Após o veto de Bolsonaro, 13 estados preveem a distribuição de absorventes para estudantes de baixa renda e mulheres em situação de rua.
Paula Orling
A precariedade menstrual se caracteriza como a escassez de recursos e acessos a produtos de higiene necessários no período menstrual. Neste sentido, o Fantástico divulgou, em maio, uma reportagem que expõe dados relativos à pobreza menstrual, citando, inclusive, que uma em quatro jovens já faltou a aulas por não ter acesso a absorventes.
Toluna e Mirian Goldenberg realizaram uma pesquisa que identificou 29% das entrevistadas como pessoas com carência menstrual. O levantamento de dados foi realizado para a empresa de absorventes femininos Always, da marca P&G.
Com o objetivo de lutar contra essa situação, o Congresso aprovou, no mês de setembro, o projeto de lei n⁰ 4.968, proposto em 2019. O objetivo é combater a pobreza menstrual nas escolas e em ambientes de ajuda humanitária. Esta medida foi adotada por conta dos altos números de mulheres sem acesso aos produtos de higiene.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetou alguns artigos do projeto, os quais preveem a distribuição gratuita de itens de higiene para estudantes de baixa renda e mulheres em situação de rua. O veto presidencial foi justificado pela falta de recursos para a distribuição dos absorventes, enquanto as partes que não exigem investimentos financeiros foram aprovadas.
Higiene na saúde pessoal
A precariedade menstrual representa risco à saúde das vítimas. Nesse sentido, a ginecologista Suziê Berger explica que se os recursos alternativos que servem como absorventes não forem devidamente higienizados, propiciam corrimento, infecção urinária e outras inflamações. “É possível chegar até a síndrome do choque tóxico, que é quando a mulher passa muito tempo com um absorvente interno. Isso causa a proliferação de uma bactéria que pode causar até a morte, se não tratada”, completa.
A médica ainda comenta sobre a ONG Livre para Menstruar, que é responsável pela arrecadação de fundos para financiar produtos de higiene para mulheres carentes.
Situação nas escolas
Mesmo com a restrição, 13 estados já aprovaram projetos de lei em prol das meninas e mulheres nessas situações. Instituições de ensino públicas e privadas em todo o Brasil incentivam a implementação de movimentos em favor das estudantes que vivem nessas condições.
A professora de uma escola municipal do estado de Santa Catarina, que prefere não se identificar, conta que já conheceu meninas em estado de pobreza menstrual na escola onde trabalha. De acordo com ela, essa situação afeta a vivência na escola, concordando com a reportagem do Fantástico.
Apesar da instituição onde trabalha não oferecer projetos de ajuda a essas pessoas, a educadora acredita que as estudantes podem ser ajudadas por meio de “orientação por parte dos profissionais de saúde através de palestras e acompanhamentos desses profissionais nas escolas”, comenta.