Representantes querem a troca de embaixador e pedem para dialogar com autoridades mundiais na Assembleia Geral.
Ester Leite
O atual Governo do Talibã nomeou seu porta-voz, Shuhail Shaheen, como embaixador do Afeganistão nas Nações Unidas. Além disso, ainda pediu em carta a Antônio Guterres, secretário-geral da ONU, para discursar na 76ª Assembleia, que ocorreu do dia 14 a 30 de setembro, segundo visto pela Reuters, agência de notícias britânica.
O pedido de envio do porta-voz como representante à ONU, gerou incômodo, uma vez que cada Governo envia uma representação legitimamente escolhida. Com a quebra do poder anterior, surge a indagação de autenticidade. A ONU se preocupa com a autodeterminação dos povos, então, até que ponto a população concorda que a troca é fundamental para a organização.
Segundo a graduanda de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense, Ana Carolina, a troca de poder pode influenciar nas relações exteriores e internacionais bilaterais ou regionais que o Afeganistão tenha. Isso, uma vez que a visão cultural de cada país influencia em sua interpretação da legitimidade da troca de comando.
Diferente da Rússia e China, que se posicionaram para manter relações comerciais normalmente com o grupo afegão, os Estados Unidos e outros países da União Europeia demonstraram preocupação por conta de sua visão ocidentalizada de direitos humanos e democracia. Para Guterres, o pedido feito pelo grupo Talibã de reconhecimento internacional, pode ser o único meio das outras nações exigirem deles o cumprimento dos direitos, principalmente das mulheres, diz em publicação da CNN.
Embora as autoridades venham assumindo um discurso de mudança, a sua interpretação extremista da lei islâmica Sharia, pode ameaçar os direitos básicos das mulheres, como o acesso à educação. Restrição essa que prejudica o avanço do país, como comenta Ana: “Isso corta a possibilidade de maior desenvolvimento econômico, maior desenvolvimento científico, mais equidade, menos risco de conflito armado”.
Mudança de Pasta
O comando extremista irá substituir a pasta de Assuntos Femininos pela do Ministério da Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, conhecida por aplicar políticas severas e violações dos direitos humanos, no seu primeiro governo no país, em 1990.
Embora o novo Governo diga que agirá com equilíbrio, comparado à sua primeira concessão de poder, as mulheres em sua maioria não têm autorização para trabalhar e o gabinete é composto apenas por homens. Até então as autoridades do Talibã não quiseram se pronunciar à Agence France- Presse (AFP), agência francesa de notícias, a qual também registrou a substituição da placa da pasta por trabalhadores.