O vício em jogos de azar é reconhecido pela OMS como doença desde 2018 e exige tratamento.
Amanda Talita
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das “bets”, no momento em atividade no Senado Federal, tem desvendado uma crise silenciosa que impacta milhões de brasileiros: a ludopatia. A Organização Mundial da Saúde classificou a compulsão por jogos de azar como um distúrbio mental, atingindo mais de 3 milhões de brasileiros.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), com o boom das apostas online, o vício em jogos já rivaliza com o álcool e o cigarro e desafia a saúde pública do país.
A ludopatia não afeta apenas o indivíduo, mas também suas famílias e a sociedade como um todo. “É uma doença que está se alastrando e prejudicando crianças, adolescentes, adultos, idosos e todos os seus familiares, porque essa é uma dependência que não se restringe a prejudicar a pessoa; ela faz migração de classe social para baixo para famílias inteiras”, afirmou o presidente da ABP, Antônio Geraldo durante audiência na CPI.
Na mira da justiça
Com mais de 53 milhões de seguidores no Instagram, Virgínia é considerada uma das principais figuras na promoção de plataformas de apostas online. Durante a sessão, ela negou ter recebido comissões baseadas nas perdas dos apostadores, afirmando que seus contratos eram de valor fixo e que sempre alertava sobre os riscos do jogo. No entanto, reportagens indicam que cláusulas contratuais previam remuneração proporcional às perdas dos usuários que acessavam as plataformas por meio de seus links de divulgação.
A influenciadora teve uma postura bastante criticada durante a audiência, marcada por atitudes consideradas desrespeitosas e incompatíveis com a seriedade do ambiente. A falta de decoro gerou indignação tanto entre os parlamentares quanto na opinião pública, fortalecendo a percepção de descaso com a responsabilidade social.
Impactos reais
A psicóloga e hipnoterapeuta Brunna Dolgosky alerta que o problema cresce como uma “epidemia invisível”, afetando principalmente jovens que, muitas vezes, são atraídos por promessas de dinheiro fácil divulgadas por influenciadores e jogadores.
Segundo Brunna, os sinais da ludopatia são claros, mas muitas vezes ignorados: ansiedade, insônia, isolamento, dívidas ocultas e tentativas desesperadas de recuperar perdas financeiras. “O vício em apostas não é diversão, é uma doença silenciosa que destrói relações, carreiras e a saúde mental. Quem aposta busca, na verdade, uma falsa sensação de controle, quando, na vida real, sente que não tem controle algum”, afirma a psicóloga. Ela ainda defende mais regulamentação, educação digital e suporte psicológico como medidas urgentes para conter essa crise.
Diante da crescente preocupação com os impactos sociais das apostas online, o Senado aprovou, em 28 de maio de 2025, um projeto de lei que proíbe a participação de atletas, artistas, comunicadores, influenciadores e autoridades em anúncios de casas de apostas. A proposta, de autoria do senador Styvenson Valentim (PSDB-RN) e relatada por Carlos Portinho (PL-RJ), visa conter os efeitos negativos das apostas, especialmente sobre as camadas vulneráveis da população.