Por que comemoramos o Dia da Liberdade de Imprensa?

In Cultura, Geral

Hoje se comemora 30 anos desde que a data foi instituída em 1993.

Cristina Levano

Os meios de comunicação, e especificamente a imprensa, desempenham um papel importante na sociedade, razão pela qual no calendário internacional em todo 3 de maio se comemora o Dia da Liberdade de Imprensa. Nesta data é avaliado o estado da liberdade de imprensa a nível mundial, a defesa contra ataques à independência da imprensa e dos jornalistas, e presta-se homenagem aos profissionais do jornalismo que perderam a vida no exercício das suas funções.

Um pouco de história

Ficou para a história que foi uma declaração de sessenta jornalistas africanos, adotada em Windhoek (Namíbia) em 3 de maio de 1991, que pedia a criação do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Mas, na realidade, a Repórteres Sem Fronteiras havia organizado o primeiro Dia Internacional da Liberdade de Imprensa treze dias antes, inspirando assim as comemorações que agora acontecem todos os anos.

Em 1991, a RSF ainda era uma organização pequena, criada apenas seis anos antes. Oito pessoas trabalhavam em tempo integral na associação e acabava de ser publicado o primeiro “total de jornalistas assassinados no mundo”. É nesse contexto que a entidade lançou as bases para uma grande data do jornalismo: o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que hoje é comemorado mundialmente no dia 3 de maio.

Os tópicos cobertos pela organização pareciam menores em comparação com os prolíficos e dramáticos noticiários internacionais da primavera de 1991, tanto no Iraque quanto na Iugoslávia. Para se fazer ouvir, você tinha que organizar um evento. Marcar uma data era a única forma de focar, por um único dia, na situação da liberdade de imprensa no mundo. Em 20 de abril de 1991, a organização, que até então publicava matérias sobre liberdade de imprensa, tornou-se assim uma organização de reivindicações e de incidência.

Em sua edição de 19 de abril, o diário Le Monde explica: “A pedido da RSF, a maioria dos grandes meios de comunicação franceses se mobilizam em 20 de abril para o primeiro Dia Internacional da Liberdade de Imprensa. Rádios e televisões transmitiram vídeos sobre a vida de jornalistas presos , enquanto no sábado os jornais vão dedicar editoriais e crônicas à liberdade de imprensa. Todos incentivam o apadrinhamento de um jornalista preso”.

Nesse mesmo dia, foi publicado o primeiro “Relatório Anual da Liberdade de Imprensa”, precursor da atual Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa. As agências de publicidade foram solicitadas a encontrar pessoas famosas para “emprestar suas vozes” a jornalistas presos. A conferência foi patrocinada por várias personalidades, entre as quais a ministra francesa das Comunicações, Catherine Tasca, e o então diretor-geral da UNESCO, Federico Mayor Zaragoza.

Em novembro de 1991, a UNESCO propôs, em uma das recomendações de sua Conferência Geral, a criação de um Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, em resposta a um apelo feito por jornalistas africanos em Windhoek (Namíbia), conhecido como “Declaração de Windhoek”, que não mencionou o grupo. 

No ano seguinte, a RSF endossou a proposta da UNESCO de mudar a celebração para 3 de maio, depois que um alto funcionário alemão da organização apontar que 20 de abril é a data do nascimento de Adolf Hitler.

A data da Declaração de Windhoek foi escolhida para a formalização do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, proclamado oficialmente em 1993 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. A institucionalização deste dia deu-lhe o peso, a legitimidade e a universalidade de que hoje goza. 

Da mesma forma, um dia como hoje, a RSF apresentou a nova edição da Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa, que a cada ano se consolida como referência sobre as condições em que trabalham jornalistas de 180 países ou territórios. O Washington Post vai comentar os resultados desta nova edição do ranking num evento conjunto organizado com os Repórteres Sem Fronteiras, que contará com a presença do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken.

