Especialistas alertam para o cuidado com o uso e falsa sensação de eficácia em receitas caseiras.
Gabrielle Ramos
Quem nunca pesquisou como tirar aquela mancha da roupa ou limpar uma sujeira do chão que parecia impossível de remover? Não é raro que, ao buscar soluções para esses problemas na internet ou nas redes sociais, apareçam receitas caseiras com ingredientes como vinagre, limão e bicarbonato de sódio. Mas será que esses produtos, que não são exatamente feitos para limpeza, realmente funcionam?
Laiz Lima, que produz conteúdo sobre organização, limpeza e decoração para as redes sociais, afirma que costuma usar uma mistura de álcool com vinagre para limpar vidros, porque, nos testes que fez, apenas produtos específicos para limpar vidro não deram resultado. Além disso, também usa acetona como um ótimo “tira-grude”, ideal para remover etiquetas ou restos de cola em superfícies e cantinhos de janelas.
Já Talita Trevisan, que atua no mesmo segmento, reforça que muitas vezes essas combinações ou até mesmo o uso de um único produto natural limpam tão bem quanto os industrializados. “Para a limpeza do dia a dia, essas alternativas naturais são grandes aliadas”, afirma.
Por que usar essas alternativas?
As criadoras de conteúdo destacam que dentre as razões para apostar nesses produtos alternativos estão a funcionalidade deles e o ótimo custo-benefício. Por serem produtos comuns, são mais baratos, fáceis de encontrar e, muitas vezes, já estão disponíveis em casa.
Outro ponto é que, por serem naturais e biodegradáveis, esses ingredientes têm menor impacto ambiental. “Também fico menos exposta aos produtos químicos, que muitas vezes têm perfumes fortes, causam alergias, dores de cabeça, coceiras e são bem agressivos”, explica Talita.
Receitas caseiras realmente funcionam?
Alguns itens que não são, tecnicamente, produtos de limpeza podem ser úteis em certas situações. O Engenheiro Químico Cosmetólogo, Pablo Mafra, explica que o vinagre é uma solução aquosa de ácido acético, o que o torna eficaz como desincrustante, ou seja, ideal para remover resíduos e depósitos sólidos, como calcário e sujeiras mais resistentes.
Por esse motivo, pode ser útil na limpeza de vidros e superfícies cerâmicas, conforme destacou Laiz. No entanto, seu uso não é recomendado em todos os materiais, pois o uso em superfícies de pedra natural e em metais como cobre, bronze e latão pode causar danos.
O professor de Química Rodrigo Bispo, com 1 milhão de seguidores no TikTok Química Integral, reforça que, embora o vinagre seja um ácido fraco, sua combinação com água sanitária, especialmente em ambientes fechados, pode causar queimaduras na pele e problemas respiratórios.
Já a mistura de vinagre com bicarbonato de sódio também não é eficaz. Rodrigo explica que muitas pessoas acreditam que essa combinação é “mágica” devido à liberação de gás carbônico, que cria uma espuma efervescente e altera a textura da mistura. No entanto, essa reação resulta na neutralização dos dois reagentes, o que diminui sua capacidade de limpeza.
Além disso, o vinagre, quando usado em pequenas quantidades, não possui poder desinfetante suficiente para eliminar microrganismos. Para a remoção de gordura em utensílios de cozinha, por exemplo, o sabão comum continua sendo mais indicado.
Rodrigo explica que a acetona, outro produto citado, pode ter eficácia ao remover resíduos de cola devido às características das interações moleculares da substância, que facilitam a dissolução de adesivos.
Apesar disso, Pedro destaca que a eficiência desses produtos na limpeza depende diretamente da concentração utilizada. Pois é possível que, em casa, as pessoas utilizem uma quantidade maior do que a recomendada, o que pode aumentar os riscos de acidentes. “Devemos comprar produtos de limpeza, pois os mesmos seguem regras de segurança e eficácia, os caseiros não, podendo colocar em risco quem está os manuseando”, afirma.
Além disso, o professor de Química recomenda nunca seguir receitas caseiras sem orientação adequada. “Uma das piores misturas é a da água sanitária (ou solução de hipoclorito de sódio, conhecida como cloro) com ácidos. Isso pode liberar gás cloro, que é tóxico e já causou até mortes”, adverte Rodrigo.