O estudo aponta que o setor comercial teve uma redução de 4% nos postos de trabalho e 7,4% no número de empresas.
Cristina Levano
De acordo com um levantamento da PAC, em 2020, devido às restrições impostas pela pandemia, cerca de 404,1 mil comerciantes brasileiros perderam seus postos de trabalho, sendo que 90,4% eram empregados do varejo. Assim, o comércio de veículos, peças e motocicletas, teve uma retração de 8,5%. Por outro lado, o comércio por atacado foi o único a ampliar o número de funcionários, tendo um aumento na ocupação de 2,2%, e em número de empresas 1,3%, frente a 2019.
Os resultados divulgados este ano pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram os efeitos negativos da crise sanitária mundial, já que esta foi a maior queda (no intervalo de um ano) na ocupação, desde o início do histórico desta pesquisa, em 2007.
O comércio varejista foi o mais afetado, principalmente os segmentos de tecidos, vestuário, calçados e armarinho com menos 176,6 mil trabalhadores. De produtos alimentícios, bebidas e fumo foram 81,5 mil trabalhadores e de material de construção 59,7 mil. Lojas especializadas, empórios, padarias e comércios de bebidas, são parte deste primeiro segmento.
Por outro lado, duas atividades tiveram um pequeno ganho na ocupação, a dos supermercados e hipermercados, com um aproximado de 1,8 mil pessoas, assim como os produtos farmacêuticos, perfumaria, cosméticos, artigos médicos, ópticos e ortopédicos com 318 pessoas. Isso foi em virtude que ambas foram consideradas serviços essenciais durante a pandemia.
Com a recessão no serviço, o comércio empregava 9,8 milhões de pessoas em 2020, sendo 7,2 milhões no varejo, 1,7 milhão no atacado e 829,4 mil no negócio de veículos, peças e motocicletas. Esta foi a primeira vez, desde 2011, que a atividade comercial tem um contingente menor que 10 milhões de trabalhadores no total.
Número de empresas
Tal como na ocupação, a diminuição no total de empresas comerciais foi grande tanto em termos percentuais como em números absolutos. Com a caída de 7,4% em 2020 havia, 1,3 milhões de empresas comerciais no país, o segundo menor número de desde o início da série histórica da pesquisa. No varejo, o setor sofreu uma queda de 8,7% nas empresas, no segmento de veículos, peças e motocicletas, muitas empresas tiveram que fechar as portas, o que criou uma redução de 9,9%, só no atacado, o ano foi de avanço em 1,3%.
A gerente de Análise Estrutural do IBGE, Synthia Santana revelou que “entre 2019 e 2020, houve uma queda substancial de 106 mil empresas no comércio do país”. Em comparação com 2015, ano de recessão econômica, a queda foi de 16 mil empresas. Já no ano seguinte, ainda no biênio da crise, houve retração de mais 25 mil.
“O que temos durante o primeiro ano da pandemia é uma queda com efeito quatro vezes maior. Esse número de empresas no comércio já vinha sendo reduzido pela própria estratégia de algumas delas, mas a crise econômica potencializou esse comportamento”, afirma a pesquisadora.
Como fica a situação?
Em toda esta situação, uma das perguntas que muitos poderiam estar se fazendo é: o que fizeram os trabalhadores e empresários para continuar nesta crise?
Synthia indicou para a Agência IBGE que as medidas de isolamento social acarretaram uma adaptação na maneira como as empresas comercializam os produtos. “Muitos modificaram a forma de entrega, como a retirada por drive thru e o envio em casa. Entre as empresas em que essa mudança não foi possível, houve uma perda significativa, como no segmento de tecidos, vestuário, calçados e armarinho, que tem uma experiência de compra que exige mais o toque do produto e a experimentação”, relata.
Foi isso que Cristina Sena fez. Cristina é dona de uma ateliê de costura em São José, ela trabalhava diretamente com costura sob medida antes da pandemia, mas devido a emergência sanitária, teve que mudar a modalidade do negócio. “Assim, eu acho que 90% das confeccionistas, das costureiras, modelistas, todo mundo dessa área, não podíamos atender as pessoas nas lojas nem em casa, então optamos por fazer máscaras”, narra a confeccionista.
Ela começou primeiro fazendo máscaras a pedido, fizeram algumas encomendas a pessoas conhecidas, parentes. “Depois vimos que as nossas máscaras tinham uma boa saída e nós começamos a vender pelo instagram, em feiras públicas, e rendeu bem”, conta Cristina.
Futuras consequências e outras formas de ter agido
A Pesquisa Anual do Comércio é realizada pelo IBGE desde 1996, esta retrata aspectos estruturais do setor comercial do país. As informações divulgadas são significativas para análise e planejamento das empresas do setor privado e dos diferentes níveis de governo.
A economista e consultora da Invest, Laura Pacheco disse que: “Em linhas gerais tem-se usado o aumento da taxa de juros e redução de impostos para conter o aumento de preços trazidos principalmente pelo impacto da guerra nos preços das commodities. Os resultados têm sido positivos, mas o aumento das taxas de juros precisa ser dosado com cautela.”
Porém, a conclusão de ter agido ou não da forma certa durante o 2020 só será possível passado um período de tempo no qual se poderá visualizar as consequências trazidas pelas decisões tomadas hoje.
Como sair dessa situação?
Laura Pacheco, explica que para recuperar as perdas da atividade econômica, existem diversos fatores a serem levados em conta pelo setor comercial. “Basicamente há fatores internos e externos ao negócio. Internamente um empresário pode verificar se há a necessidade de fazer adaptações no modelo de negócio, fazer uma pesquisa com a demanda e verificar as possibilidades de inovação. Externo ao negócio há a questão das taxas de juros, nível de renda da população e taxa de desemprego que irão impactar na demanda do negócio”, finaliza a consultora.