A eterna polêmica de dormir com o bebê na mesma cama.
Natália Goes
A prática da cama compartilhada leva muitas pessoas a duvidarem se essa prática é benéfica ou não para o desenvolvimento da criança. Desde 2016 a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), recomenda que os menores de um ano durmam no quarto dos pais, durante a noite, mas em um berço ao lado da cama. Essa prática evita o risco da Síndrome de Morte Súbita do Lactente(SMSL), de sufocamento pelos travesseiros, lençóis e até mesmo pelo contato com o corpo dos genitores em sono profundo.
O que é a cama compartilhada e o breastsleeping?
A cama compartilhada é uma prática que é usada por muitas mães e pais devido a sua praticidade na hora de amamentar. Os pais, muitas vezes exaustos, optam por deixar o bebê dormir em sua cama por alguns fatores, como para que consigam descansar um pouco mais, para a segurança do bebê caso acorde durante a noite ou para tranquilizar o bebê.
Um antropólogo, pesquisador da Universidade de Notre Dame nos Estados Unidos, chamado James McKenna, estudou por 38 anos a cama compartilhada e trouxe à tona um novo conceito chamado breastsleeping. A palavra em inglês remete à “amamentação ao sono”. Em seu artigo, o autor incentiva a prática da cama compartilhada para facilitar os cuidados com o bebê e o descanso da mãe.
Vantagens e desvantagens
Os primeiros meses do nascimento do bebê podem ser bastante complicados para os pais. As vantagens da cama compartilhada incluem a praticidade, conforto e a amamentação prolongada. A praticidade se dá pelo fato de que, enquanto a criança mama, a mãe pode ficar adormecida.
O período do pós-parto pode ser bem complicado, e o conforto é fator importante principalmente para as mães que deram à luz por meio da cesárea. A pediatra Fernanda Catharino, diz que a “amamentação prolongada aumenta a produção de leite, segundo a Academy Breastfeeding Medicine(ABM) em seu protocolo 6 revisão de 2019”, afirma ela.
Entre as desvantagens em compartilhar a cama com o recém nascido está o risco de um sufocamento e estrangulamento, pois o bebê não tem os mesmos reflexos que um adulto e, caso se virem na cama e os pais estiverem em sono profundo, não conseguirão erguer a cabeça. Além disso, dormir sozinho pode ser mais difícil para o bebê, uma vez que as crianças se acostumam com a rotina e depois torna-se complicado perder o hábito.
Um artigo publicado no jornal americano Pediatrics, mostrou que, em relação ao risco de morte súbita, 69% dos 8.207 casos registrados nos Estados Unidos de 2004 a 2012, são de bebês falecidos na cama compartilhada.
Dependência emocional: mito ou verdade?
Alguns profissionais entendem que a independência e autonomia da criança ficam prejudicadas e que dormir com os pais pode gerar dependência emocional tanto para o bebê quanto para a mãe. Para a pediatra Mara Lasanha “a criança desenvolve uma dependência de permanecer com os pais. Quando o bebê cresce e vai dormir em outra cama, surge a dependência da genitora para o lactente. A mãe sente que está desprotegendo o bebê quando coloca ele para dormir em outra cama ou em outro cômodo. Isso compromete o relacionamento do casal, principalmente o sexual”, explica.
Cama compartilhada pode ou não pode?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria(SBP), não é recomendado a cama compartilhada e boa parte dos médicos pediatras seguem pelo mesmo viés. Entretanto, a SBP também recomenda que até os seis meses o bebê durma no quarto dos pais em um berço.
Segundo Mara Lasanha, a alternativa seria um berço acoplado à cama dos genitores, para aqueles que não querem se separar do bebe, mas tem medo de compartilhar a cama.
Como fazer uma cama compartilhada segura?
Apesar de não ser recomendado a cama compartilhada pelos médicos especialistas, é necessário entender a realidade das famílias. Maria Kristina, mãe de um bebê de 10 meses, relata que tem medo de dormir com o filho. “Sempre coloco ele no canto com medo do pai sufocar sem querer, mas é mais prático e muito bom dormir com ele”, relata.
Se mesmo com todos os alertas os pais, assim como a Maria Kristina, optarem pela cama compartilhada, algumas precauções precisam ser tomadas. Segundo a médica pediatra Fernanda Catharino, elas são :
- O bebê precisa dormir de barriga para cima e sempre utilizar a cama;
- Nunca dormir com adultos com efeito de álcool, drogas ou medicações sedativas;
- Nunca dormir com adultos fumantes;
- Dormir em um colchão firme, lençol bem preso, sem cobertas, sem travesseiro ou objetos que possam levar ao sufocamento;
- Nunca deixar o bebê sozinho na cama;
- O bebê não deve estar com outras crianças ou animais na cama;
- A criança não deve estar entre duas pessoas.