A faixa etária ainda sofre com o etarismo no espaço de trabalho, além de ser a mais prejudicada com relação às demissões.
Sara Helane
Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostrou que o número de pessoas com 50 anos ou mais cresceu no Brasil. O censo realizado no período entre 2012 e 2019, constatou um crescimento de 5% desta parte da população que saiu de 23% para 28% neste período.
Com relação aos empregos, pessoas nessa faixa etária são as que mais sofrem com demissões e falta de oportunidades. De acordo com estudos e especialistas, o etarismo e o receio por parte das empresas ainda são os principais motivos na hora da contratação e até na demissão dos funcionários.
Receio das empresas
A psicóloga organizacional, Kelen Sabini, explica que as empresas têm receio ao contratar pessoas com mais de 50 anos, pois têm critérios específicos que podem ser obstáculos na hora da efetivação. “Em empresas de tecnologia, por exemplo, ainda não há abertura para esse público, visto que não acreditam que possuem habilidades com informática e receiam que a pessoa possa ter dificuldade em acompanhar a equipe”, diz.
De acordo com Kelen, a falta de oportunidades e o receio por parte das empresas também está na disponibilidade de vagas operacionais que exigem esforço físico do trabalhador. A psicóloga diz que grande parte da população com mais de 50 anos não está disponível para cargos operacionais e que esse público que busca uma oportunidade enfrenta o desafio da sobrecarga de um trabalho operacional.
Demissões por etarismo
De acordo com o Dicionário Online de Português, o termo “etarismo” significa “Discriminação ou preconceito em razão da idade, nomeadamente aversão a pessoas mais velhas ou à própria velhice”. Atualmente, no Brasil, existem cerca de 77 processos contra empresas envolvendo o etarismo. Os processos estão em tramitação na Justiça do Trabalho e, juntos, somam R$20,64 milhões. Os dados são da empresa de jurimetria, DataLawyer.
De acordo com o levantamento, disponibilizado em julho de 2023, empresas devem indenizar os colaboradores que sofrem etarismo de alguma forma em suas funções, seja relacionado em processos de seleção, demissões ou no próprio espaço de trabalho.
Caso as empresas optarem por recorrer da ação, precisarão alegar a inexistência de etarismo no local de trabalho, como consta artigo 373-B, presente na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) pela reforma trabalhista (Lei nº 13.467, de 2017).
Se o etarismo for comprovado e houver rompimento de vínculo com a empresa, o trabalhador terá o direito de receber indenização por dano moral, além de poder recorrer, caso queira reintegração na empresa, e ser ressarcido integralmente por todo período que passou afastado. Caso o trabalhador não queira a reintegração no emprego, terá direito a receber o dobro do salário acumulado no tempo de afastamento.
Experiência
Kelen enxerga que, atualmente, ainda há pouca oportunidade para pessoas com 50 anos ou mais. “O que vejo hoje é uma empresa com quadro de 600 colaboradores com uma vaga para pessoas com mais de 50 anos”, aponta.
Segundo Kelen, é necessário políticas de melhoramento nas próprias organizações para a maior contratação de pessoas com mais de 50 anos. A recrutadora ainda ressalta que as empresas que adotarem medidas, como o oferecimento de mais vagas, para a inserção dessas pessoas no seu quadro de funcionários, terão mais diversidade, experiência de vida e análise crítica dentro do local de trabalho.
Pessoa com mais de 50 anos
A autônoma, Clarisse Silva, de 53 anos, conta que já não tem mais pretensões em trabalhar de maneira formal. Depois que fez 50 anos, sentiu que teve mais dificuldades para avançar nas oportunidades de empregos. “Nem procuro mais trabalho, na verdade, é difícil para alguém como eu ainda ter esperança de arrumar alguma oportunidade de carteira assinada, então, por enquanto faço uns ‘bicos’ aqui e ali”, conta.
Clarisse ainda conta que, atualmente, para ajudar nas despesas de casa, vende doces caseiros e produtos de beleza de maneira autônoma. “Vender esses produtos me ajuda muito na renda de casa. Como moro sozinha com meu esposo que é pedreiro, acaba que essa renda é suficiente enquanto ainda não tenho a idade de me aposentar”, completa.