Produção em queda, demanda em alta e desafios climáticos elevam o preço do café e impactam consumidores e produtores.
Isabella Maciel
A tradicional xícara de café, indispensável na rotina de muitos brasileiros, está cada vez mais cara. A queda na produção nacional, aliada à alta demanda global e às variações climáticas, fez os preços dispararem.
Produção em queda e impacto global
O Brasil, maior produtor mundial de café, enfrenta uma queda de 4,4% na safra de 2025, segundo projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A produção deve atingir 51,8 milhões de sacas de 60 kg, reflexo direto de problemas climáticos e do ciclo de baixa bienalidade.
A redução é ainda maior para o café arábica, que pode sofrer uma queda de 12,4%, enquanto as plantas do café conilon/robusta tem projeção de crescimento de 17,2%. A seca prolongada e outras adversidades climáticas impactaram a produtividade de regiões como Minas Gerais, responsável por 24,8 milhões de sacas, uma redução de 11,6% em relação ao ano anterior.
Para João Kennedy, produtor de café em Campo Belo (MG), os desafios climáticos não são novidade. “O que está acontecendo com o café hoje é um reflexo de problemas que já vêm acontecendo há cerca de cinco anos. Tivemos problemas com chuva de pedra, geada e seca. Essa safra, que seria uma safra cheia, teve uma produção 50% menor ou mais”, relata.
A escassez da oferta somada ao aumento do consumo global – que cresceu mais de 100% na Ásia na última década – contribui para a valorização do grão no mercado internacional. Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o país exportou 36,94 milhões de sacas em 2024, um recorde histórico.
Fatores econômicos por trás da alta
A alta no preço do café não é apenas um reflexo da queda na produção. A economista Patrícia Nasi Sandes explica que outros fatores também influenciam. “Temos a variação climática, a diferença entre oferta e demanda, o aumento do consumo e a inflação interna no Brasil. Além disso, a saca de café é precificada na bolsa de Nova York é impactada pela cotação do dólar”, destaca.
A inflação interna e a carga tributária também pesam sobre o consumidor. “O café paga mais de 16% de impostos. Além disso, a inflação e a alta do dólar aumentam os custos de produção e distribuição. Como o Brasil vendeu praticamente toda a produção de 2024 para o mercado externo, os estoques internos estão reduzidos, o que pressiona ainda mais os preços”, acrescenta a economista.
Impactos para produtores e consumidores
Apesar da valorização do grão, os produtores enfrentam desafios. “Os preços altos ainda não foram sentidos pelos produtores porque muitos não têm café em estoque. Quem tem, não está vendendo, pois as cooperativas não repassam integralmente a valorização do mercado internacional”, afirma João Kennedy. O resultado é um mercado incerto, no qual a escassez gera um ciclo vicioso de preços elevados.
Francisco Pena, produtor em Guaxupé (MG), ressalta a imprevisibilidade do setor. “O custo de produção é mais previsível, mas o preço de venda não. Como a produção depende de fatores climáticos, não podemos vender muito no futuro, pois se houver quebra de safra, não teremos produto para entregar”, explica.
Já para o consumidor final, o aumento do preço afeta diretamente o orçamento. Com o café mais caro nas prateleiras, cafeterias e estabelecimentos que utilizam o produto também sofrem impactos.
Patrícia Sandes alerta para possíveis consequências econômicas mais amplas. “A cadeia produtiva do café envolve desde a colheita até a exportação, passando por indústrias, transporte e varejo. O aumento no preço pode afetar empregos e a economia de municípios que dependem dessa produção”, afirma.
O futuro do café
A tendência para os próximos anos é de manutenção dos preços elevados. “A produção de café leva de dois a três anos para se recuperar de adversidades climáticas. Portanto, podemos esperar um período prolongado de preços altos”, analisa João.
Já Patrícia Sandes acredita que, apesar da valorização, há sinais de estabilização. “A medida que a oferta voltar a crescer e o mercado ajustar seus estoques, os preços podem se acomodar. Porém, fatores como a cotação do dólar e novas variações climáticas continuarão a influenciar a precificação”, ressalta.
Enquanto o cenário se desenha, consumidores e produtores devem se adaptar. Seja buscando alternativas para economizar ou planejando estratégias de venda, o café segue sendo um dos produtos mais importantes da economia brasileira – e, claro, das mesas de milhões de brasileiros.