Estratégias em meio à pandemia para uma educação de qualidade
Samuel Matheus
O ensino a distância em meio a pandemia tem sido a única opção para educação no Brasil. Alunos e professores estão sendo desafiados para se adequarem neste “novo normal”. Nas aulas presenciais as escolas proporcionam toda estrutura física para as aulas. No EAD (ensino à distância) o contato do professor com o aluno se perde. A aula depende deste retorno.
As aulas a distância não permitem ter esse tipo de reação. Há aqueles alunos que deixam as câmeras e microfones desligados. Logo, este tipo de ensino é um desafio para o professor. Nesta nova forma de trabalho, a Professora Ellen Pinho (41), bacharel e licenciada em Matemática pela Universidade de Santo Amaro (UNISA) e mestranda pela Instituto Federal de São Paulo (IFSP) comenta: “O professor se sente desafiado quando precisa sair de sua zona de conforto. A atenção é um desafio no ensino a distância. É uma nova forma de trabalhar”.
Todos os níveis de educação foram afetados pela COVID-19. Desde o ensino infantil até o doutorado foram impactados pelo ensino virtual. Cativar os alunos é um desafio para qualquer professor. Entretanto, no EAD, sempre haverá variáveis. O professor não consegue prever se o aluno está ou não participando de suas aulas. Não há conhecimento se o aluno está em um ambiente tranquilo, ou está em um quarto, escritório. Diante disso fica a incógnita do que fazer perante estas variáveis.
Cativar os alunos demanda tempo. Ellen explana que “o professor precisa dar atenção para cada aluno. Quando eu proponho uma pequena participação e o valorizo mesmo estando errado, o aluno se sentirá motivado”. Há diversas formas de conquistar o aluno. “Não é somente um sorriso, o aluno precisa de elogios, desafios e assuntos interessantes e que não sejam difíceis. O cativar é um recadinho, uma preocupação”, explica a professora.
A famosa lousa verde de giz ou a inovadora lousa branca foi transportada para a lousa digital. Agora, professores estão usando recursos como Power Point, Word e, Excel. O estudante está acostumado com o Power Point, porém para os cálculos é necessário a mesa digitalizadora com a lousa virtual.
A professora Gleice Kelen Dornelles (38), formada em licenciatura em física pela Universidade Federal de Santa Maria – RS e mestre em Ensino de Ciências pela USP relata seus métodos de educação. “Eu uso o Power Point e simuladores que são aplicativos online gratuitos produzido por universidades onde podemos acessar de forma mais lúdica”, diz. Por meio dessas plataformas o aluno pode ter uma melhor interação visual quanto ao conteúdo.
Gleice comenta que “como brasileiros, não temos a cultura do estudo individual, ou seja, aquele momento a sós em casa ou outro local que é necessário para avaliar a aprendizagem. Muitas vezes os alunos se restringem ao momento de estudo apenas na escola.” A professora acrescenta que “quando você pede em sala de aula para fazer uma atividade, estás ali próximo observando. Em casa não sabe se ele está fazendo atividade naquele momento”.
Em entrevista, a professora de física citou uma frase de um famoso professor chamado Pierluigi Piazzi. Em sua biografia no Wikipédia, ele é considerado um dos nomes mais influentes na ficção científica do Brasil. A frase é: “aula dada hoje, aula estudada hoje”. A professora termina dizendo que é “sempre bom recapitular o que aprendeu de manhã no estudo da tarde. Eu sempre recomendo vídeo aula na plataforma da instituição caso tenham alunos que não compreenderam determinado assunto”.
O professor Daniel Luiz de Carvalho (62) bacharel em Química Tecnológica pela UNICAM-SP e licenciado em Química pela UNIB-SP criou métodos de ensino e algumas estratégias de instrução. “Tenho bons resultados em alguns temas com a ‘sala de aula invertida’, em que os alunos pesquisam antes da aula o que será estudado nela. Interessam-se por enquetes (quizzes) e gostam de explicar o que sabem sobre o assunto” comenta o professor. Na área de exatas, a disciplina de química, por exemplo, é uma matéria que exige muito esforço e dedicação para compreensão. O professor salienta que “para o aprofundamento de conteúdo ou para reforço dos alunos que apresentam desempenho insatisfatório na disciplina, há aulas extras.”
A pauta deste grande desafio que milhares de pessoas estão enfrentando é a qualidade de ensino. Muitas escolas estão buscando investir em recursos na tecnologia para que os professores tenham todo amparo necessário para ensinar. Qualidade de ensino é proposta para aquele professor que consegue alcançar todos. Na maioria das vezes será difícil alcançar 100% da turma. Porém, o professor quando tem força de vontade consegue alcançar uma equidade. Cada aluno no seu ritmo e todos conseguirão aprender.
