Preocupações e incertezas têm feito parte do cotidiano das pessoas em todo o mundo, e, consequentemente, na dos profissionais de saúde. Segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), no mesmo período de 2020, houve 226 mortes e 257 mil infectados, números que têm crescido em paridade com o total nacional atual de 11.693.838, conforme aferido pelo Ministério da Saúde. Rafaela Oliveira, enfermeira há nove anos na área assistencial, conta como tem sido sua experiência em meio a crise pandêmica. Especialista em UTI geral e MBA em gestão hospitalar, ela esclarece dúvidas sobre o assunto.
Ester Leite Silva: A pandemia exigiu uma mudança na rotina hospitalar?
Rafaela Oliver: Sim. A adequação de setores para atender pacientes específicos com a covid-19. Uso de máscara PFF-2 (melhor ajuste ao rosto), implantação e adequação de novos protocolos para tratar e prevenir a contaminação.
EL: Quais os transtornos causados?
RO: Estresse físico e mental. O emocional muito abalado por lidar com o desconhecido, equipes sobrecarregadas, falta de leitos, mudanças de protocolos e rotinas constantes para atender de forma mais assertiva. Segurar a emoção ao ter que falar com a família que acabou de perder o seu ente querido, cansada e lutando contra o tempo e vendo amigos contaminados ou, por vezes, intubados, mesmo jovens sem comorbidade alguma, atuando na linha de frente perderam as suas vidas em detrimento de outras. Atuando em conjunto com equipe médica, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem com olhos atentos aos monitores, parâmetros e controle dos sinais vitais.
EL: O seu tempo se resume ao trabalho hospitalar?
RO: De certa forma, sim. A rotina é intensa e exige muito de nós. Muitos plantões chegam acima 12h de trabalho.
EL: Como profissional, sente-se valorizada?
RO: Não. A enfermagem precisa ser mais valorizada por tudo que enfrenta. A atividade é altamente insalubre e, por vezes, o salário não é adequado em determinadas regiões e instituições, levando profissionais a abdicarem de momentos em família para trabalhar em dois ou três locais.
Deveria haver um olhar mais humano por parte de nossos governantes, entendendo que a enfermagem é o coração do hospital e, sem ela, a engrenagem não funciona.
EL: UTI. Qual a sua sensação ao entrar nela?
RO: Sentimento de empatia. Saber que ali tem vidas e familiares envolvidos. A sensação é: tristeza, incerteza e impotência por estarem lotadas, sem leitos, pacientes entubados e pronados.
EL: Como Rafaela fora do hospital tem cuidado de si?
RO: Deus em primeiro lugar, (a Ele entrego diariamente meu dia), família, plantões e equipe. Leio livros, estudo sobre inteligência emocional, como lidar em situações de conflitos e fortalecimento da equipe de trabalho. Faço atividade física e saída consciente.
EL: Qual seu recado aos nossos leitores?
RO: Que continuemos crendo. Saber que nesse momento estamos fazendo a diferença na vida de alguém. Que acima de tudo tenhamos fé, com um caminho longo a percorrer, dias melhores virão!