Estudo indica que o círculo social das pessoas diminui conforme elas envelhecem.
Raíssa Oliveira
Você sente que conforme o tempo passa fica difícil fazer amizades e manter as que já tem? Um estudo divulgado pela National Library of Medicine observou esse fenômeno recorrente e concluiu que o círculo social tende a diminuir conforme as pessoas envelhecem. Geralmente as pessoas possuem mais amigos aos 25 anos de idade, mas após essa fase da vida, é comum que entrem em uma queda gradual nos relacionamentos de amizade.
A publicitária e criadora de conteúdo, Jeska Grecco, tem 36 anos de idade e sentiu que a vida de todos do seu círculo social começou a mudar depois dos 30 anos. Ela comenta que “muitos amigos voltaram para as suas cidades, tiveram filhos e trabalhos com horários mais exaustivos. As prioridades mudaram e as amizades foram ficando de lado. Para marcar de ver começou a ser algo mais difícil e menos espontâneo do que quando eu era mais nova”.
Também com 36 anos, Bárbara Ferreira é esteticista e criadora de conteúdo e relata sobre a dificuldade de fazer amizades após seus 30 anos. “O amadurecimento e autoconhecimento te fazem perceber o que você realmente gosta e quem realmente é, isso já separa você de algumas pessoas. A falta de tempo, prioridade e reciprocidade também é um fator”, explica.
Por que isso acontece?
A psicóloga Pietra Galiano explica esse fenômeno. Ela conta que crianças e adolescentes têm mais facilidade em fazer ou manter amizades, já que possuem mais tempo disponível e frequentam os mesmos ambientes por muito tempo. Porém, a situação muda na vida adulta, já que as pessoas possuem menos tempo por conta do trabalho, relação romântica e filhos.
A profissional entende que “o que antes era muito natural, porque era muito fácil e orgânico, na vida adulta exige esforço. E muitas pessoas não estão acostumadas com isso porque veem amizade como sendo algo natural, quando não, era o contexto e aquele ambiente que propiciava isso”. Sendo assim, Galiano enxerga essa dificuldade como resultado das mudanças na vida das pessoas, que já não têm tanto tempo disponível para cultivar amizades como tinham antes.
De acordo com as suas experiências, Bárbara não acredita que a falta de tempo justifique a negligência nos relacionamentos, e sim falta de prioridade, que é um direito da pessoa, mas que ninguém é obrigado a aceitar. “Mesmo com a rotina puxada, a gente sempre consegue separar tempo para o que é prioridade, mas o fato de eu perceber que a amizade não era prioridade para as outras pessoas, me fez largar de mão também”, opina a esteticista.
Home office
Galiano também destaca a pandemia como um fator agravante desse contexto de amizades na vida adulta, já que muitas pessoas adotaram o modelo de trabalho em home office e isso mudou muito a relação e contato diário com as pessoas.
Jeska percebeu esse impacto da pandemia e home office nas suas relações interpessoais. “Eu trabalho de casa e como criadora de conteúdo e isso já faz com que eu tenha menos contato com pessoas, eu não tenho aquele grupo de amigos do trabalho e isso fez muita diferença para mim pessoalmente. Sinto também que a pandemia agravou muito e acelerou muita coisa, muitas mudanças e essa falta de iniciativa de manter uma amizade”, menciona.
Como lidar com amizades na vida adulta?
Bárbara diz que antes sentia desconforto e uma sensação de estar perdida, mas agora lida muito bem com esse assunto e que aprendeu a ser sozinha, usando seu tempo para cuidar de si mesma e cultivar novos hobbies. “Eu aprendi a ser sozinha e nos últimos anos aprendi a gostar disso, então não faço questão de quem não faz questão de mim. Uso o meu tempo pra me desenvolver, focar nos meus projetos e sonhos, sou do time que qualidade é melhor do que quantidade”, afirma.
“Agora só tenho tempo para quem agrega algo na minha vida, pessoas que fazem questão de mim na mesma proporção que eu faço questão delas. A gente se torna mais seletiva e já não fica perdendo tempo com pessoas que não combinam e não agregam em nada. Só tive benefícios nesse processo”, finaliza Bárbara.
Já Jeska entende que o ritmo de cada pessoa é diferente, porém, é necessário um esforço para se fazer presente. “Nem sempre é fácil porque a gente deixa a vida e a rotina engolir a gente, mas perguntar como meus amigos estão e estar disposta a ouvir, muda tudo. Hoje eu sinto que preciso me esforçar mais pra fazer isso, mas sou muito feliz em conseguir manter minhas amizades e conseguir criar novas com novos círculos de amizade”, comenta Jeska.
Mesmo com dificuldades, a psicóloga ressalta a importância das amizades na vida adulta e explica que as pessoas têm necessidade de pertencer e relações positivas e seguras além dos relacionamentos românticos. “A gente tem que se colocar em espaços para fazer isso, aconselho ir em uma aula de dança, se matricular em algo onde encontre presencialmente essas pessoas que já tenham algum interesse em comum contigo, por exemplo”, esclarece.
“Também falo muito da disponibilidade interna, porque não adianta ir nesses lugares e não estar disposta em conhecer novas pessoas e se mostrar interessada na vida delas para realmente investir”, finaliza a psicóloga.