Thamiris Senis
Falsas notícias já foram disseminadas pela mídia. Saiba como o jogo tomou as proporções erradas
Desde o mês de abril, reportagens sobre o jogo blue whale, ou mais conhecido no Brasil como baleia azul, tomaram conta de todos os meios de comunicação. Muito foi dito e especulado sobre o jogo, mas pouco se sabia de fato. Notícias falsas logo se espalharam e geraram uma onda de preocupação entre as famílias e escolas. É certo que muitas das notícias não eram verídicas, mas o alerta causado por elas teve o seu lado positivo. Pais, diretores, professores e psicólogos começaram a se preocupar mais com os adolescentes e tomar as devidas precauções.
O adolescente Fernando* admite que conseguiu fazer parte do jogo por algumas semanas e informou que a maioria dos moderadores são russos. “Foi difícil entrar. Eles realmente pesquisam muito sobre sua vida. Além disso, quase não existem brasileiros no jogo e então a comunicação também não é das melhores”, afirma. O jovem também confessou ter entrado no jogo por curiosidade. Hoje, se sente ameaçado pelo fato deles saberem tudo sobre a sua vida e por conta disso prefere não se identificar.
A psicóloga Mônica Marques diz que os adolescentes e pré-adolescentes estão em uma fase de descobertas e autoafirmação. Portanto, faz parte da idade ter curiosidade pelo oculto e proibido. “É muito normal que eles queiram saber e vivenciar justamente aquilo que lhes é negado”, explica. Ela também atenta aos pais para outro fator importante nesse período: a aceitação dos amigos. “Eles querem mostrar aos amigos que fizeram algo além dos limites impostos. Ignoram as consequências para testar os limites pregados e também os seus próprios”, destaca.
No entanto, a rede social, ponto de encontro entre amigos, não é o palco da baleia azul. Fernando revela que o jogo é feito por meio de chats ocultos e horários agendados. “Eles marcam uma hora para conversar e, no meio dessa conversa, sem você saber, já está dentro do jogo”, conta. Perfis falsos criados nas redes sociais só serviram para atiçar a curiosidade, pois foi por meio deles que o jogo ficou bem famoso. “O jogo já existe desde 2015, mas ele acabou ganhando mais adeptos por conta da mídia”, acredita.
Mônica faz um último alerta em relação ao jogo. “O Baleia Azul coloca crianças e adolescentes em uma situação de fragilidade e pressão. A falta de maturidade agrava a situação”, enfatiza. E ela ainda afirma o rendimento escolar decresce em função dos vários distúrbios que aparecem. “Surgem noites em claro, distúrbios alimentares, isolamento, problemas de socialização, ou seja, fatores que estressam ainda mais e se torna um terreno fértil para vários problemas psicológicos”, alerta.
Ana Célia, mãe de Pedro que acaba de completar 15 anos, afirma que foi surpreendida com as notícias que leu a respeito do jogo. “A gente fica assustado e sem entender por que os jovens estão procurando meios de tirar a própria vida”, questiona. A mãe ainda relata que teve uma conversa com o filho, na qual a base foi o diálogo. “Fiquei tão assustada que logo chamei o Pedro para uma conversa e, na maior parte do tempo, me comprometi a escutar”, garante.
A psicóloga Mônica Marques aconselha aos pais para que sejam compreensivos e mantenham o diálogo com seus filhos assim como Ana fez. “É preciso estreitar diálogo e confiança entre pais e filhos para orientar o comportamento”, declara. Mônica ainda atenta para o fato de que o adolescente passa muito mais tempo longe dos pais e com acesso ilimitado a internet. “As crianças e adolescentes passam tempo na escola, com amigos e, com o acesso facilitado à tecnologia, podem se encontrar facilmente em situações de vulnerabilidade, como entrar em jogos ao estilo baleia azul”, denuncia.
*Preferiu não se identificar
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