Carmem Iorrana
Nos últimos anos, o número de jovens que decidem se aventurar por outros países em busca de novas experiências cresceu de forma considerável. De acordo com projeções da Organização Mundial do Turismo (UNWTO), em 2020, cerca de 300 milhões de viajantes jovens irão para outro país. Porém, em meio à vontade de ter um passaporte carimbado, existe um obstáculo chamado dinheiro.
“A partir do momento que eu decidi ir, comecei a traçar metas”, conta Guilherme Manhães, que, depois de ter a oportunidade de participar de uma escavação na Jordânia atrelada à seu curso em Teologia, ousou mochilar pela Europa com € 68 (média de R$ 300). Guilherme decidiu aceitar a proposta da escavação em fevereiro de 2019. Por isso, teve apenas três meses e meio para arrecadar fundos. Estes deveriam suprir suas necessidades tanto na Jordânia quanto durante a viagem por outros 11 países do continente europeu. Entre eles, estão França, Itália e Áustria.
O dinheiro para a viagem de Guilherme foi angariado por meio de campanhas de crowdfunding na internet (vaquinhas), aulas de reforço particulares em Física e Química, ajuda de familiares, amigos e desconhecidos, além de investimento em conta poupança. Para o controle de todas as movimentações, desenvolveu uma planilha dinâmica, na qual atrelou fórmulas. Por lá, já debitava o valor do dízimo (10% de cada ganho), que ele fez questão de separar por motivos religiosos.
Além disso, conseguiu ganhar dinheiro em alguns países com sua câmera fotográfica. Guilherme se aproximava de turistas que estavam como ele – sozinhos – e se oferecia para tirar fotos em troca de gorjetas. “Então, se [o turista] achasse que a foto valesse € 1, ele me dava € 1 ou 2 […], que fizeram total diferença, já que completavam o valor do metrô”, explica. Já os € 68 que o estudante havia trazido do Brasil ficaram reservados para alimentação, lembranças, situações de emergência, ou, caso não ganhasse gorjetas, transporte público. As passagens de um país para o outro já haviam sido compradas pela internet antes da viagem, e Guilherme também havia assegurado locais para dormir. Ficou em hostels e utilizou a prática do couchsurfing (dormir no sofá de alguém, conforme combinado via internet). “Não queria o risco de ter que dormir na rua ou passar por alguma coisa que deixasse a viagem perigosa”, completa o mochileiro cauteloso. Toda essa aventura custou em cerca de R$ 6000. Poderia ter sido mais barato, de acordo com o estudante. Mas, na Jordânia, ele não teve a possibilidade de escolher o hotel, nem onde iria comer: tudo já estava organizado pela expedição.
“Acho que todo mundo que queira um dia realizar um sonho, seja ele qual for, na parte financeira, há possibilidade”, intensifica Manhães, que já está trabalhando em seu próximo mochilão. Guilherme afirma que decidiu planejar melhor esse segundo tour, para não trabalhar insanamente em um período curto de tempo, como da primeira vez.
“Não fiz nada disso… Fui aleatoriamente”, confessa Carla Naiza. A estudante de Direito não se planejou muito ao decidir mochilar para países como Suécia e Irlanda. Para baratear sua aventura pela Europa, utilizou suas conexões interpessoais. “Eu tinha dois contatos na Europa e outros foram surgindo ao longo do caminho”, lembra. Essas duas pessoas eram ex-alunos da instituição na qual estuda (Unasp Engenheiro Coelho), e, com elas, conseguiu local para dormir, sem precisar gastar com hostel em alguns países.
Entre suas maiores dificuldades, Carla comenta que os estereótipos em torno da mulher brasileira são fortes, e que isso exige maior atenção quanto à postura, ainda mais quando se viaja sozinha. Mesmo assim, a futura advogada pretende mochilar mais vezes, e, da próxima vez, irá se planejar mais.
Já Marcos Lopes, estudante de Publicidade e Propaganda, adota um método mais livre em seus mochilões. Embora tenha só 24 anos, já morou em países distintos, como Moçambique, Índia e Rússia. Em 2016, fez seu primeiro mochilão. Contou com € 200 para fazer tudo dentro dos países. Nessa quantia, não foram inclusas as passagens de avião e ônibus. Além disso, não levou cartão de credito, e também utilizou couchsurfing e carisma para se enturmar com pessoas que chegaram até a pagar passeios para ele. Marcos diz que não se planejou da primeira vez e nem da segunda – e não tem vontade de mudar para a próxima aventura. “As experiências são únicas e enriquecedoras, de uma forma incrível. É um crescimento pessoal quando você viaja sozinho; uma época de autodescobertas que é muito positiva para vida. Então, vá em busca de conhecer pessoas, e não apenas monumentos”, recomenda Lopes.