A ferramenta é o meio de pagamento mais usado no Brasil.
Príscilla Melo
Um novo mecanismo foi adicionado à ferramenta Pix no início deste mês. O chamado botão de contestação tem como objetivo facilitar a devolução de valores para as vítimas em caso de golpes, de acordo com o Banco Central do Brasil (BCB). O Mecanismo Especial de Devolução (MED) pode ser acionado de maneira totalmente on-line em processo de autoatendimento através do aplicativo do banco, sem a necessidade de um atendimento pessoal.
Ao contestar a transação, o banco do golpista é imediatamente informado e as contas do suspeito são instantaneamente bloqueadas. Após o bloqueio, ambos os bancos têm até uma semana para analisar a contestação. O Chefe Adjunto do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro (Decem) do Banco Central, Breno Lobo, explica que o botão de contestação não é válido para situações de desacordo comercial, arrependimento ou erros no envio do Pix (como digitar a chave errada). ‘‘Esse recurso é destinado exclusivamente a situações de fraude, golpe ou coerção’’, esclarece.
Pix: ferramenta de sucesso
Segundo o Banco Central, o Pix é o pagamento instantâneo brasileiro em que recursos podem ser transferidos entre contas em poucos segundos e a qualquer hora ou dia. Lançado em 2020 pelo corpo técnico do BCB, o Pix fazia parte da estratégia de modernização do sistema de pagamento brasileiro. O cenário do isolamento provocado pela pandemia foi favorável à adesão da ferramenta, que já estava em desenvolvimento desde 2018.
Em 2022 o Pix foi considerado um dos sistemas de pagamento instantâneo mais utilizados do mundo, ocupando o segundo lugar no ranking, ficando atrás apenas da Índia. O Brasil foi responsável por 15% das transações mundiais, foi o que mostrou o estudo Prime Time for Real-Time Report de 2023, parceria entre a ACI Worldwide e a GlobalData.
Um avanço tecnológico
A economista Isabela Campos, argumenta que para entendermos os principais impactos da ferramenta Pix é válido lembrar como funcionava a vida antes dele. Para realizarmos as Transferências Eletrônicas Disponíveis (TEDs), DOCs, pagamento de boletos e pagamentos via cartão de débito, era necessário o pagamento de uma tarifa. ‘‘Com a vinda do Pix, essa tarifa praticamente não existe mais, ou em alguns casos foi reduzida’’, descreve.
Segundo levantamento do Movimento Brasil Competitivo (MBC) publicado em agosto deste ano, de 2020 pra cá o pix gerou uma economia de R$ 106,7 bilhões em menos de cinco anos de existência, tanto para consumidores quanto para empresas brasileiras. Essa economia é baseada em um racional no qual é considerado a diferença do valor que era desembolsado em tarifas nas TEDS, visto que o pix tem sido usado como substituição a elas e o aumento dos pagamentos de pessoas físicas para empresas via pix, fazendo com que haja uma redução no uso do cartão de débito.
A economista destaca que além de redução de custos, também vê que o pix acelerou a digitalização dos meios de pagamentos, fazendo com que as pessoas utilizem menos o dinheiro físico e passem a usar mais os aplicativos bancários. ‘‘O Pix teve contribuição para acelerar a digitalização, pela facilidade de em poucos minutos enviar seu dinheiro para outra conta, pagar por Qr Code e ter melhor controle financeiro’’, afirma.
Impacto na vida do empreendedor
Além de intensificar a modernização dos bancos, o Pix também trouxe muitos benefícios para os empresários e autônomos. A dona da padaria ‘‘Nóz Café e Pães’’ Rafaela Firmiano, conta sobre como a ferramenta impactou seu negócio. ‘‘A gente viu o dinheiro em espécie sumir, as maquininhas perderem poder e os golpes multiplicarem. Ao mesmo tempo, abriu a chance de resgatar o à vista e de negociar sem intermediário’’, aponta.
A profissional de economia acredita que o Pix contribuiu para facilitar o consumo interno. Antes, em situações de compras de menor valor, muitas pessoas enfrentavam dificuldades para pagar por produtos simples. Com a popularização do Pix e o aumento dos estabelecimentos que aceitam esse meio de pagamento, as compras tornaram-se mais acessíveis e práticas.
Hoje, basta enviar o valor pelo aplicativo, não sendo mais necessário contar dinheiro, se preocupar com troco ou deixar de comprar por falta da quantia exata.
Por outro lado, a dona da padaria explica que o preço da praticidade trazida pela ferramenta foi alto, já que os riscos de golpes quando o Pix não é feito direto na maquininha são altos. ‘‘O que veio pra facilitar acabou criando uma nova camada de desconfiança. É bonito na teoria, mas no dia a dia de uma padaria movimentada, cada segundo parado conferindo comprovante é café esfriando e cliente esperando’’, enfatiza.
Para Isabela Campos o mundo tem mudado, hoje nosso celular concentra nossa vida e a parte financeira não é diferente. ‘‘Nossos cartões, apps de banco, planilha de gastos estão todos em um só lugar. Sair sem cartão e poder fazer tudo pelo celular, na minha visão, é o que podemos esperar para o futuro próximo, principalmente das novas gerações’’, enfatiza.



