Giovanni Manzolli
Nunca é tarde para recomeçar. Esse clichê popular pode estar um pouco banalizado devido a frequência com a qual é falado. Contudo, há um grupo de pessoas que têm coragem de dar início a uma nova fase da vida quando muitos já julgam ser tarde demais.
A proporção desse grupo foi contabilizada em uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feita de 2012 a 2017. Essas são as pessoas que ingressaram em uma nova aventura amorosa após os 50 anos de idade. Segundo a pesquisa do IBGE, o índice de pessoas na faixa dos 50 anos que se casaram no civil aumentou 37,7% entre os homens e 29,8% entre as mulheres, neste período de sete anos.
A psicóloga Cristiane Carmona elenca alguns desafios de começar um namoro ou se casar na terceira idade. “Acredito que um dos maiores desafios seja o medo do pré-conceito e julgamento de outros, insegurança e até um receio do recomeço. A pessoa na terceira idade, por si só, já encontra muitas barreiras na sociedade para se tornar pertencente a um determinado contexto. Muitas vezes, a autonomia de uma pessoa idosa não é levada em conta dependendo da idade”, comenta.
Essas barreiras não foram suficientes para impedir que o amor nascesse entre Zebino Silva, 79, e Antônia Silva, 65. Não se deixe enganar pela idade. Esse relacionamento é tão contemporâneo que começou pela internet, por meio de um site de relacionamentos.
Dona Antônia é proprietária de uma pousada na cidade de Garanhuns (PE), na qual hospeda muitos estudantes universitários. Certa feita, um de seus hóspedes, um jovem aluno de medicina, sugeriu fazer um perfil para ela em um site de relacionamentos para que ela não tivesse mais uma vida solitária, após 20 anos de viuvez.
Quando a possibilidade de ir para a internet encontrar alguém surgiu, dona Antônia ficou com o pé atrás. Para ela, essa história de amor online não dava muito certo; além do mais, ela não queria muito que as pessoas da cidade soubessem que ela “estava na pista”. “Mas você está fazendo uma coisa dessas comigo? Eu sou muito conhecida aqui em Garanhus”, disse Antônia ao estudante metido a cupido. No final, o nome que constava no perfil dela era Juliene, só para dar uma disfarçada.
Já seu Zebino estava nas redes a procura de alguém especial. Quando encontrou Juliene, ou melhor, Antônia, começou a conversar por telefone. Depois de 2 meses de papo, Zebino viajou para Pernambuco e a viu pessoalmente pela primeira vez. Mas, com ele, não houve perda de tempo. Para aproveitar a viagem, Zebino já levou consigo a aliança de noivado e pediu Antônia em casamento. Depois de pensar um pouco, ela aceitou. Filhos, netos e bisnetos do casal também abraçaram a ideia.
“O relacionamento com o outro, principalmente na relação amorosa, traz inúmeros benefícios ao indivíduo. No caso da pessoa na terceira idade, a cumplicidade, a paixão, o amor, a troca de experiências e o desejo, fazem com que a pessoa estabeleça conexões de si. As relações amorosas trazem consigo o avivamento do coração, resultando na autoestima, cuidado e prazer em viver”, explica Carmona.
No dia 30 deste mês eles completaram 7 anos de casamento. Durante a entrevista eu perguntei ao seu Zebino o que fariam de bom para celebrar o aniversário de casamento. Não me contentei com a resposta vaga dizendo que apenas iriam passear na cidade e perguntei o que fariam durante o passeio. “Você não pode fazer isso comigo, se não estraga a surpresa”, respondeu Zebino gargalhando.
Poucos têm a coragem de se aventurar no amor quando têm um pouco mais de idade. Entretanto, a alegria estampada nos semblantes de seu Zebino de dona Antônia, atestam que, para arriscar algo novo, não existe limite de idade.