Ansiedade e depressão são os principais transtornos a se preocupar.
Kleber Paim
O Governo Federal lançou, no dia 11 de março, um guia chamado Crianças, Adolescentes, e telas: Guia sobre uso de dispositivos digitais. O objetivo deste guia é construir um ambiente digital mais seguro e saudável. A divulgação também oferece ajuda aos pais e responsáveis para combater o excesso de tempo em frente às telas em geral, celular, computador, tablets e TV.
De acordo com a psicóloga Annye Sthall, um estudo feito com crianças e adolescentes pós-pandemia apresenta uma preocupação no desenvolvimento da depressão com o uso do celular. “Com a utilização exagerada das telas, crianças e adolescentes, têm a tendência de desenvolver com mais facilidade a depressão, para ser mais específica, 72% de chance de crescer esse transtorno”, afirma.
Annye também conta que crianças e adolescentes têm cada vez mais dificuldades de interagir socialmente, devido a autorregulação do celular. Ela explica que quando uma criança tem um contato diário com esse tipo de tecnologia, se desenvolve o que chamamos de “Dopamina Virtual”, um termo usado para descrever a liberação de dopamina no cérebro, como forma de prazer, ligando os neurônios e mandando as informações para o corpo. “No momento em que o celular notifica, uma curtida por exemplo, o neurotransmissor é acionado, te estimulando a querer ter mais”, ressalta.
No programa Réporter Brasil, da TV Brasil, o secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), João Brant, destacou que o guia vem, também, como uma ajuda para as famílias se adaptarem a essa crescente da tecnologia, nesses últimos anos. “Precisamos trabalhar na forma do pacto, como a gente valoriza o uso positivo dos dispositivos digitais ao mesmo tempo evita os usos negativos. Para isso, é preciso ter a informação na mão para saber estabelecer limites”, completa.
Celular nas escolas
No dia 13 de janeiro deste ano, foi sancionada a lei que restringe o uso de aparelhos eletrônicos portáteis no ambiente escolar, pelo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esta norma visa defender a saúde mental, física e psíquica das crianças e adolescentes, durante a aprendizagem nas escolas.
A professora Alessandra Mamprin conta como foi essa mudança na escola em que ela trabalha. “A mudança foi nítida, o volume da conversa no intervalo, em sala de aula mesmo, realmente teve uma maior interação entre os alunos”, relata.
Alessandra também conta como foi toda a logística em relação ao uso do celular.“ Todos os funcionários ficaram mais atentos para monitorar quem estava com o celular ou não, quando o aluno usa o celular sem uma autorização, é recolhido o celular, que fica em uma cofre na escola, e só é retirado na hora de ir embora”, explica.
Com a pandemia o uso de telas cresceu exponencialmente. Um estudo realizado em 2024, mostrou o Brasil em segundo lugar como o país que mais fica online durante o dia, um recorte feito com pessoas de 16 a 64 anos. A professora Alessandra afirma que a pandemia incentivou muito o uso das telas. “Era uma janela para o mundo, onde todos estavam restritos em suas casas, com certeza a pandemia foi um causador desse aumento e quando voltou a interação, já tinha esse apego com as telas”, declara.
Orientações
O guia do governo faz algumas recomendações para auxiliar ainda mais tanto os pais quanto os responsáveis a tomar o maior cuidado com as crianças e adolescentes. Como:
- Não disponibilizar celular próprio para crianças antes dos 12 anos de idade;
- Não usar telas para crianças com menos de 2 anos;
- O uso de dispositivos digitais deve se dar aos poucos.
A psicóloga Annye ainda dá outras dicas para reduzir o tempo em frente às telas. “É de extrema importância a prática de exercícios físicos. Estar em prática de algum reduz o estresse, reduz os sintomas depressivos e ajuda também no convívio social, que nessa fase é muito importante a socialização”, reforça.