Todos os anos a data recebe um tema e este ano é “Moldando um futuro de direitos: liberdade de expressão como um motor para todos os outros direitos humanos.”

No Brasil

Ainda assim, a liberdade de imprensa no Brasil tem sido um tema de preocupação nos últimos anos, com jornalistas enfrentando crescentes ameaças e ataques enquanto tentam reportar sobre corrupção, crimes e outras questões delicadas.

Segundo o relatório do Repórteres Sem Fronteiras 2022, o Brasil ocupa a 111ª posição entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa. A organização observa que os jornalistas brasileiros enfrentam “violência física, incluindo assassinato”, bem como “assédio, detenção e prisão arbitrária, assédio cibernético e censura”. Jornalistas que cobrem corrupção política são particularmente vulneráveis a ataques, e muitos foram alvo de grupos criminosos ou até mesmo de funcionários do governo.

A jornalista Erika Borges explica que as ameaças mais intensivas e comuns à liberdade de imprensa, comuns são as agressões físicas ou verbais aos jornalistas “impedindo o cumprimento do trabalho, e isso de certa forma, afeta como a comunicação vai chegar até o público, pois essas ameaças são uma tentativa de impedir que o conhecimento chegue a grande massa”.

Um exemplo de destaque dos perigos enfrentados pelos jornalistas brasileiros é o caso de Daphne Caruana Galizia, uma repórter que investigava corrupção em Malta e foi morta por um carro-bomba em 2017. A jornalista brasileira Patricia Campos Mello também enfrentou ameaças e assédio após fazer uma reportagem sobre supostas irregularidades do PT.

Além dos perigos físicos enfrentados pelos jornalistas, a liberdade de imprensa no país também foi ameaçada pelo aumento da censura do governo e pelo controle da mídia. O governo Bolsonaro foi acusado de tentar silenciar vozes críticas cortando o financiamento dos meios de comunicação, revogando as licenças de rádios comunitárias e usando as mídias sociais para atacar jornalistas e espalhar propaganda.

A situação se complicou ainda mais com a disseminação de desinformação e propaganda nas plataformas de mídia social, das quais muitos brasileiros dependem para notícias e informações. O governo brasileiro tem sido criticado por não abordar esta questão e por não fazer o suficiente para proteger a segurança e os direitos dos jornalistas.

Questão de valorização

Apesar desses desafios, muitos jornalistas brasileiros continuam a relatar questões importantes e responsabilizar aqueles que estão no poder. Organizações como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) estão trabalhando para proteger e apoiar os jornalistas, e grupos internacionais pedem mais ações para defender a liberdade de imprensa no Brasil.

Para enfrentar esses desafios significativos, com jornalistas enfrentando ameaças, ataques e censura, é crucial que o governo brasileiro tome medidas para proteger a segurança e os direitos dos jornalistas e que as organizações internacionais continuem a apoiar aqueles que lutam pela defesa da liberdade de imprensa. “Eu acredito que não podemos parar, as ameaças sempre vão existir e a gente precisa criar formas de ir contra elas e consequentemente diminuí-las”, finaliza Érika Borges.

De igual forma valorizemos o trabalho dos jornalistas, que nos dia a dia entregam tudo para manter o público informado, responsabilizando os que estão no poder por suas ações.

You may also read!

INCA prevê alta nos casos de câncer de próstata em 2025

Campanha do Novembro Azul reforça a necessidade do diagnóstico precoce no combate ao câncer de próstata. Gabrielle Ramos O

Read More...

Pausa do mundo online é necessária para manter o equilíbrio emocional

Em um mundo cada vez mais digital, a busca por equilíbrio mental e físico se torna necessária para fugir

Read More...

Fora das quadras: o que atletas fazem após se aposentar?

Como atletas de alto rendimento mudam a rotina – e a profissão – ao deixarem as competições. Helena Cardoso

Read More...

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu