Essa pode ser a terceira vez desde 1950 que há um episódio triplo de La Niña de acordo com a Organização Meteorológica Mundial.
Julia Viana
O fenômeno natural La Niña consiste no resfriamento específico das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou que existe o risco de em 2022 ter o terceiro episódio consecutivo do fenômeno climático, podendo produzir consequências para a circulação geral da atmosfera.
O La Niña é considerado ativo quando as águas do Pacífico ficam mais geladas que o normal por um tempo prolongado. Teve seu início em setembro de 2020, assim, se durar até o final deste ano o La Niña atingirá três invernos seguidos. A OMM avaliou que há uma chance de 55% de que o evento continue acontecendo até fevereiro de 2023.
La Niña e El Niño
Segundo o site AgroSmart, eles são partes de um mesmo fenômeno chamado de ENOS (El Niño Oscilação), sendo anomalias da superfície do oceano e da circulação atmosférica. Enquanto o El Niño consiste no aquecimento anormal do Oceano Pacífico Equatorial, a La Niña provoca o inverso, o resfriamento do Pacífico Equatorial.
No entanto, de acordo com as Nações Unidas, esses processos não são necessariamente resultado das mudanças climáticas, pois são fenômenos naturais que ocorrem no globo há milhares de anos. Os cientistas vêm trabalhando na hipótese de que os eventos estão se tornando mais frequentes e intensos devido ao comportamento humano.
Segundo o diretor-geral da OMM, em nota para o site da ONU, Petri Taalas, o resfriamento causado pelo La Niña não significa que o aquecimento global esteja desacelerando. Ele explicou que o efeito retardou temporariamente o aumento das temperaturas globais, mas não interromperia ou reverteria os efeitos de longo prazo.
Impactos no Brasil e no mundo
O agrometeorologista da Rural Clima, Alexandre Nascimento, na live em discussão sobre o La Niña, fala que o principal efeito no Brasil no período de inverno e primavera seria deixar a chuva abaixo da normalidade (no sul, sudeste e centro-oeste). Já no verão e outono se observam chuvas acima da média no baixo nordeste e frio maior do que o normal no sul e sudeste.
Segundo pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) o evento vem deixando as temperaturas mais amenas e clima seco no sudeste e centro-oeste e pode ocasionar uma das maiores estiagens dos últimos 30 anos no Pantanal. A seca no centro-oeste pode agravar a maior parte dos seus incêndios.
No início deste ano houve chuvas intensas no sudeste na cidade de São Paulo. O La Niña provocou alagamentos e derrubou as temperaturas, provocou variações bruscas de temperatura, também causou deslizamentos de terra e quedas de árvores. Os efeitos desse fenômeno podem se estender até o outono.
No mundo o La Niña contribui para que na América do Norte o clima fique mais quente e seco sul, o que explica os incêndios florestais na Califórnia, em contrapartida no sudeste do Alasca e no centro do Canadá as temperaturas ficam mais frias. No Chifre da África, o impacto do evento mostra que a seca devastadora causada pelas mudanças climáticas está se agravando, afetando a vida no país.