Nota do Enem pode ser usada para ingresso em instituições.
Gabrielle Ramos
Desde pequena, Anna Carvalho sonhava em morar fora do Brasil. Com apenas 12 anos, começou a guardar dinheiro com a ajuda da mãe, para conseguir realizar esse desejo ao terminar o Ensino Médio. “Comecei o processo um mês antes da pandemia, então tudo foi diferente. Só consegui realmente viajar em 2022”, conta.
Para quem compartilha o mesmo sonho de Anna, há várias maneiras de ingressar em uma universidade no exterior, incluindo o uso da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Enem
Cerca de 35 universidades portuguesas aceitam a nota do Enem. Isso é possível desde 2014, por causa de um programa de acordos interinstitucionais entre o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) com universidades do país.
Higor Cerqueira, idealizador da Estude em Portugal, já ajudou mais de 600 famílias a realizar o processo de candidatura em universidades portuguesas e a migrar para Portugal com o visto de estudante. “A pessoa tem um diploma que é válido em toda Europa, então pode fazer a vida não somente em Portugal mas em outros países”, destaca.
Além de Portugal, universidades na Irlanda começaram a aceitar o Enem como forma de ingresso este ano. “Também há universidades, como algumas no Canadá e na França, que consideram o Enem como parte da documentação obrigatória a ser apresentada por cidadãos brasileiros, mas não consideram a pontuação”, explica Renata Condi, especialista em Educação Internacional e processos de admissão em universidades internacionais.
Outras formas
Instituições nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá adotam critérios semelhantes, incluindo a nota do Enem combinada a outros requisitos, como o coeficiente de rendimento do Ensino Médio. Essa integração é facilitada com países que possuem acordos de cooperação educacional com o Brasil. Exemplo deles são: Chile, França, Áustria, Japão, dentre outros.
Renata Condi explica que alguns países possuem portais próprios de candidatura a universidades. Isso permite que o candidato envie todos os documentos de uma vez e se inscreva em várias instituições simultaneamente. “Também há locais que têm bolsas específicas para alunos da América Latina, algo que torna o estudo no exterior mais acessível”, afirma.
Foi assim que Anna, criadora de conteúdo e publicitária, deu início à sua jornada acadêmica no exterior. Após ser aprovada, iniciou os estudos em Vancouver, no Canadá. “Lembro da minha primeira aula, não entendi 80% do que o professor falava, só ficava concordando com a cabeça e sorrindo”, recorda.
Apesar da dificuldade inicial e da saudade da família, com o tempo, Anna se apaixonou pela experiência. Ela fez amizades, se adaptou ao clima, à cultura e ao idioma.
Benefícios
Além das graduações realizadas inteiramente no exterior, universidades brasileiras e estrangeiras também estabelecem parcerias para promover contribuições científicas, culturais e acadêmicas por meio de programas de intercâmbio. “Cada universidade tem liberdade de definir como e quando os programas são oferecidos à comunidade discente”, explica a especialista em Educação Internacional.
Para Higor, cursar a faculdade completa no exterior oferece vantagens, pois o diploma obtido é reconhecido. “Intercâmbio é para quem decide voltar para o Brasil e o curso completo é para quem deseja avançar em uma faculdade no exterior”, explica.
A especialista ressalta que alguns cursos e carreiras que ainda não fazem parte da demanda de mercado no Brasil. “Dessa forma, se o candidato busca carreiras bastante específicas, com olhar especializado desde o início, as universidades no exterior podem oferecer excelentes opções que no Brasil demandaríam outros níveis de estudo”, pontua.
Nesses casos, Renata explica que, ao retornarem ao Brasil, os alunos trazem diferenciais importantes para o mercado de trabalho, além de formas de aplicar conhecimentos que ainda não são amplamente reconhecidos no país.
Falta de informação
Projetos para cursar a universidade no exterior não são tão divulgados, o que dificulta a obtenção de bolsas de estudo. “Tive muitos alunos que se formaram profissionais bastante completos após vivenciarem o programa Ciências Sem Fronteiras, por exemplo, que infelizmente não existe mais”, compartilha Renata.
Apesar da falta de incentivo, Anna aconselha aqueles que desejam estudar no exterior a não desistirem, pois vale a pena. “Muitas pessoas da minha escola me julgavam por ter esse sonho, não dei ouvidos a elas e hoje já morei em dois países. Nada é impossível se você realmente quiser aquilo! Pesquise, se planeje, vá atrás!”, compartilha.
A publicitária argumenta que muitas pessoas desconhecem os programas de intercâmbio ou estudo em universidade no exterior, o que as leva a acreditar que são acessíveis apenas aqueles que têm melhores condições financeiras. Por isso, acredita que o governo brasileiro deve divulgar mais essas oportunidades, incentivando os cidadãos a explorar novos horizontes.