Preciso realmente guardar todas as minhas fotos e mensagens?

In Cultura, Geral

Segundo estudo, o acúmulo de arquivos pode desencadear ansiedade e estresse. 

Davi Sousa

Em tempos de smartphones e armazenamento em nuvem, a prática de guardar fotos e mensagens se tornou quase automática. Cada momento capturado, cada conversa trocada parece merecer um lugar especial na memória digital. Mas será que realmente precisamos de tudo isso?

Para muitos, guardar fotos e mensagens está diretamente ligado à nostalgia. Afinal, revisitar conversas antigas e fotos de momentos especiais pode trazer uma sensação de conforto. Uma foto de um aniversário, a mensagem de um amigo em um momento difícil ou aquela conversa divertida que arrancou risadas sinceras e nesse contexto tudo parece ter valor emocional.

Vivemos em uma era em que tudo é registrado e perder esses registros é como perder parte de memórias pessoais. Além disso, o FOMO (fear of missing out, ou medo de ficar de fora, não se limita apenas a eventos sociais, mas também a memória pessoal. Temos receio de apagar algo que, no futuro, pode parecer importante.

Quando o acúmulo digital pesa

Para a psicóloga social Gilmara Mariosa, o acúmulo digital gera impacto na saúde mental e é evidente. “O motivo de guardar essas lembranças é manter a memória dos momentos e isso deveria trazer bem-estar. Mas, quando você acumula esses arquivos digitalmente e não os acessa, o objetivo de bem-estar acaba se perdendo”, afirma.

Um estudo da Universidade da Carolina do Norte nos Estados Unidos já indicou que o acúmulo pode gerar ansiedade e estresse, e, segundo Gilmara, o mesmo princípio pode ser aplicado ao digital. 

“Vivemos numa sociedade de consumo excessivo, na qual acumulamos muito sem nunca nos satisfazer. Isso se reflete também nas fotos digitais. Muitas vezes, capturamos o momento, mas depois esquecemos essas imagens em arquivos digitais, criando um peso emocional invisível”, explica a psicóloga. 

Esse “peso invisível” pode se manifestar como uma constante necessidade de revisar o passado, impedindo que se viva plenamente o presente. Além disso, Gilmara observa que o imediatismo da fotografia digital elimina o prazer que antes existia no processo de revelar e revisitar as imagens físicas. “Hoje tudo é muito rápido. Tiramos a foto, postamos e logo esquecemos, diferentemente de quando esperávamos para revelar as fotos e as visitávamos com frequência”, ressalta.

O minimalismo digital

Nos últimos anos, o minimalismo digital tem ganhado força como uma forma de lidar com o excesso de informações e arquivos acumulados. Ao invés de guardar tudo, a proposta é manter apenas aquilo que realmente importa. Uma foto que te faz sorrir, uma mensagem de apoio num momento crucial, esses são os arquivos que merecem ficar. O resto? Talvez seja hora de desapegar. Deletar fotos ou mensagens não significa apagar o passado. Muitas das memórias mais importantes ficam guardadas em nossa mente e coração.

O sociólogo Douglas Barraqui acredita que o minimalismo digital pode ser uma solução eficaz para a sobrecarga emocional causada por arquivos desnecessários: “Ao invés de acumular milhares de fotos, podemos focar em experiências reais, priorizando qualidade sobre quantidade”, destaca.

Barraqui alerta que “nossas fotos se tornam uma galeria pública, muitas vezes sem uma conexão verdadeira com a experiência vivida”. 

De acordo com ele, esse acúmulo digital pode nos desconectar de experiências sensoriais mais ricas, como cheiros e sabores, que são tão importantes na construção das nossas memórias.

Guardar ou não guardar?

Para a adolescente Nayani Barros a verdadeira essência da memória vai além das imagens capturadas e ela fica mais feliz quando não se sente refém de registrar tudo. “Nem todo registro digital precisa ser preservado; algumas coisas podem ser deixadas para a memória natural seguir seu curso”, acredita. 

No final, a decisão de guardar ou apagar fotos e mensagens é pessoal. Dessa forma, para alguns cada detalhe do passado tem um valor imensurável. Para outros, o ato de deletar pode ser uma forma de libertação e de foco no presente. Talvez o segredo esteja no equilíbrio de manter o que te faz bem, o que te lembra do que realmente importa, e deixar o resto para trás.

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