Musical é show? Fãs de Wicked criticam plateia por comportamento inadequado durante o musical

In Cultura, Geral

‘’Não é um show, não se canta em teatro’’, enfatizou a entusiasta Iza Hieatt.

Príscilla Melo

Fãs do musical Wicked reclamam de gritaria e canto constante durante as apresentações. Após a estreia da nova versão brasileira de 2025, no dia 20 de março, o musical em cartaz no Teatro Renault em São Paulo, recebeu público que foi alvo de críticas nas redes sociais por comportamento considerado inadequado durante a apresentação teatral, devido à gritos, palmas, filmagens e coro durante as músicas, causando desconforto nos espectadores presentes e revolta nos internautas.

A fã e artista visual Laura Cardoso, que estava presente durante a semana de estreia, compartilhou: ‘‘Eram muitos gritos, principalmente durante a música Desafiando a Gravidade, especificamente quando a Myra (atriz que interpreta Elphaba) levantou voo, não deu para ouvir ela cantando a música’’, destaca.

A estudante universitária Iza Hieatt, esse comportamento é errado, desrespeitoso com quem está na plateia e no palco. “Porque querendo ou não eles estão trabalhando e isso atrapalha totalmente a experiência da pessoa do seu lado, ela pode estar vendo pela primeira vez e como é um musical é importante que as pessoas entendam o que está sendo cantado, porque é através da música que a história é contada. Não é um show, não se canta em teatro’’, enfatiza.

A jornalista Malu Patrício, que esteve presente tanto na estreia vip, apresentação fechada para convidados, que aconteceu um dia antes e também na semana da estreia oficial, contou que percebeu diferença no comportamento do público presente. ‘‘A estreia vip foi extremamente respeitosa, um ambiente muito tranquilo […] porque os convidados eram pessoas que estão habituadas ao ambiente do teatro e respeitam muito quem está no palco fazendo a obra acontecer e quem está trabalhando nos bastidores’’, relata.

A jornalista ainda acredita que Wicked está ‘‘furando a bolha’’ ao atrair o interesse das pessoas para o teatro musical no Brasil. Durante a estreia oficial ela relatou que já esperava que o público estivesse agitado por se tratar de fãs animados com uma estreia, entretanto, no quarto dia notou uma plateia mais respeitosa, sem canto, falas ou palmas em momentos indevidos. 

Entenda mais sobre Wicked

Prelúdio do clássico ‘‘O Mágico de Oz’’, Wicked foi um livro lançado em 1995 e adaptado para o teatro em 2003. Ao longo dos anos o musical da Broadway ganhou admiradores. ‘‘Wicked para mim é mais que um musical, sou muito fã de vários musicais, mas esse vai além, ele toca em um ponto na minha vida que os outros musicais não alcançam, eu me vejo refletida ali, me vejo representada de várias formas, me identifico com a Glinda e com a Elphaba’’, diz Iza Hieatt.

A atriz teatral Beatriz Mendes, que esteve no teatro durante as sessões de 2023, também é apaixonada pelo enredo. ‘‘A história me encantou, os personagens me encantaram, e a minha conexão com a Elphaba foi imediata […] É como se eu sentisse as dores dela […] Graças a esse espetáculo, comecei a estudar teatro musical e minha paixão pela arte só cresceu”, explicou.

A adaptação do musical da Broadway, que já era muito popular, ganhou ainda mais força após o lançamento do filme ‘‘Wicked’’ em 2024, dirigido por Jon M. Chu e estrelado por Cynthia Erivo (Elphaba) e Ariana Grande (Glinda). De acordo com a Billboard, o filme atingiu a maior bilheteria entre as adaptações da Broadway. 

O longa-metragem foi indicado a 10 categorias no Oscar 2025: Melhor filme, melhor atriz (por Cynthia Erivo), melhor atriz coadjuvante (por Ariana Grande), melhor trilha sonora, melhor som, melhor design de produção, melhor maquiagem e cabelo, melhor figurino, melhor edição e melhores efeitos visuais. Nas quais foi vencedor em duas categorias, melhor design de produção e melhor figurino.

A entusiasta de musicais e teatro, Iza Hieatt que já assistiu o musical Wicked ao vivo 25 vezes, destacou que ‘‘antes da estreia do filme havia no musical mais fãs de teatro e menos fãs de pop’’. Para a universitária, existem fãs do filme que não são admiradores do teatro, mas estão sendo levados para o teatro por influência do filme. 

Cartaz de divulgação do filme. Foto: Divulgação

Posicionamento da produção de Wicked

Em comunicado oficial feito através de publicação no Instagram, a produção de Wicked no Brasil destacou: 

‘‘Os produtores de Wicked garantem ao público que a temporada será realizada com o mesmo respeito observado ao longo dos cinco meses da temporada de 2023, mantendo o comportamento adequado do público, que proporciona a melhor experiência teatral para todos os espectadores’’.

