Pesquisas científicas divergem sobre o assunto e jogadores opinam nas suas redes sociais.
Raíssa Oliveira
O gramado sintético e o seu impacto no desempenho dos jogadores é um assunto que gera polêmicas no futebol brasileiro. Esse debate sempre retorna através de torcedores, técnicos e jogadores quando os jogos acontecem em estádios de campo artificial, como os estádios do Palmeiras, Botafogo e Athletico Paranaense. Seguindo essa tendência, o Atlético Mineiro está reformando a sua arena para também aderir ao sintético.
Uma pesquisa divulgada em 2023 pela revista científica inglesa The Lancet, analisou mais de mil estudos sobre o assunto e concluiu que o campo sintético não aumenta a incidência de lesões, pelo contrário, os gramados naturais apresentam maior risco à saúde dos atletas.
Em contrapartida, um estudo da UEFA indica que, embora a incidência de machucados seja semelhante entre os dois tipos de campo, o natural favorece lesões musculares, enquanto o sintético proporciona lesões ligamentares mais sérias com um tempo maior de recuperação.
Gramado sintético
Enquanto estudos científicos divergem sobre os riscos do campo sintético e nada é definido, atletas renomados como Lucas Moura, Neymar e Yuri Alberto protestaram contra o campo sintético em suas redes sociais no mês passado, enfatizando que o futebol profissional deve ser jogado em gramado natural. O texto da postagem publicada pelos jogadores afirma que caso o Brasil queira se consolidar como um protagonista no futebol mundial, a qualidade do gramado deve ser uma prioridade.
O atleta profissional Kaue Carvalho reflete que o gramado artificial é mais propício às lesões de joelho e é mais duro, exigindo um jogo mais rápido e um melhor condicionamento físico. “O time que eu jogava tirava bastante vantagem das outras equipes pelo gramado sintético, a gente conseguia jogar e estar à frente dos adversários, pode prejudicar a equipe visitante e favorecer a equipe mandante que já está adaptada ao campo sintético”, lembra o jogador.
Douglas Ramos é preparador de goleiros e não acredita que o sintético aumente as lesões, mas entende que pode atrapalhar a velocidade da bola no jogo. Além disso, ele afirma que “de modo positivo, o tapete sintético de boa qualidade consegue diminuir a probabilidade de terra, falhas e buracos serem vistos no campo de jogo. Entretanto, pensando em esporte de alto rendimento, acredito que o futebol deve ser praticado na grama natural, onde foi criado e onde os artistas desse espetáculo gostam de mostrar as suas habilidades”.
Fora do Brasil a história é outra
Os clubes dos principais campeonatos do futebol europeu utilizam grama natural ou híbrida nas suas arenas. A Espanha não proíbe o uso de grama sintética, porém, incentiva e define regras para a manutenção dos gramados dentro de um padrão de aceitação para a La Liga. No campeonato nacional italiano, nenhum time das principais divisões utiliza grama artificial em seus estádios, exceto o estádio do Cesena, que participa da segunda divisão e possui o campo totalmente sintético. França, Alemanha e Holanda vetaram o uso do piso artificial em seus principais campeonatos.
O jogador Erik Menezes é atleta do Al Ain, equipe dos Emirados Árabes. Ele destaca que os clubes do campeonato que disputa contam com campos naturais de alta qualidade em seus estádios e que esse debate é irrelevante no contexto em que está inserido. De acordo com sua experiência, analisa que “o sintético tem que ser estudado de uma forma bem individual e com um cuidado muito grande, ele precisa ser híbrido, porque totalmente sintético é muito ruim de jogar. Eu treinei a vida inteira nas categorias de base do Internacional, no gramado sintético completo, e hoje eu já sinto muitas dores nos tendões e na parte das articulações”.
O espetáculo precisa continuar
A preferência pelo gramado natural é unânime entre os entrevistados. Kaue argumenta que “é muito melhor para o espetáculo, para o desempenho do jogo, para evitar lesões também. Eu acho que o futebol é atrativo para a gente conseguir desempenhar o melhor em campo e proporcionar isso para o telespectador, porque hoje em dia o futebol é um entretenimento”. Erik justifica que “a qualidade e velocidade do jogo é melhor e nós já estamos acostumados a isso, além de ser melhor para a saúde do atleta, eu escolho totalmente a grama natural.”
“É melhor deixarmos o campo sintético para as peladas de finais de semana e continuarmos exigindo melhores campos de gramados naturais para que o espetáculo continue em alta”, finaliza o preparador físico.