Descubra uma alternativa para uma vida sustentável que contraria a cultura do consumismo.
Sâmilla Oliveira
O paradoxo entre dizer “não tenho roupa” na hora de sair e não ter mais onde colocar tantas peças dentro do armário é recorrente. O que você provavelmente não sabe, é que de acordo com a ONG WRAP, só um terço do seu guarda-roupa é usado durante um ano. Com um pouco de sinceridade, admitimos que esse dado faz sentido. Mas por que isso acontece?
A consultora de estilo, Ana Vaz, em entrevista concedida à revista Marie Claire, afirma que a grande questão está no consumo de roupas por impulso ou na compra sem planejamento. Segundo ela, comprar algo fora do seu estilo pela emoção do momento é um dos fatores que culminam no “eu não tenho nada para usar!”
O mercado está pronto para criar a todo momento tendências que estimulem o consumo. Uma pesquisa da eCicly aponta que o comportamento consumista na moda foi planejado pelo mercado. Será que você percebe o vício?
Você compra e joga fora
O fenômeno fast fashion é um sistema em que as roupas são fabricadas, consumidas e descartadas o tempo todo e muito rápido. Como isso acontece? É simples: as empresas observam que as pessoas consomem marcas famosas e fabricam modelos cópias em grande quantidade, mas com baixa qualidade. E é assim que você compra muito, compra rápido e quando a peça desbota ou rasga, corre na primeira promoção que vê para comprar mais.
A eCicly a mostra que atrás desse compra-compra estão 11,2 milhões de toneladas de tecidos têxteis que vão parar em aterros sanitários. Sim! Nem as peças doadas para a caridade se salvam. Mesmo que o destino das suas roupas pouco usadas não seja o aterro, elas provavelmente estarão em um país em desenvolvimento, ou em um mercado superlotado sendo vendidas por um preço minúsculo.
A dica é: antes de jogar fora, pense em como reciclar e prolongar a vida das suas peças. Investir em qualidade é a chave. Seguir a cultura fast fashion não implica apenas na má qualidade das peças que fazem parte da sua vida, mas também prejudica o planeta. Como assim?
Acontece que, de acordo com a pesquisa da eCicly, essas peças são usadas por menos de 5 vezes e geram 400% mais emissões de carbono do que peças normais, que são usadas por cerca de 50 vezes. E não para por aí: a emissão de carbono não é o único malefício. A produção de fibras têxteis demanda desmatamento, utilização de fertilizantes, agrotóxicos, extração e transporte de petróleo. Além disso, essa produção em larga escala da fast fashion incentiva o trabalho escravo nos países da Ásia. Assustou? Então não pare de ler ainda.
Como aumentar a vida útil do meu guarda-roupa?
Consertos rápidos, remendos ousados, remoção de manchas são três das inúmeras alternativas antes de desistir de uma peça. A autora de “Usar, Consertar, Reaproveitar: Um Guia do Fabricante para Consertar e Reciclar Roupas”, Lily Fulop, ensina no instagram a fazer reparos com criatividade usando costura manual e linhas coloridas. Ela defende que, às vezes, a melhor forma de consertar um buraco é não consertá-lo.
Já para uma roupa manchada, tenha calma! A vida dela ainda pode ser salva. Caso exista uma mancha de chá ou café, tente lavar a peça com água e vinagre. Para uma mancha de maquiagem, use creme de barbear na parte afetada e deixe agir por alguns minutos. Enxágue com água fria e depois faça de novo com água quente! Remover manchas é a especialidade do manual “Loved Clothes Lasts” da Fashion Revolution.
Por último, mas não menos importante… Apresentamos o Upcycling! Essa é a reutilização criativa. Pode ser que aquela peça realmente não funcione em seu formato original, mas ela ainda pode fazer você feliz. Caso precise de inspiração, indicamos designers como Annika Victoria e April Yang. Priya Ahluwalia e Bethany Williams também são opções de inspiração para dar vida a uma peça através do reaproveitamento. Elas criam coleções de moda usando tecidos que já eram considerados perdidos. Faça você também!