Longa de Walter Salles garante a primeira vitória brasileira na história da premiação.
Victor Bernardo
O filme brasileiro “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, venceu o prêmio de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025, em cerimônia realizada neste domingo (2). O longa é baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, que conta a história da resistência de sua mãe, Eunice Paiva (Fernanda Torres) diante do desaparecimento do marido, Rubens Paiva (Selton Mello), preso, torturado e morto pela ditadura militar.
O diretor Walter Salles representou o filme no palco, exaltando a história de Eunice Paiva e a conquista histórica para o Brasil.
Também concorriam nesta categoria “A garota da agulha”, da Dinamarca; “Emilia Pérez“, da França; “A semente do fruto sagrado”, da Alemanha e “Flow”, da Letônia.
O prêmio representa a primeira vitória brasileira na principal premiação do cinema mundial. O país já havia concorrido à estatueta em outras quinze ocasiões diferentes, com destaque para “Central do Brasil” (1999), com duas indicações, e “Cidade de Deus” (2004), que concorreu em quatro categorias.
Ainda estou aqui
A obra relata a história de Rubens Paiva, um político sequestrado e assassinado pela ditadura militar brasileira em 1971, e como sua esposa, Eunice, interpretada por Fernanda Torres, enfrenta a dor e a luta para proteger seus filhos e descobrir a verdade sobre seu marido.
O filme contou com uma boa recepção no Brasil, onde mais de quatro milhões de pessoas já assistiram à produção, fazendo com que o país se unisse em apoio ao longa e estabelecendo o longa no top-5 de maiores bilheterias em filmes nacionais.
Antes da vitória no Oscar, o filme já havia levado mais de 30 prêmios no circuito de festivais de cinema, depois de ter sido exibido e indicado em mais de 50 festivais. Entre os reconhecimentos mais notáveis, “Ainda estou aqui” recebeu o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Veneza e garantiu o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama para Fernanda Torres.
O filme também se destacou nas principais premiações do cinema braisleiro, além de fazer história como a primeira produção nacional indicada à principal categoria do Oscar.
Além de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional, “Ainda estou aqui” foi indicado na categoria de Melhor Atriz, com Fernanda Torres, que concorre com Cynthia Erivo, de “Wicked”; Karla Sofía Gascón, de “Emilia Pérez”; Mikey Madison, de “Anora” e Demi Moore, de “A Substância”. Walter Salles, por sua vez, não foi indicado a Melhor Direção. O roteiro, premiado em Veneza, também não foi lembrado na categoria de Melhor Roteiro Adaptado.
Impacto fora das telas
O sucesso da produção brasileira também trouxe impactos positivos para além das telas de cinema. Muito mais do que prestígio entre o público, os críticos e a repercussão em festivais internacionais, “Ainda estou aqui” tem se mostrado de extrema importância na continuidade da luta travada por Eunice Paiva.
A mídia gerada em torno do longa impulsionou o debate sobre o caso do ex-deputado Rubens Paiva, que segue sem conclusão há mais de 45 anos, mas voltou a receber atenção do Supremo Tribunal Federal (STF).
Recentemente, o ministro Flávio Dino relatou um caso que discutia se a Lei da Anistia deve incluir crimes de ocultação de cadáver cometidos durante a ditadura militar. Citando o livro de Marcelo Rubens Paiva, o ministro levou a decisão para o plenário da Corte.
Confira a lista completa de vencedores
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