Criada em 2013, a livraria Africanidades reúne um acervo de apenas narrativas pretas.
Rayne Sá
A Livraria Africanidades, criada em 2013, em São Paulo, é o resultado de uma inquietação da bibliotecária Ketty Valencio, que percebia a ausência de narrativas de pessoas pretas no mercado literário.
No acervo, que conta com mais de 210 títulos escritos por autoras negras, é possível encontrar obras de Angela Davis, Bell Hooks, Jarid Arraes, Maria Firmino de Jesus, entre outras.
“É algo indispensável a importância da existência de um empreendimento como o meu e além de significar muitas coisas, como a história é fragmentada, apagada, distorcida e plural, que a população preta merece ser reconhecida, assim como também as pessoas não brancas no contexto geral”, defende a bibliotecária.
Além de livraria, o espaço funciona como um “equipamento” cultural, com encontros, oficinas, rodas de conversas, lançamentos e clubes de leitura, com o intuito de valorizar e disseminar a literatura afro-brasileira. Para a proprietária, a ação, além de poder ser vista como algo revolucionário e um instrumento político, também evidencia “algo muito grave por trás”.
“Por isso que eu, tantas outras pessoas e/ou iniciativas temos que evidenciar habitantes que construíram o país, contudo a sua dizimação faz parte de um projeto nacional”, continua explicando.
Importância da literatura negro-brasileira
A pesquisadora e poeta gaúcha, Ana dos Santos, diz que “a literatura negro-brasileira é uma vertente que vem alimentar a sede e a fome de representatividade da população negra no Brasil”, mas, que não somente tem importância para os leitores negros, como é a grande perspectiva crítica das letras brancas brasileiras.
Ana chama a atenção ainda para a raiz do processo da formação de leitores, que muitas vezes, ocorre na escola com pouco sucesso devido à desvalorização da educação brasileira. De acordo com ela, as crianças e adolescentes negros não se veem retratados nos romances, novelas, contos e poemas do cânone literário das aulas de português e literatura.
“Quando aparecem, são personagens negros descritos por autores brancos, eles carregam os estereótipos racistas que inferiorizam e desumanizam o povo negro”, conta. Sobre a existência dos espaços especializados, Ketty Valencio também acredita que a literatura e a educação são como “um oásis no meio do deserto” e avalia que a literatura negra desempenha um papel de letramento, fortalecimento e de sobrevivência na educação e no empoderamento da comunidade negra.