O mercado Plus Size é grande e continua crescendo, mas ainda está longe de ser o ideal.
Larissa Vieira
O mercado da moda Plus Size, considerado o “mais novo” mercado bilionário no Brasil, registrou um crescimento de 10% em 2020, movimentando aproximadamente R$5 bilhões ao ano, de acordo com dados da Associação Brasil Plus Size (ABPS). Com investimentos e iniciativas, tanto de pequenos empreendedores quanto de grandes lojas de departamento, está sendo gerada uma abertura ao público que busca diversidade e identidade visual, não apenas o básico e cotidiano.
Os debates sobre inclusão e aceitação aos corpos fora do padrão têm crescido no mercado, impulsionado pelo alcance da internet e das redes sociais, que estão trazendo alterações às configurações dessa parcela da moda, especialmente com roupas Plus Size. De acordo com os dados mais recentes da Associação Brasil Plus Size, o segmento movimentou R$9,6 bilhões em 2021, um grande aumento em comparação ao ano anterior.
O movimento não é recente, mas ganhou força durante a pandemia e tende a crescer ainda mais nos próximos anos, com expectativa de alcançar um faturamento de até R$15 bilhões até 2027.
No entanto, o crescimento ainda é gradativo, uma vez que o segmento ainda sente os impactos da pandemia de Covid-19, que trouxe uma queda geral na produção do setor de vestuário. Dados do IEMI – Inteligência de Mercado apontam que a produção de roupas plus size registrou uma queda de 5,4% em 2022 em relação ao ano anterior.
Apesar do aumento na procura e busca durante a pandemia, os dados da pesquisa da ABPS mostram que 61% das pessoas gordas concordaram em algum grau que sentem dificuldade para encontrar roupas do seu tamanho nas lojas mais populares ou de departamento. Isso é resultado de mudanças na percepção e comportamento dos consumidores que, mais empoderados, demandam uma maior diversidade de produtos e peças que atendam a diferentes estilos.
A falta de personalização de itens de moda é o maior desafio para esse público, que não consegue encontrar produtos que atendam a seu estilo pessoal, de acordo com a pesquisa. As principais marcas de moda ainda não atendem totalmente essas necessidades, muitos empreendedores estão entrando nesse segmento para atender ao público que busca por mais identidade, personalidade e variedade de modelos.
A sociedade em um retrato parcial
Segundo o Vigitel 2019, levantamento feito pelo Ministério da Saúde, 55,4% da população brasileira está acima do peso. É um mercado consumidor de mais de 100 milhões de pessoas, um pouco mais da metade da população do país. Apesar dos números serem grandes, a representativa e adaptação do mercado vestuário são precárias e pequenas em comparação a realidade.
É o que conta Fernanda Bueno, que trabalhou diretamente na indústria da moda em grandes empresas e ainda segue no ramo. “A origem da palavra moda vem do latim modus, que quer dizer hábito ou comportamento. A moda, antes de tudo, é um retrato da sociedade. Quando não é toda a sociedade que está incluída neste retrato, então é um retrato parcial. A partir do momento que você não olha a totalidade dessa sociedade, você não está enxergando aquilo de uma forma completa”, explica.
O ponto trazido por Fernanda vai ao encontro de um dos principais debates sobre esse assunto: a falta de conteúdo, peças, variedade e acesso para essas pessoas. Segundo ela, o cenário atual da moda não bate com os dados da população e não deveria haver dificuldades para encontrar roupas para a maioria da população brasileiro que as usa.
“A experiência de compra, na maioria das vezes, é muito frustrante, pois não se leva em conta a forma como aquele corpo está presente. Então, as medidas ganham proporções diferentes. Há um descaso, talvez até uma preguiça, de conhecer e saber sobre o corpo gordo, de modo que na hora de fazer as medidas, existam variantes”, acredita.
Transformar o mercado, seja por questões econômicas ou ideológicas, não é uma tarefa fácil. No entanto, algumas percepções podem auxiliar na construção de novas possibilidades e cenários.
“O mercado só valoriza o dinheiro, ele não se importa com as emoções das pessoas. A menos que essas emoções se convertam em cifrões. Os dados mostram que esse mercado está perdendo dinheiro com essa situação, a conta que não fecha. Estamos chegando em um ponto onde o mercado vai ser obrigado a ver que agora não tem mais jeito. Eles precisam olhar para essas pessoas”, conclui Fernanda.
Promovendo a obesidade não; incluindo e representando
A falta de produtos que atendam ao público gordo é motivada, principalmente, pela gordofobia. Nas vitrines das lojas, é incomum encontrarmos manequins e anúncios que representam essas pessoas. Ainda restritos às lojas especializadas no segmento, quando ocupam outros espaços, as representações dos corpos gordos não são vistas com naturalidade por muitos, o que acaba reforçando preconceitos e estereótipos.
Um exemplo disso ocorreu com a Nike, que decidiu utilizar manequins representando diferentes tipos de corpos, incluindo corpos gordos, em sua loja de flagships em Londres. Porém, a marca foi acusada de “promover a obesidade”, quando, na verdade, estava apenas buscando incluir as pessoas gordas no contexto de suas lojas.
“Para celebrar a diversidade e inclusividade do esporte, o espaço não irá apenas celebrar atletas de elite em seu conteúdo visual, mas também mostrará manequins plus size e para-esportistas pela primeira vez em um espaço físico de varejo”, afirmou a empresa em um comunicado.
A empresa quis atender ao pedido do público que, segundo a revista Cosmopolitan, 45% das clientes de roupas plus size faziam compras online e pediam que as lojas físicas expandissem sua oferta de itens vendidos.
“Com o incrível momento pelo qual passa o esporte feminino, a reformulação do espaço é mais uma demonstração do compromisso da Nike em inspirar e servir atletas femininas”, diz Sarah Hannah, vice-presidente da marca na Europa, Oriente Médio e África, à Época Negócios, da Globo.
No estudo de combate à gordofobia, 71% dos respondentes concordaram que as empresas, principalmente do setor de moda e beleza, deveriam prestar mais atenção à diversidade de corpos em seus modelos e atores comerciais.
Portanto, além de oferecer produtos com maior variedade de modelos e tamanhos, as empresas precisam incluir pessoas com diferentes tipos de corpos em todas as formas de comunicação e divulgação de seus produtos. Para que as marcas possam estabelecer um diálogo e atender a esse público, é necessário conhecê-lo mais profundamente, entendendo suas reais necessidades e desejos.
A inclusão de diferentes tipos de corpos em vitrines, manequins e anúncios é apenas uma das maneiras de assegurar que essas pessoas se sintam representadas e atendidas pelas marcas do segmento.