Produto feminino vem ganhando espaço no mercado brasileiro por ser sustentável e ter ótimo custo-benefício.
Hellen de Freitas
Os coletores menstruais vêm ganhando um espaço maior no mercado, ao longo dos últimos anos, pela facilidade, contribuição para o meio ambiente e custo-benefício. Os modelos podem variar, sendo que os mais comuns têm o formato de um pequeno copo, feito de silicone maleável que pode conter o fluxo menstrual por até 12 horas, alternando de acordo com cada organismo.
A empresa brasileira Inciclo, voltada para produção de produtos femininos cresceu 156% no ano de 2020, foi uma das pioneiras dos coletores menstruais. A ideia veio da empresária Mariana Betioli após uma viagem para o exterior na qual ela descobriu o produto e achou que seria uma ótima ideia trazer para o Brasil, já que na época nem mesmo os médicos tinham muito conhecimento sobre o assunto.
Na época do crescimento em massa a Inciclo conseguiu contratar 50 funcionários novos e abrir 600 novos pontos para a revenda de suas mercadorias gerais e, principalmente os coletores que trouxeram a fama para a empresa.
Benefícios sustentáveis
O diferencial dos coletores se deve à ajuda que o produto traz para o meio ambiente, por conta do seu material permitir a sua reutilização ao ser lavado e inserido novamente, algo que nenhuma outra mercadoria menstrual tinha feito. A estimativa é de que durante a vida fértil se utilize cerca de 10 a 15 mil absorventes, que produzem cerca de quatro a cinco quilos de lixo por ano.
No Brasil, os absorventes não são reciclados e não existe um descarte adequado para eles, levando assim a se acumularem nos lixões. Além disso, a decomposição leva cerca de 100 anos para se concretizar em consequência dos componentes do objeto.
Experiências
Apesar dos coletores fazerem sucesso, nem sempre proporcionam a melhor experiência, afinal, cada corpo se adequa ao produto de uma maneira. As irmãs Girotto são um exemplo dessa afirmativa.
Sabrina Girotto, esteticista, tomou conhecimento dessa vertente menstrual através da internet após ver pessoas do seu nicho começarem a falar sobre. ‘’A minha experiência continua a ser maravilhosa depois de 2 anos de uso, por ser ecológico, mais higiênico e muito mais funcional, eu brinco que posso virar de ponta cabeça utilizando o coletor. Sinto que aumenta as cólicas mas por outro lado regulou demais o meu ciclo. Eu adoro, uso muito e não irei abandonar mas sei que cada um tem a sua vivência”, relata.
Já a sua irmã Thaís Girotto, estudante de Psicologia, não conseguiu se adaptar pois sempre vazava durante o seu ciclo além de causar incômodos. ‘’Mesmo utilizando ele todo ciclo por uns seis meses, nunca consegui fazer com que ele encaixasse corretamente, sempre tinha que colocar um protetor diário junto para os escapes, também depois de algumas horas ele começava a incomodar e eu tirava. Há uns quatro meses descobri e testei os absorventes de algodão, me adaptei muito melhor e por causa disso não estou mais usando o coletor. Para mim, não é a melhor opção pois não consegui encaixar corretamente, mas quando preciso usar por um longo período, ainda o utilizo’’, conta.
Vantagens na saúde íntima e mitos
De acordo com a doutora Susana Mesquita, especializada em ginecologia e obstetrícia, existem vários benefícios do uso dos coletores. Segundo ela, as vantagens do uso vão desde a liberdade de não estar com um absorvente em contato íntimo com a pele a poder fazer exercícios físicos sem se preocupar com vazamentos ou com assaduras causadas pelos plásticos que compõe o absorvente, além de não precisar fazer a troca por até 12 horas.
Susana também relata que não há infortúnios, sem contar a ausência de qualquer tipo de cheiro. ‘’Não dói, não incomoda e também não causa odores desagradáveis que, geralmente, ocorrem no uso dos absorventes, além de tudo, ele dura em média três anos, o que o torna um excelente custo-benefício do ponto de vista financeiro”, explica.
Por ser um produto relativamente novo, alguns mitos são propagados por conta da falta de informação, a médica Susana citou os três mais comuns. O primeiro mito é que ele pode doer ou até mesmo incomodar, mas a verdade é que se bem inserido, a paciente não sentirá absolutamente nada.
O segundo mito comum é sobre a retirada, alguns pacientes acham que ele pode ficar “perdido” dentro do canal vaginal ou que a sua retirada pode ser difícil, o que não ocorre, pois a retirada é muito fácil. O terceiro mito mais comum é sobre alergias, o coletor é feito de material atóxico e hipoalergênico, portanto, é indicado para aquelas mulheres que sofrem com alergias pelo uso de absorventes.
De maneira geral, como especialista, a doutora indicaria para as suas pacientes o uso dos coletores. ‘’Sim, indico o uso para todas as minhas pacientes, tenho no consultório um modelo e lá posso ensinar e explicar as formas de uso, dicas de como retirar, formas variadas de dobras e a maneira adequada para higienizar’’, conta.
Projetos de lei
A deputada Júlia Lucy, do partido Novo, teve proposta autorizada e a lei (Lei nº 7.051/2022) entrou em vigor no dia quatro de janeiro deste ano. A medida tinha como objetivo oferecer às escolas públicas e Unidades Básicas de Saúde (UBS) coletores menstruais para as mulheres e estudantes que se encontram em uma posição de vida precária no Distrito Federal.
Outra medida relevante realizada em 2022 foi a aprovada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, sobre um projeto que altera a Lei 14.214/21, no qual adiciona a Política de Conscientização acerca da Menstruação e de Universalização do Acesso a Absorventes Higiênicos, Coletores Menstruais e Assemelhados no âmbito do Sistema Único de Saúde (Menstruação sem Tabu) ao Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual.
O programa inclui, dentre outros objetivos, o fornecimento gratuito e universal de absorventes higiênicos, coletores menstruais e assemelhados às pessoas que menstruam, e o incentivo à produção de produtos menstruais sustentáveis, destacando principalmente oferecer coletores e absorventes gratuitos para mulheres em situação de rua ou em privação de liberdade.