França cria lei para proibir embalagens plásticas no fast-foods

In Geral, Meio Ambiente

Além de alterar as embalagens, objetivo é acabar com o descarte de plástico até 2040.

Gabrielle Ramos Venceslau 

A França removeu todas as embalagens plásticas descartáveis usadas nas refeições em restaurantes. Essa medida, que se iniciou neste ano por meio da lei antirresíduos, visa evitar o uso de plástico na indústria de alimentos e consequentemente reduzir o lixo no país. 

No país, os fast-foods geram cerca de 180.000 toneladas de lixo, sendo um dos ramos de alimento que mais poluem o meio ambiente, segundo ONGs especializadas em artigo do Journal du Dimanche. Ao longo do ano, são cerca de 6 bilhões de refeições servidas com o uso completo de descartáveis. 

Com a lei, a Agência Francesa de Meio Ambiente e Gestão de Energia (Ademe) estima que aproximadamente 130.000 toneladas de resíduos sólidos não sejam desperdiçadas. Mas o cumprimento efetivo da medida terá um prazo de no máximo dois anos para a adaptação das empresas. 

Conheça a lei francesa

Em 2020, o governo do presidente francês Emmanuel Macron criou um plano visando uma economia mais sustentável. A partir disso, o país abandona o uso de descartáveis e embalagens plásticas na indústria de alimentos por meio da lei antirresíduos. 

Em 2021, as garrafas plásticas foram vetadas em estabelecimentos e eventos públicos. Em 2022, embalagens para frutas e vegetais deixaram de usar plástico e a venda desse material descartável também foi proibida. 

Essas ações conjuntas ao longo dos anos visam o fim definitivo do plástico descartável, meta que está prevista para 2040, segundo a lei. “É uma medida concreta que fará com que os franceses recordem a importância do meio ambiente em sua vida cotidiana”, afirma o ministro francês do Meio Ambiente, Christophe Bechu.

Na prática

Após a medida entrar em vigor, o McDonald’s trocou as embalagens de batatas fritas tradicionais por peças de borracha vermelha, que são laváveis e reutilizáveis. Contudo, essa mudança produziu um impacto econômico para a empresa, uma vez que essa substituição gera novas contratações e treinamento de pessoas para lavar os recipientes. Segundo uma estimativa feita pelo jornal Financial Times, esse gasto pode chegar até 15 mil euros (cerca de R$ 83 mil) por loja.

Além disso, alguns clientes levavam as embalagens para casa. Isso causa uma reposição frequente do material, que despendia mais dinheiro. Para contornar a situação, outra empresa que sofreu com o mesmo problema, o Burger King, passou a cobrar um valor por embalagem, que é estornado ao cliente quando o mesmo devolve o recipiente. 

O biólogo e coordenador do Movimento Brasil Livre, Lucas Arjona, explica que no Brasil, essa medida é inviável, pois as prioridades dos franceses e brasileiros são diretamente diferentes. “O banimento dos descartáveis, muitas vezes, força os estabelecimentos alimentícios a usarem alternativas mais caras que encarecem também o produto final, o que tende a causar revolta na população”, explica.

Oposição

Apesar dessa medida ser benéfica para o meio ambiente, alguns críticos refletem sobre as mudanças feitas no processo da adesão, que muitas vezes, na visão deles, não faz sentido. De acordo com um estudo da associação European Paper Packaging Alliance (EPPA), a quantidade de água e energia que serão gastas para lavar e secar esses recipientes desencadeia 280% a mais de emissão de carbono em comparação com as embalagens de uso único. Ou seja, em alguns aspectos os produtos descartáveis são menos prejudiciais ao meio-ambiente que as embalagens substitutas.

Para o biólogo, tendo em vista a grande dificuldade em se reciclar plástico, o que se espera é priorizar os do tipo que podem ser reciclados pelo menos quatro vezes. Entretanto, o cenário atual prioriza a substituição desse material de menor qualidade pelos de maior qualidade, para elevar a vida útil do produto. “Questiono a sustentabilidade disso quando pensamos que a menor forma degradada do plástico que conhecemos já foi encontrada na placenta humana e em águas remotas sem presença antrópica”, reflete Lucas. 

Sustentabilidade ao redor do globo

Embora essa medida seja restrita ao território francês, a Comissão Europeia está analisando para aplicar essa lei em toda a União Europeia. Além disso, países de outros continentes também se comprometeram a diminuir a emissão de gases de efeito estufa em 40% até 2030 por meio do Acordo de Paris. Dentre os países que assinaram o acordo em 2015 está o Brasil, que se comprometeu a reduzir até 2030 as emissões em até 43% no país.

No entanto, o biólogo afirma que o Brasil não tem feito muito para reduzir o descarte de plástico. “Enquanto nossos esforços estiverem voltados a soluções mágicas como simplesmente proibir o uso de descartáveis e não em buscar soluções financeiramente e ecologicamente viáveis a eles, estaremos presos na atual areia movediça”, expõe. 

Na visão dele, o apreço ao próprio bolso pode ser um importante motor para a conservação ambiental. Além disso, usar a educação do meio ambiente nas escolas pode ser primordial para o desenvolvimento de soluções acessíveis. “Assim, teremos um ambientalismo eficiente e que não esteja alienado à realidade e necessidades das pessoas”, conclui.

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