A repórter Hellen Piris conversou com o boliviano Yonathan Morales. Ele mora próximo aos focos de queimadas da Amazônia Boliviana, e nos conta sobre o atual cenário do local, quem é mais prejudicado e o que tem sido feito para combater as chamas.
Hellen Piris: Qual é a situação atual com relação às queimadas na Bolívia?
Yonathan Morales: A situação é lamentável. Os animais estão esturricados, de tão queimados. A impotência que sentimos perante isso é tremenda.
H. P.: Quando começaram as queimadas?
Y. M.: Fazem 40 dias, aproximadamente, que o fogo não para por aqui.
H. P.: Vocês tiveram alguma perda por consequência das queimadas até o momento?
Y. M.: Muitas. O fogo tem causado danos na flora e fauna, mas também na saúde das pessoas da população [a respiração fica mais difícil, já que o ar é seco e cheio de dióxido de carbono]. As mais afetadas são as crianças.
H. P.: Quais são as ações que o governo tem tomado para deter o fogo?
Y. M.: As ações que o governo tem tomado foram: fretar um avião supertanker [uma espécie de “caminhão pipa” dos ares], além de outros aviões leves para apagar o fogo; e, além disso, as forças armadas enviaram helicópteros. Porém, nada isso é suficiente para apagar as chamas.
H. P.: Qual é a sua opinião com relação ao fato de que as queimadas no Brasil sejam mais difundidas que as da Bolívia?
Y. M.: Eu acredito que o que nós estamos passando aqui não se compara com a situação que os brasileiros estão vivendo. Mas também precisamos que mundo saiba o que está acontecendo no nosso país. Afinal de contas, a Bolívia faz parte do mundo, e também abriga grande parte da Amazônia.
H. P.: O que vocês, como cidadãos, têm feito para ajudar a deter o fogo, se é que isso é possível?
Y. M.: Nós participamos de grupos voluntários e enviamos doações às regiões mais afetadas pelo fogo. As instituições públicas e privadas também estão participando. Até os estudantes estão se solidarizando com Roboré (uma das cidades mais prejudicadas pelas queimadas).
H. P.: Apesar dos terríveis danos que as queimadas vem causando, as autoridades mundiais ainda não juntaram esforços suficientes para acabar com o fogo. Qual é seu posicionamento sobre esse descaso?
Y. M.: Penso que, quando a natureza te entrega a conta por todo o dano que o ser humano causa ao planeta, não existem autoridades que possam ir contra a fúria dela. Perante esta catástrofe, só nos resta olhar para o céu e clamar pela misericórdia de Deus. E isto é algo que as autoridades devem entender, pois o seu poder é limitado, e nem com toda a ciência e tecnologia que esteja a sua disposição poderão evitar as consequências do dano feito ao planeta.
H. P.: Quais são as suas expectativas em relação ao fim das queimadas?
Y. M.: Que novas políticas sejam implementadas, como leis que proíbam os chaqueos [queimadas propositais iniciadas por agricultores, que tem como intenção limpar a área de cultivo] nos locais mais afetados e outras que incentivem a proteção ao meio ambiente.