Estudo revela que o uso de tablets é nocivo na primeira infância.
Nátaly Nunes
Um estudo apresentado na Revista JAMA Pediatrics apontou que os acessos de fúria de crianças podem ter ligação direta com o uso das telas. Segundo a pesquisa, no decorrer de um ano, crianças de 3,5 anos aumentaram sua frustração usando tablets. Logo, crianças de 4,5 anos que continuavam tendo esse acesso, aos 5,5 anos (um ano depois), já estavam com maiores índices de raiva.
A famosa “birra”, em vários casos, é considerada compreensível quando levado em conta que as crianças pequenas ainda estão aprendendo a lidar com seus sentimentos, porém, o uso dessas telas é um dos fatores que pode resultar nessa maneira exagerada de tentarem conseguir o que querem.
O problema
Segundo a pediatra Patrícia Crivellari, nos 3 primeiros anos da criança é preciso dar uma atenção especial, pois é quando o cérebro está com uma capacidade aumentada de se adaptar e se desenvolver. “Nesse período ocorre o desenvolvimento da linguagem e comunicação social, sendo indispensáveis para que a criança desenvolva sua autoestima e percepção como indivíduo ”, explica Patrícia.
Ela ainda acredita que enquanto as crianças estão gastando tempo com o tablet nas mãos, elas deixam de aprender a como lidar com o mundo real e suas emoções. Quando o convívio e a criação direta dos pais é deixada de escanteio, os pequenos não aprenderão a resolver os dilemas por conta própria levando à raiva e o descontrole.
Distanciamento social
Alguns pais estão com a rotina cada vez mais corrida e usam desses meios como forma de escape para que seus filhos passem o tempo com algo prático e que com alguns simples cliques eles consigam ficar entretidos. Atrelado a isso, os malefícios de terceirizar esses momentos juntos podem ser sérios e preocupantes pois não estarão estimulando seus filhos da maneira certa.
‘’O uso prolongado das telas faz com que a criança passe mais tempo isolada do mudo real e do convívio familiar/social, o que interfere diretamente no seu desenvolvimento. No pior caso pode ocasionar possíveis sintomas relacionados à ansiedade e depressão com grande probabilidade de acarretar em sérios danos psicológicos no futuro”, salienta a psicóloga Denise Silva.
A psicóloga ainda completa que a sensação de segurança que os pais trazem é substituída pela solidão quando o vínculo é barrado pelo tablet, smartphone, televisão ou outras tecnologias.
Equilíbrio entre o sim e o não
Nascidos na era digital, as crianças estão inseridas nesse meio e alguns pais consideram um desafio controlar e privar 100% das telas. “Nunca dei celular e nem Ipad. As vezes que a gente tentava e dava alguma coisa era muito difícil porque ele queria continuar assistindo e não queria mais fazer outra coisa. Então eu percebi que ele não tinha maturidade para eu tentar fazer acordos”, relata Edilaine Mendes, mãe do Rafael de 3 anos.
A psicóloga levanta a questão de que em todos os casos deve-se ter equilíbrio e que o uso das tecnologias pode ser proveitoso dentro da faixa etária correta e com a supervisão dos responsáveis. “O uso de aparelhos eletrônicos sendo bem orientado e utilizado pode se tornar um auxiliar em atividades de estímulo cognitivo, pois existem várias ferramentas e jogos educativos que podem ser utilizados para o desenvolvimento da criança”, descreve Denise.
Uma das estratégias adotadas por Edilaine foi colocar podcasts de historinhas infantis para ele ouvir, assim, a tela não é usada como pretexto para passar o tempo de tédio em lugares fora de casa, por exemplo. O pequeno Rafael com seus 3 anos, passa a semana recheado de atividades (como a aula de musicalização). Porém, aos domingos, tem passe livre para jogar alguns minutos de vídeo game com o pai.