Adultos que descobrem o autismo na fase adulta e entendem muitos comportamentos da infância
Kawanna Cordeiro
Estima-se que hoje 70 milhões de pessoas no mundo todo possuem algum tipo de autismo, também conhecido como Transtornos do Espectro Autista (TEA), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O autismo se caracteriza devido a alterações que causam problemas no desenvolvimento da linguagem, nos processos de comunicação, na interação e no comportamento social da criança. No Brasil, existe pouco mais de 2 milhões de autistas, segundo a OMS.
O autismo não possui uma causa específica e normalmente é diagnosticado na infância. “O primeiro passo para o diagnóstico é observar o comportamento da pessoa e conversar com familiares e cuidadores. Normalmente, há comportamentos padrões que podem sugerir o diagnóstico. Para realmente identificar o transtorno, é necessária uma avaliação completa com o psiquiatra/neurologista/neuropediatra, preferencialmente especializado, que vai confirmar ou descartar a hipótese de acordo com os critérios de avaliação da CID 10, que é a Classificação Internacional de Doenças”, revela a psicóloga Bárbara Calmeto, especialista em educação inclusiva. A medicina sugere alguns fatores de risco como pais mais velhos, se na família já existem casos do transtorno ou se a criança já possuir outras condições genéticas, como Síndrome de Down.
Os sintomas normalmente começam na infância, quando a criança tarda a firmar as primeiras palavras, costuma fazer movimentos repetitivos ou se estressa facilmente quando uma atividade não sai como esperado. Porém, os sintomas também podem chegar na idade adulta como o caso de Guillaume Paumier, francês, 31 anos, quando recebeu seu diagnóstico de autismo. Sua história viralizou na internet após escrever seu texto “Minha vida como autista e wikipedista”.
Mas porque tão tarde? “Após algumas dificuldades no trabalho meu parceiro decidiu compartilhar a sua suspeita sobre eu estar no espectro autista. Eu sabia pouco sobre isso na época, mas era uma hipótese que explicava muitas coisas, e parecia que valia a pena explorá-la”, conta o jovem em seu blog. Bárbara fundamenta como funciona o diagnóstico tardio. “A grande questão do diagnóstico na fase adulta é a sensação que a pessoa tem de que algo não se encaixa nos “padrões socialmente aceitos” e isso só vai ser entendido após a confirmação do diagnóstico”, explica. Normalmente, as pessoas que só têm diagnóstico de autismo na fase adulta possuem um grau leve do espectro, que não compromete significativamente aspectos da linguagem e da aprendizagem, acrescenta a psicóloga.
Medidas
Após alguns testes, Guillaume teve o resultado positivo do transtorno. Foi quando entendeu alguns aspectos da sua vida que até então eram incompreendidos. “Meus pais contam que, embora eu não entusiasmasse com a ideia de ir à escola durante a semana, eu sempre pedia para ir aos sábados, porque a maioria das crianças não estava lá. Não é que não gostasse delas, mas a escola ficava muito mais silenciosa do que durante a semana, e eu tinha todos os brinquedos só para mim, eu não precisava interagir com as outras crianças, dividir os lápis, nem a sala. Eu podia fazer qualquer coisa sem ter que me preocupar com as outras crianças”, lembra o jovem. Passou-se quase 30 anos até que ele pudesse olhar para trás e entender que tudo fazia sentido e estava tudo bem. Nisso, ele sentiu a necessidade de compartilhar com outros a sua experiência, foi quando criou o blog.
Bárbara esclarece que assim como no caso de Guillaume o espectro diagnosticado na fase adulta é notado por familiares e pessoas próximas. “Depois do fechamento do diagnóstico, o ideal é que a pessoa com autismo faça uma avaliação, junto com familiares e amigos se necessário, de aspectos que causam prejuízo à vida dele. Esses aspectos poderão ser trabalhados em terapias específicas e grupos de habilidades sociais”, revela. Além disso, caso seja necessário, poderá acontecer intervenção medicamentosa e atividades focadas na autonomia e independência.
Vale lembrar que apesar de todas as dificuldades o autismo nunca limitou e nunca irá limitar ninguém. Seu diagnóstico traz respostas para comportamentos até então não compreendidos. Porém, pessoas com autismo seguem sua vida normalmente, na escola, faculdade, casamento e mercado de trabalho.
Link da imagem:
https://goo.gl/yhb7sb