Número de crianças não alfabetizadas dobra em dois anos

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40,8% das crianças brasileiras não foram alfabetizadas entre 2021 e 2022.

Natália Goes

Após a pandemia, a taxa de crianças analfabetas dobrou. A análise foi feita pela UNICEF, em parceria com a Fundação Vale. Foram analisados dados oficiais da Pnad Contínua, em que o percentual de crianças entre 6 a 7 anos que foram privadas da educação dobrou em relação a 2020, passando de 1,9% para 3,9%.

A privação da alfabetização impacta diretamente a infância e adolescência da criança. Para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a alfabetização é um ponto crucial dos dois primeiros anos do Ensino Fundamental.

Para Manoela Campos, diretora de uma escola pública no estado de Sergipe, a alfabetização na idade certa é fundamental para não comprometer o aprendizado dos alunos nos anos seguintes. “Quando a alfabetização não é feita na idade certa e de forma correta, futuramente poderão aparecer na estatística de alunos com distorção idade-série”, declara. 

A alfabetização na faixa etária correta influencia diretamente na continuidade dos estudos. A diretora afirma que quando não é feita no tempo certo, aumenta a probabilidade de o aluno não concluir o Ensino Médio, pois corre o risco de perder o interesse pela escola por se sentir excluído em pertencer a uma turma com faixa etária diferente.

Crise sanitária

Antes da pandemia da Covid-19 o país já apresentava pequenas melhorias no acesso ao direito à educação, mas com a pandemia o cenário mudou. O vírus causou a suspensão de aulas presenciais e obrigou as redes de ensino a se adaptarem nos últimos dois anos. Segundo os dados divulgados pela Unicef, essa é a justificativa para a queda na alfabetização.

Depois da crise sanitária muitas crianças ainda não voltaram para as escolas, mas na Escola Euvaldo Diniz Gonçalves a diretora fez uma mobilização com todos os colaboradores para que as crianças pudessem retornar à sala de aula. “Fizemos uma mobilização para conscientizar os pais sobre a importância do retorno dos alunos à sala de aula, para que os prejuízos do tempo da pandemia na aprendizagem fossem minimizados”, conta Manuela Campos.

Em meio a pandemia, Renata Rodrigues, mãe do Eike de 8 anos, desenvolveu atividades para que seu filho não fosse prejudicado com a leitura. “Apesar de eu não exercer a profissão, eu fiz a faculdade de Pedagogia. Achei que era um momento de colocar em prática teorias que eu tinha aprendido na faculdade. Imprimimos para ele um alfabeto simples e colamos atrás da porta do meu quarto. Ele fazia a leitura deste alfabeto e fazia as lições. Com o tempo ele já estava lendo e escrevendo sozinho”, conta a mãe.

A carência da leitura vai além do problema da crise sanitária. Muitas vezes, as famílias não possuem recursos ou até mesmo preparo cultural para adquirir livros para suas crianças. Esse não é o caso da família do Eike, a mãe dele afirma que a educação vem em primeiro lugar. “Isso não interfere, porque podemos ir na biblioteca e pegar livros emprestados, temos bastante livros em casa. Incentivo muito ele na leitura,” pontua Renata.

Além da crise sanitária 

O estudo feito pela Unicef foi além da educação, analisando também Renda, Educação, Trabalho Infantil, Moradia, Água, Saneamento e Informação. O cenário após a análise é preocupante, mostra a pobreza multidimensional.

Segundo os dados divulgados pelo órgão, em 2021  o percentual de crianças e adolescentes que viviam em famílias com renda abaixo da linha de pobreza monetária extrema (menos de 1,9 dólar por dia) alcançou o maior nível dos últimos cinco anos: 16,1%, versus 13,8%, em 2017. No caso da alimentação, o contingente de crianças e adolescentes privados da renda necessária para uma alimentação adequada passou de 9,8 milhões em 2020 para 13,7 milhões em 2021 – um salto de quase 40%. 

As pessoas mais impactadas vivem em situação mais vulneravel, como negros e indigenas e pessoas das regiões Norte e Nordeste

Projetos especiais

Apesar das dificuldades de algumas escolas públicas e da taxa de alfabetização das crianças ter caído nos últimos dois anos, existem projetos que incentivam e ajudam as crianças com a leitura.

Um desses projetos é a Estante mágica, um negócio social que começou há 14 anos, com Pedro Concy e Robson Melo. O propósito do projeto sempre foi transformar o mundo por meio da educação. Eles uniram forças e buscaram entender quais eram as necessidades dentro das escolas. 

“Através de uma aprendizagem significativa, auxiliamos as escolas a levarem mais reconhecimento para o trabalho dos educadores e conectarem a criança com o aprendizado, transformando-os em protagonistas do processo de ensino-aprendizagem”, comenta o projeto.

De forma gratuita, o programa oferece uma experiência de aprendizagem que segue o currículo da escola e transforma os alunos em autores do próprio livro e criadores do próprio game. A comemoração vem depois com uma noite de autógrafos. O projeto conta com 20 mil educadores, mais de 7 mil escolas e 280 colaboradores que participam do sonho de transformar o mundo.

Com o  objetivo de impactar o mundo através da leitura, em 2018 eles expandiram até a Colômbia e México, o projeto seguiu crescendo até que em 2021 chegou em Portugal e Espanha. Já em 2022, eles alcançaram a marca de 2,5 milhões de crianças autoras e lançaram o jogo Estante Mágica. 

A leitura e escrita de livros por crianças é a base do programa, e ajuda no desenvolvimento das mesmas. “Escrever um livro, para além do incentivo à leitura e escrita, é sobre expressar sentimentos, desenvolver as competências e habilidades socioemocionais e estimular a criatividade”, afirma o projeto.

Outro projeto, é o Programa Myra- Juntos pela Leitura que surgiu através de uma parceria da Comunidade Educativa CEDAC com a Fundação SM, que trouxe o projeto da Espanha e adaptou para o Brasil. A Fundação SM é uma instituição sem fins lucrativos, que tem como missão contribuir para o desenvolvimento integral das pessoas por meio da Educação.

O projeto tem como base quatro pilares: Formação e valorização dos professores; Fomento à leitura e à produção literária; Apoio a projetos socioeducativos; e Apoio à pesquisa educacional. Ele funciona a partir da  atuação conjunta da escola, de voluntários e da família. 

O Programa Myra tem como objetivo contribuir para melhorar cada vez mais o desempenho leitor de estudantes, de 4º a 6º anos do Ensino Fundamental de escolas públicas brasileiras. Parte também do pressuposto de que a leitura é um importante caminho para o conhecimento de si e do mundo, além de configurar uma prática social capaz de ampliar as possibilidades de ação e intervenção no mundo.

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