Pesquisa mostrou que a prática auxilia na diminuição dos sintomas e na melhora da qualidade de vida.
Yasmim Ferreira
Serotonina, endorfina e dopamina. Conhecidos como hormônios da felicidade, são os responsáveis pela sensação de bem-estar, prazer e vitalidade no corpo humano. A atividade física potencializa a liberação desses hormônios, auxiliando na redução dos sintomas de transtornos como a depressão.
Um novo estudo realizado pela Universidade da Austrália do Sul, mostra que a atividade física é 1,5 vezes mais eficaz que medicamentos ou psicoterapia no combate à depressão. Recentemente publicada pelo British Journal of Sports Medicine, a pesquisa contou com 128.119 participantes e mostrou que a prática de exercícios físicos realizada por um período de até 12 semanas, é altamente benéfica para melhorar os sintomas de pessoas com doenças crônicas e transtornos mentais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão está relacionada a alterações de humor, comumente marcadas pela tristeza e perda de interesse em atividades que se tinha prazer em fazer. O tratamento precisa ser acompanhado por um médico psiquiatra e pode ser feito através da psicoterapia, medicação e mudanças comportamentais, como a prática de atividade física.
Medicação x Atividade física
O médico psiquiatra Tiago Aricó é um grande adepto ao mínimo uso de remédio possível, indicando para seus pacientes os tratamentos multidisciplinares relacionados à medicação com exercícios físicos. Para ele, quando comparados, ambos se completam, promovendo um aumento de bem-estar e de produção hormonal. “Mas cada caso deve ser analisado com carinho e cuidado por um profissional qualificado”, revela.
Marlon Zeilinger tem 30 anos e atua como construtor. Ao ser diagnosticado com depressão, iniciou seu tratamento através das medicações, mas revela que sentia-se como um balão sem ar. “Vazio por dentro”, comenta.
O construtor tomou a decisão de ir para academia com o objetivo de melhorar essa doença que o afligia, mas sofreu muito no início. “Me sentia incapaz e não tinha ânimo para treinar todos os dias. Mas com o tempo fui ganhando confiança e gosto pela coisa. Optei pela academia e ela me ajudou a trazer de volta a sensação de vida e de querer viver”, diz.
Para o médico, os medicamentos para depressão, ou psicofármacos, funcionam de forma parecida à atividade física, estimulando a produção dos neurotransmissores responsáveis pela felicidade. “Esses medicamentos atuam no cérebro de diversas formas. Eles provocam aumento na concentração de neurotransmissores na fenda sináptica através da inibição do metabolismo, bloqueio da recaptação neuronal e/ou atuação em auto receptores pré-sinápticos”, explica.
Inúmeros benefícios
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, a depressão é considerada uma doença que incapacita pessoas de todas as idades, estima-se que afete atualmente mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Para Laura David, educadora física que atua na saúde pública e mental, cada sujeito tem a sua história e motivos para que a depressão tenha sido potencializada, mas que é necessário tentar se movimentar para melhorar a qualidade de vida.
“Nós somos seres psicossociais e a realização de um exercício, feito de forma regular, vai ajudar a equilibrar os pensamentos, prevenir doenças, além de outras promoções de saúde que vão acontecer”, conclui.
Segundo a psicóloga Michelle Rodrigues, a atividade física também auxilia no desenvolvimento de habilidades sociais, motoras e cognitivas, na redução de estresse, regulação do sono, aumento da concentração e memória. Ela revela que o sentimento que se ganha na prática é importante para uma vida com sentido e em constante desenvolvimento.
Os estudos da Universidade da Austrália do Sul mostraram que caminhadas, treinamento de resistência, exercícios aeróbicos, pilates, ioga e todos os outros tipos de atividade física e exercício foram benéficos para a saúde mental. No caso de transtornos, como a depressão e ansiedade, os exercícios que tiveram maior impacto foram os de maior intensidade.
A psicóloga termina fazendo um alerta para aqueles que tomam medicação, revelando que a prática de atividade física poderá auxiliar na retirada dessa medicação, mas não deve ser feita por conta própria e sim com orientação médica. “Lembre-se sempre da importância de um cuidado integral e que em alguns momentos o uso de psicofármacos se mostra necessário, vinculados a outros cuidados com você,” conclui.