Crianças em processo de desenvolvimento escolar estão vulneráveis a situações de sofrimento e alertam isso com sintomas físicos.
Lana Bianchessi
A tristeza de sair de seu ambiente confortável e frequentar um lugar com outras pessoas fora da sua rotina acontece em todas as idades. Porém, essa situação, por mais que seja normal, é assustadora para as crianças que estão começando sua vida escolar.
Mudanças de rotina, pessoas diferentes a sua volta, novas regras e novos horários são alguns dos motivos para esse amedrontamento. Em alguns casos, este desconforto pode mudar negativamente o comportamento da criança.
Segundo uma pesquisa do Datafolha, 34% dos estudantes estão com dificuldade de controlar suas emoções desde que voltaram a ter aulas presenciais, de acordo com seus pais.
O psicólogo clínico Felipe Lemos explica que o primeiro contato com o ambiente escolar pode afetar positivamente a criança, incentivando a socialização e vivência com outras pessoas parecidas com ela. Também existem questões que podem ser negativas, “uma vez que é um ambiente novo e o novo pode ser ameaçador de certa forma”, complementa.
Gabrieli Ponte Zampronio Ciseski, mãe de duas meninas, relata sobre as pequenas coisas que acontecem com a filha mais velha na escola. “Muitas vezes acontecem situações que são pequenas aos nossos olhos, mas aos olhos dela já são motivos grandes para ela não querer ir para a escola”, conta.
Alguns comportamentos que alertam
A preocupação dos pais é nítida quando percebem algo suspeito no filho, mas nem sempre é fácil identificar quando a criança está em sofrimento escolar. Atitudes que requerem mais atenção são:
- desconforto além do período de adaptação: quando o sofrimento persiste depois da fase de acomodamento;
- choro excessivo: quando a criança chora muito ao ser deixada na escola ou perto do momento de ir para o colégio;
- mudanças de comportamento: crianças naturalmente extrovertidas podem se retrair, enquanto aquelas mais quietas passam a chorar com frequência;
- alterações no sono e alimentação: é possível que a criança sinta sono muito tarde ou acorde com frequência;
- agressividade: a criança fica agressiva com os colegas, familiares e os pais;
- sintomas sem causa biológica: é o caso de dores de cabeça, barriga e nos membros (pernas e braços), por exemplo;
- Atrasos nos marcos de desenvolvimento.
A criança também apresenta resistência de voltar à escola. “Ela chegava em casa contando o que havia acontecido e no dia seguinte mostrava muita relutância em ir para a escola novamente”, expõe Gabrieli sobre sua filha.
Como lidar
O psicólogo explica que todo sofrimento da criança tem que ser validado, a necessidade dela de ter alguém como referência e servir como ponto de apoio, pode dar a ela confiança nos pais. “Mesmo se acontecer coisas ruins ali no ambiente, ela sabe que os pais vão acolhê-la e salvá-la do ambiente nocivo”, diz ele.
A mãe comenta que na prática é mais complicado: “ao mesmo tempo que eu preciso acreditar nela, eu preciso levar em conta alguns exageros e partes não contadas das histórias”. O mundo da criança na escola é completamente desconhecido aos pais e o que a Gabrieli sabe é o que a filha conta e o que a professora informa.
Felipe ainda ressalta que os pais, mais do que ninguém, conhecem os filhos e o dia a dia deles antes de entrarem na escola. Eles sabem quando acontece alguma coisa que foge daquela normalidade. É muito importante que se investigue e veja o motivo do comportamento incomum, para que assim a situação seja resolvida de uma forma cabível às circunstâncias.