Escolinha de futebol melhora saúde de crianças e adolescentes

In Esportes, Saúde

O programa socioeducativo “Gol de Esperança” também utiliza o esporte para promover cidadania e educação.

Gabrielle Ramos

Desde os 14 anos, todas as segundas e quartas-feiras, João Victor Cardoso se preparava para as aulas de futebol na escolinha “Gol de Esperança” em Natal, Rio Grande do Norte. O projeto, que conheceu por indicação de amigos, até hoje, dois anos depois, continua fazendo parte da sua vida.

O projeto “Gol de Esperança” é uma escolinha de futebol que busca promover saúde, cidadania e educação para crianças e adolescentes entre 7 e 15 anos em situação de vulnerabilidade social. Funciona no contraturno escolar e, no Nordeste, está localizado em três cidades: Natal, Parnamirim e Queimadas, atendendo cerca de 150 meninos e meninas.

No Brasil, pelo menos 32 milhões de crianças e adolescentes vivem na pobreza, o que representa 63% deste público, segundo a pesquisa divulgada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Há cinco anos, o programa busca melhorar a qualidade de vida das crianças e adolescentes inseridas nessa realidade. “Além de promover saúde, o projeto desenvolve o trabalho em equipe, a disciplina, socialização entre eles e melhora da convivência familiar”, explica Erinaldo Costa, diretor do núcleo nordeste da ADRA, Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais, responsável pelo projeto.

Realidade vulnerável

Ângelo do Carmo, que foi jogador profissional de futebol por 19 anos, participa do projeto desde 2019. Inicialmente, atuou como auxiliar nas aulas e, hoje, é professor da escolinha de futebol em Natal. “Fico muito feliz quando chegam os dias das aulas, pois estou nesse projeto com imenso prazer”, afirma.

Alunos de Ângelo em Natal, Rio Grande do Norte. Foto: Acervo Gol de Esperança/ Reprodução

Ângelo explica que as aulas são realizadas em um bairro periférico, controlado por traficantes, onde o acesso a drogas muitas vezes é facilitado para crianças e adolescentes. Em uma de suas aulas, encontrou alunos fumando. Por isso, além de incentivá-los a sonhar com uma carreira no futebol, trabalha para afastá-los desta realidade.

Esse mesmo contexto é encontrado na escolinha de futebol de Parnamirim, Rio Grande do Norte. “A maioria das nossas crianças e adolescentes enfrenta uma situação financeira bem crítica, mas, enquanto participam dos nossos projetos, ficam menos vulneráveis às drogas e bebidas”, explica Priscilla Karla de Oliveira, diretora do núcleo da ADRA de Nova Parnamirim, bairro da cidade.

Estímulo saudável

Durante as aulas de futebol, que acontecem às segundas e quartas-feiras, os alunos desenvolvem a coordenação motora, capacidade cardiorrespiratória, velocidade e flexibilidade por meio das atividades realizadas.

Essa experiência esportiva na infância e adolescência traz benefícios para a saúde como um todo. “A atividade esportiva permite a aprendizagem de diferentes habilidades, auxilia em termos de percepção corporal e desenvolvimento da psicomotricidade”, afirma a psicóloga esportista Betina Vidal.

Escolinha promove torneios internos. Foto: Acervo Gol de Esperança/ Reprodução

Além disso, “participar de um time de futebol os ensina a trabalhar juntos, a confiar nos colegas de equipe e a entender o valor da colaboração para alcançar um objetivo comum”, explica a educadora física e psicóloga clínica e esportiva, Thayz Figueiredo.

A psicóloga Betina complementa que o esporte também incentiva o aperfeiçoamento de habilidades sociais importantes para a construção da identidade e do senso de pertencimento. Isso contribui para o desenvolvimento cognitivo, melhora a autoestima e favorece uma maior regulação emocional.

A prática esportiva estabelece uma rotina que é fundamental para criar estabilidade, responsabilidades e disciplina. “O esporte acaba sendo uma plataforma que pode vir a influenciar mudanças de vida para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade”, enfatiza Thayz.

Benefício além das quadras 

A diretora relata que muitos pais mencionam que seus filhos são agressivos em casa. Mas as regras disciplinares da escolinha, como a proibição de palavrões, somadas aos aconselhamentos durante os intervalos dos treinos, têm um impacto positivo no comportamento deles. “Os pais nos dão retorno, sempre agradecendo pelo trabalho e a transformação dos seus filhos”, comenta.

Alunos de Queimadas, Paraíba, celebram cinco anos do projeto. Foto: Acervo Gol de Esperança/ Reprodução

É por isso, que na visão do professor, o projeto Gol de Esperança é fundamental para estas crianças e adolescentes. “A prática do exercício físico ajuda a saúde deles, mas, além de ensinar a jogar futebol, nos preocupamos a ensinar os alunos a serem cidadãos de bem, trabalharem em equipe e respeitarem uns aos outros”, afirma.

Um aprendizado que continua

Ângelo explica que, frequentemente, os alunos chegam à escolinha com pouco conhecimento sobre o esporte. Mas, com o tempo, muitos já participaram e venceram campeonatos e torneios. “É gratificante ver a evolução deles”, garante.

Esse é o caso de João Victor, que, após ter participado dos treinos coletivos e gostado de escutar as histórias do professor sobre sua carreira como atleta profissional, se tornou auxiliar na escolinha em Natal. “Não é um projeto voltado apenas para o futebol, ele ensina muitas lições valiosas sobre a vida”, afirma o auxiliar.

Escolinha em Parnamirim, Rio Grande do Norte coleciona prêmios. Foto: Acervo Gol de Esperança/ Reprodução

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