a ser moldado. Isso significa que, se oferecido, o açúcar pode deixar o indivíduo mais suscetível à seletividade alimentar. Tal impacto gera consequências não apenas ao desenvolvimento físico, mas também à parte cognitiva por reforçar o poder de vício do açúcar. 

Segundo o profissional, o consumo deste alimento gera ainda mudanças na microbiota intestinal, e como o intestino é um dos principais órgãos durante o desenvolvimento do sistema imunológico, crianças que consomem açúcar acabam tendo sua imunidade afetada.

Deysi Martini é mãe da Eloá, de seis anos, e não deu açúcar à sua filha até que completasse dois anos e dois meses. Ela pode comprovar a fala do médico: desde cedo, reparou como sua criança era saudável em comparação a bebês que já consumiam o alimento. 

O mesmo aconteceu com Marilia Lago, mãe da Eliza. Além de nunca ter usado antibióticos e ter ficado doente poucas vezes, ela conta que a criança também não apresentava irritações, dormia bem e teve um desenvolvimento cognitivo e social muito grande.

Qual o problema do açúcar?

Mas o que exatamente o açúcar causa no organismo de uma criança? De acordo com o Guia e o Dr. Rafael Placeres, além da seletividade alimentar (que pode gerar preferência por comidas ultraprocessadas) e da diminuição da imunidade, esse alimento ainda pode causar maior incidência de cáries na vida adulta e desenvolvimento de diabetes, hipertensão e obesidade. 

O médico explica ainda que crianças que comem açúcar tendem a ter pior qualidade de sono e são mais agitadas. Esther Veiga, mãe da Agatha, de 1 ano e meio, conta que um dos motivos para não oferecer tal alimento à sua filha foi exatamente esse: como professora, ela viu de perto o efeito do açúcar no comportamento das crianças. 

Como enfrentar a pressão?

A decisão de respeitar a escolha dos pais que optam por restringir esse alimento, entretanto, nem sempre é unânime. Deysi Martini comenta que já houve situações em que uma mãe a disse que não precisava daquilo, já que seu filho comia e não apresentava problemas.

Na hora de lidar com o ocorrido, ela acredita que o melhor a se fazer é tentar explicar o porquê da decisão. “Nenhuma informação dada de forma agressiva e julgadora irá ajudar, então quando as opiniões se divergiam eu tentava mostrar que eles não estavam errados, mas que talvez uma mudança traria mais benefícios e agregaria melhoras ao que já estava bom”, aconselha.

Já Esther Veiga lida de formas diferentes a depender do contexto da situação. “Se for uma pressão vinda do ambiente, eu lido com prevenção. Normalmente eu sei o que vamos encontrar nos lugares onde levamos a Agatha, então sempre levo a comida dela. Uma criança de barriga cheia dá menos trabalho”, explica.

Porém, quando a pressão vem de pessoas, as coisas ficam um pouco mais complicadas. “Se eu nego comer determinado alimento, a pessoa que o preparou pode associar que meu problema é com ela e não com a comida”, compartilha. 

Para enfrentar a situação, Esther conta que fala coisas como “titia, isso parece muito gostoso, mas eu ainda não como. Tem uma banana na sua fruteira pra mim? Com esse cuidado, nunca passamos por maus lençóis. Normalmente, a pessoa já segura na mãozinha da Agatha e vai conduzindo até a fruteira pra ela escolher dali o que mais gostou. É a coisa mais fofa”, comenta.

Preparo dos alimentos

A nutricionista Rillary Alves, que dá aulas sobre introdução alimentar na faculdade, traz algumas recomendações sobre a preparação de comidas para crianças de até dois anos. “Evite alimentos industrializados, que em sua maioria possuem adição de açúcar ou derivados. Evite até mesmo sucos de caixinha e néctar das frutas, já que são a concentração do açúcar”, orienta.

A profissional explica que nenhuma forma de açúcar adicionada é recomendada, mas frutas são permitidas e incentivadas. Dessa forma, as receitas podem ser adoçadas de forma natural. “Uma vez que a criança ainda não teve contato com o açúcar, ela não sente a falta dele, então muitas vezes não existe a necessidade de adoçar algum alimento”, complementa.

Para finalizar, ela traz mais dicas para os pais que pretendem seguir esse caminho. “Tente não consumir coisas com açúcar na presença da criança, pois fica difícil explicar por que ela não pode e você pode. Além disso, varie a alimentação e traga a parte lúdica para o prato, com decorações e brincadeiras, para que o momento da alimentação seja divertido”, incentiva.

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