Para que o professor tenha êxito em transmitir o seu conteúdo e o aluno receba as matérias expostas é necessário disciplina e dedicar tempo para o estudo. O educando precisa encontrar um horário fixo para estudar. Este horário deve ser uma regra, pois a rotina é importante. Além de qualidade é preciso ter treino e fazer as atividades com capricho e intencionalidade.
Nestes dias improváveis onde não se faz mais planos em relação aos estudos, o estudante precisa se concentrar no hoje. Ler com carinho, nunca deixar as coisas para depois e se antecipar nos prazos são estratégias que irão auxiliar o aluno em sua rotina de estudos. Dentro deste contexto pandêmico na educação, três alunos do ensino médio apresentaram sua rotina com o ensino a distância.
Alunos do Ensino Médio
Adriel Campos (14) está no primeiro ano do ensino médio em uma escola pública em Minas Gerais. Ele já faz planos após a formatura do terceiro ano. Ele quer prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e ingressar na faculdade de Direito. Por decisão própria, influência de um advogado da família e do irmão que está cursando Direito, ele quer seguir nessa profissão.
Ninguém esperava por essa pandemia. Mesmo com o ensino a distância, Adriel usa alguns métodos de estudo. Ele sempre relê os conteúdos passados pelos professores. Adriel comenta que lê três vezes a mesma matéria para fixar bem o assunto em sua mente. O jovem comenta que se afasta de todas as distrações, “eu tento ao máximo me dedicar e ficar concentrado e não deixo as matérias se acumularem, pois se não fica uma bola de neve. Então, assim que lança uma atividade, eu vou lá e faço para não acumular”, finaliza o estudante.
Adriel sempre foi dedicado em Matemática, pois sempre teve mais facilidade. Em 2019 ele ganhou uma medalha de bronze na OBMEP – Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Logo, no ensino a distância na área de exatas, especificamente em Matemática, ele está se dando bem.
Roberta Pedrosa de Souza Sales (15) também está no primeiro ano do ensino médio e já tem muitos planos após sua formação. A jovem estuda em um colégio particular em São Paulo. Ela tem um sonho de ser cirurgiã cardiovascular. Por isso, quando terminar o ensino médio irá fazer um ano de cursinho para depois ingressar no tão sonhado curso de Medicina.
Com o sonho dentro do seu coração, o ensino a distância não frustrou seus planos de estudo. A jovem gasta muito tempo e dedicação nos estudos. Roberta (15) comenta sobre sua rotina: “Na parte da manhã todinha, fico na aula on-line, no período da tarde eu faço meus deveres, lições e trabalhos.” Não é qualquer aluno que se adaptou com o ensino a distância. No caso de Roberta foi diferente. “Eu me adaptei bem nesse estudo EAD. Têm outras pessoas que não se deram bem. Eu consigo aprender. Dependendo da matéria consigo aprender melhor do que no presencial”, reforça.
Vinicius Almeida Carneiro (17) está no terceiro ano do ensino médio e estuda em um colégio interno no interior de São Paulo. Diferente dos outros dois alunos, estuda e mora no colégio (internato). Após a formatura, o jovem estudante tem planos de servir ao Exército Brasileiro ou passar uma temporada fora do país para aprender um novo idioma.
O formando comenta que ainda está difícil decidir qual carreira ingressar, porém pensa em fazer Administração ou Psicologia. Algo interessante nesta pandemia é a rotina de estudos que o colégio interno proporciona aos alunos. “Como eu moro em internato, aqui é dividido por tempos de estudo, estes horários aproveitamos para estudar, revisar e fazer tarefas”, enfatiza o estudante.
Tanto aluno quanto professor foram afetados pelo sistema virtual de ensino. Jeanine Batista Veridiano (52) é diretora de uma escola particular no Vale do Ribeira em São Paulo. A pedagoga contou sobre sua reação ao ensino a distância. “Percebi que os professores tiveram que atuar com muito mais cuidado. Eles que tinham habilidades de estar com os alunos, tiveram que aprender a serem quase Youtubers. O ensino online aprimorou nossas capacidades. Por meio delas buscamos mais formas de sermos criativos e de envolvermos os alunos”.
Professor ou aluno. Mestre ou aprendiz. Educador ou educando. Todos a cada dia ao ligar a tela do computador têm a oportunidade de criar métodos e ferramentas de estudo. Por fim, isso irá impedir que os problemas na educação por causa da corona vírus afete seu futuro profissional e acadêmico.