Visita do príncipe William ao Brasil inspira líderes jovens a transformar suas comunidades

In Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Mundo

Igor Bastos, jovem baiano, democratiza o ensino de Libras e incentiva a formação de novas lideranças no país.

Gabrielle Ramos

Inspirado pelo exemplo de empatia de sua família, Igor Bastos transformou as inquietações em impacto. Em 2022, ao ajudar pessoas afetadas pelas enchentes no sul da Bahia, ele percebeu as barreiras enfrentadas pela comunidade surda. Dessa experiência nasceu o projeto Mãos Mágicas, que vem democratizando o ensino de Libras nas escolas de forma lúdica e acessível. Hoje, a iniciativa é reconhecida pela Ashoka Brasil, uma das maiores redes globais de empreendedores sociais.

Hoje, aos 19 anos, Igor soma experiências que inspiram jovens a fazer a diferença no mundo. Ele já participou da Harvard World MUN, de um acampamento de verão promovido pela Universidade de Yale e, na semana passada, foi um dos 75 jovens da América do Sul, África e Ásia selecionados para o Generation Leadership Program.

Esta é uma iniciativa internacional voltada à formação de jovens líderes comprometidos com causas sociais, ambientais e tecnológicas. O programa oferece mentoria, capacitações e experiências imersivas com especialistas de diferentes áreas. Neste ano, os participantes tiveram a oportunidade de acompanhar de perto a cerimônia do The Earthshot Prize, prêmio criado pelo príncipe William para reconhecer e impulsionar projetos inovadores dedicados à proteção do planeta. 

Gabrielle Ramos: Você já participou de experiências internacionais e criou o projeto Mãos Mágicas. Que impacto essas vivências tiveram na sua visão de mundo e de liderança?

Igor Bastos: Ser uma liderança social vai muito além de liderar um projeto, é sobre co-liderar, caminhar junto com as pessoas impactadas, com os voluntários e com todos que acreditam na mesma causa. Essas vivências me mostraram o quanto a representatividade ainda é limitada. Percebi que a minha presença nesses espaços é importante, não só pelas conquistas que nós, jovens do interior, precisamos alcançar, mas também pela falta de presença da comunidade surda e de pessoas com deficiência nesses ambientes. Costumo dizer que sou um líder que gosta de estar presente para compartilhar histórias. Onde quer que eu vá, levo comigo a minha comunidade, suas lutas e suas missões.

GR: O programa reuniu jovens de diferentes países e culturas. Que trocas ou aprendizados mais te marcaram nessa convivência?

IB: O que mais me marcou foi realmente entender que existem pessoas, em diferentes partes do Brasil e do mundo, transformando suas comunidades e convertendo problemas em soluções. Muitas vezes, nós brasileiros, acabamos nos sentindo um pouco isolados. Isolados dentro do nosso próprio continente e também dessas trocas internacionais. Enquanto em regiões como a Ásia ou a África há uma proximidade maior entre os países, aqui temos menos oportunidades de compartilhar experiências. 

Por isso, participar desses espaços e entender o que outras lideranças estão fazendo de inovador e transformador foi muito inspirador. Descobrir que desafios que enfrentamos no Brasil também existem na África do Sul ou na Ásia e que essas pessoas estão encontrando soluções diferentes para os mesmos problemas, me mostrou que, embora o mundo enfrente dificuldades semelhantes, há diversos tipos de soluções.

GR: Você acompanhou a cerimônia do The Earthshot Prize, promovida pelo príncipe William. O que durante a cerimônia que te inspirou de forma especial?

IB: Eu nunca imaginei viver algo parecido, estar ali, presenciando tudo de perto, foi realmente marcante. Eu venho de Itabuna, no interior da Bahia, e chegar até o Rio de Janeiro já é, por si só, um desafio. Além disso, quase não há jovens lideranças sociais participando de eventos como esse, éramos os únicos. Por isso, ver a juventude sendo representada ali foi algo muito significativo.

Igor Bastos durante sua participação no Earth Prize 2025

Um dos momentos mais especiais, para mim, foi quando o Príncipe William participou de uma conversa com quatro crianças brasileiras. Eles falaram sobre o futuro, sobre como precisamos garantir que as novas gerações, especialmente as da primeira infância, possam usufruir do que a natureza e o meio ambiente têm a oferecer. Como alguém que trabalha com a educação infantil, esse momento foi muito especial, pois reforçou a importância de investir na educação desde cedo.

GR: A programação discutiu temas como biomas, diversidade e inclusão nas agendas ambientais. Qual foi a principal reflexão que ficou dessas conversas?

IB: A principal reflexão que ficou para mim é que a COP deste ano acontece no coração da Amazônia, a nossa floresta, o pulmão do planeta, que abriga uma imensa biodiversidade, comunidades, povos e culturas. No entanto, algo que me fez pensar profundamente foi perceber que outros biomas brasileiros também precisam de atenção.

O Cerrado e a Caatinga, por exemplo, fazem parte do nosso ecossistema e da nossa identidade nacional, mas falta olhar, falta investimento, falta reconhecer a importância da biodiversidade, das plantas e dos animais que vivem nesses territórios. É preciso buscar equilíbrio nas políticas ambientais e públicas para garantir que todos os biomas e suas espécies estejam protegidos. 

GR: Que conselhos você daria a outros jovens que também querem transformar suas inquietações em impacto social? 

IB: Vivemos em contextos diferentes, mas é a inquietação diante dos problemas que nos cercam que nos une e nos impulsiona a agir. Se eu pudesse deixar um conselho para outros jovens que também querem gerar impacto social, seria: não deixe sua inquietação parada. Fale, se expresse, transforme sua voz em poder, mesmo que pareça que ninguém está ouvindo. 

Nós, jovens, temos uma energia única e uma capacidade natural de transformar. Às vezes, o nosso papel não é transformar o mundo inteiro de uma vez, mas transformar a nossa comunidade. A gente tem a tendência de acreditar que mudar o mundo é descobrir a cura do câncer ou criar algo revolucionário, mas, na verdade, mudar o mundo pode começar com um gesto simples, como garantir que uma pessoa em situação de rua tenha um prato de comida, um banho e uma noite de sono segura.

É sobre isso que a juventude precisa entender: a transformação começa pela base, começa por compreender e cuidar do seu território, da sua comunidade, do lugar de onde você vem.

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