Ainda assim, a produção destacou que devido aos últimos acontecimentos, a partir de 26 de março, antes das sessões começarem, seria dado um aviso enfatizando que os espectadores devem guardar suas reações e aplausos para o final dos números musicais, mantendo o silêncio ao longo da performance. Qualquer foto ou gravação do espetáculo é terminantemente proibida, pois o uso de smartphones prejudica a experiência da plateia, além de distrair os atores.

A produção ressaltou que ‘‘se necessário, a sessão será interrompida ao menor sinal de comportamento que prejudique as pessoas presentes no Teatro Renault […] a recepção à nova produção, ao elenco e à narrativa cênica tem sido entusiasmante, e todos os fãs e espectadores — todos mesmo — têm a garantia de assistir ao espetáculo com o silêncio adequado da plateia nos momentos certos’’.

A atriz de teatro Beatriz Mendes apontou que ‘‘para o ator é bom quando o público bate palma e interage, mas, eles tem que saber qual é a hora certa. No teatro geralmente se bate palma sempre ao final de uma música. O barulho afeta muito quando estamos em cena, porque precisamos nos escutar durante a música e escutar a outra pessoa que está trocando cena com a gente, o que fica difícil em meio a palmas e gritos.’’ 

Iza Hieatt contou que essa situação do canto, gritos e filmagens já ocorreu em outras ocasiões, mas, com circunstâncias diferentes. Em 2023, aconteceu algo semelhante na primeira e na última sessão, mas tudo foi diretamente conduzido pela produção, através de um papel com orientações entregue na entrada do teatro. 

Durante a música ‘‘Desafiando a Gravidade’’, o público podia participar da cena ligando as lanternas formando um ‘‘céu estrelado’’ para Elphaba voar. E logo após o término do musical e os agradecimentos finais da produção, o elenco repetiu o número para que o público pudesse cantar junto, gritar, filmar, bater palmas, interagindo de maneira livre e espontânea com a música, que é considerada pelo público uma das mais emblemáticas do musical.

Afinal, musical e show são a mesma coisa?

A fim de entender os tópicos desse assunto, é crucial entender as origens da diferença entre esses ambientes. O doutor em Música, professor e maestro Samuel Krähenbühl ao compartilhar seu ponto de vista, detalhou as origens históricas dessa discussão. 

Segundo ele, desde o período Barroco, com o classicismo e do século XVIII em diante, já existiam discussões semelhantes, como a ópera convencional e a ópera cômica. 

A ópera cômica era voltada para o âmbito mais popular, em alguns teatros não haviam cadeiras, as pessoas ficavam em pé e participavam de maneira ativa como um meio de entretenimento. A ópera clássica, apesar de ser também um entretenimento, era voltada para uma classe de público diferente da ópera cômica. Era um evento social, no qual a duração, por exemplo, era muito maior, podendo chegar de 3 até 4 horas. 

Haviam intervalos, nos quais as pessoas comiam, bebiam e logo depois voltavam para a continuação. “O comportamento das pessoas pela natureza do espetáculo era diferente”, detalha o maestro.

Pensando na questão do show e do musical, refletiu. ‘‘O ambiente do show já é voltado para as pessoas ficarem em pé, a duração das músicas é menor e possuem elementos estimulantes que levam o público a participar ativamente. Já no musical quando você entra, por exemplo, numa sala de concerto as luzes são apagadas e é pedido silêncio. Uma sinfonia, por exemplo, pode durar 30, 40 minutos ou até 1 hora. É um tipo de música que as pessoas precisam de silêncio para entender do início ao fim. Além disso, as pessoas vão bem vestidas no concerto, esperando que seja um espetáculo com uma outra proposta’’, frisa Krähenbül.

Expectativas para as próximas sessões

A nova temporada de exibição em São Paulo com as atrizes Myra Rubi e Fabi Bang, que dão vida a Elphaba, a bruxa má do oeste, e Glinda, a bruxa boa do norte, responsáveis também pela dublagem das personagens no filme Wicked em português, terá suas sessões no teatro Renault até o dia 8 de junho.

Com a maioria dos ingressos já esgotados, os fãs de Wicked demonstram estar empolgados com o dia em que estarão no teatro Renault. ‘‘Minhas expectativas estão altíssimas! Sou fã do musical desde 2023 e finalmente vou realizar o sonho de assistir ao espetáculo ao vivo pela primeira vez. Confesso que vou ficar com vontade de gritar em vários momentos, mas, é muito importante manter o controle e priorizar o respeito, principalmente durante as cenas mais importantes, para que todos na plateia consigam assistir e aproveitar da melhor forma possível’’, destaca o jovem universitário Luís Felipe.

Atrizes Cynthia Erivo e Ariana Grande fizeram parte do filme.

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