A morte de Fernando Villavicencio levantou questões sobre o futuro do país e da estabilidade política.
Camilly Inacio
Fernando Villavicencio, candidato à presidência no Equador, foi assassinado ontem (09), a apenas 11 dias das eleições, com três tiros na cabeça após sair de um comício em uma escola na cidade de Quito. Fernando era jornalista investigativo, tinha 59 anos e afirmava ter uma posição de centro na política. Ele se declarava defensor de causas indígenas e trabalhistas, além de ter como um dos pilares de sua campanha o combate à corrupção.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, um grupo grupo criminoso – Los Lobos – reivindicou o assassinato do candidato afirmando que “isso é o que acontece com políticos corruptos que não cumprem suas promessas”. A facção também ameaçou outro candidato, Jan Topic.
Impacto social
Após o impacto inicial gerado pelo assassinato do político Villavicencio, a população entrou em estado de alerta, e os apoiadores do político falecido saíram às ruas para cobrar medidas efetivas do presidente Guilherme Lasso e manifestar contra o crime cometido no Equador.
A professora universitária e comunicadora equatoriana Andrea Ocaña confessa que a população se encheu de perplexidade quando souberam quase em tempo real do assassinato de Fernando Villavicencio.
Ela conta que nos últimos meses várias pessoas com cargos públicos e políticos foram mortas, além de existirem ameaças a outros funcionários. “Isso sem dúvida marca uma lamentável novidade no exercício da democracia eleitoral em nosso país”, declara Andrea.
A comunicadora expõe que o Equador é um país onde a percepção de corrupção na classe política é muito alta. “No último relatório do Latinobarômetro, percebemos que os equatorianos não confiam em nossas instituições e nós não confiamos na democracia. Portanto, isso pode afetar ainda mais a percepção pública da integridade política, sem dúvida”, explica Andrea. Além disso, ela afirma que muitos dos líderes desses grupos criminosos estão associados a alguns políticos.
O assassinato de Fernando colocou o país em uma situação vulnerável e arriscada politicamente, o que, segundo a docente, pode desencorajar a participação na política. Ela também ressalta que o Equador precisa reconhecer que o crime organizado é uma consequência, não a causa, dos problemas do país e que é crucial identificar as causas estruturais que levaram a essa situação.
Impacto político
Após o susto de ter um dos presidenciáveis morto de forma brutal, a incerteza das eleições tomou conta do país. No entanto, o governo equatoriano declarou estado de exceção e manteve a data das eleições para 20 de agosto.
O estado de exceção é uma medida que o governo adota durante crises para manter a ordem e a segurança, permitindo a restrição temporária de direitos individuais. Nas eleições, isso pode ser usado para proteger o processo eleitoral de ameaças, mas também levanta preocupações sobre abuso de poder e manipulação política.
O atual presidente do Equador, Guillermo Lasso, disse em uma rede social que o crime contra Villavicencio não pode ficar impune: “O crime organizado chegou muito longe, mas o peso da lei vai cair neles”, afirmou o presidente.
Enquanto isso, o ex-presidente Rafael Correa, a quem Villavicencio era crítico, lamentou o assassinato do candidato e disse que o país se tornou um “estado falido”. O político expressou sua solidariedade à família de Fernando e a todas as famílias das vítimas da violência. “Aqueles que pretendem semear ainda mais ódio com esta nova tragédia, espero que entendam que ela só continua nos destruindo”, apontou o ex-presidente.
Os demais candidatos presidenciais e representantes de outros países também demonstraram repúdio ao ato criminoso e lamentaram a tragédia, mostrando condolências para com a família enlutada.
Com o seguimento das eleições, a Organização dos Estados Americanos (OEA) solicitou aos outros candidatos presidenciais do Equador que fortaleçam as medidas de segurança. Além disso, a organização recomendou ao governo equatoriano que assegure a proteção dos participantes envolvidos no processo eleitoral, enfatizando a importância da integridade e segurança durante esse período.
Com auxílio de Maria Fernanda Chire