Mudanças reais no cérebro da mulher grávida podem afetar a memória e o raciocínio lógico.
Sâmilla Oliveira
Uma pesquisa feita pela Universidade de Melbourne, na Austrália, afirmou que durante a gravidez muitas mulheres experimentam um fenômeno conhecido como “Baby brain“. Esse é um estado de confusão mental e esquecimento temporário.
Segundo os pesquisadores, isso acontece porque durante a gravidez, ocorre a diminuição no volume de substância cinzenta no cérebro da mulher, que é o tecido que carrega os neurônios responsáveis por coordenar impulsos, atividades musculares e o processamento de informações.
Segundo uma pesquisa publicada pela revista JAMA, as mudanças hormonais durante a gravidez podem ser uma das principais causas do baby brain. De acordo com a pesquisa, o aumento dos níveis de progesterona e estrogênio pode afetar a função cerebral, resultando em dificuldade de concentração, esquecimento e confusão mental.
Segundo a psicóloga clínica Marina Brum o baby brain nada mais é que uma esperada alteração no funcionamento mental e emocional das mulheres, que estão de fato passando por um processo de intensa mudança. “Para a grande maioria dos casos, acolhimento, tolerância e empatia já ajudam muito”, afirma.
Compreensão e acolhimento
Essa incômoda (e passageira) condição assustou a turismóloga Sara Botelho. Grávida de três meses, já começou a sentir mudanças. “Estranhamente confusa. Foi assim que me senti quando me vi esquecendo procedimentos simples no trabalho. Logo eu, que sempre fui conhecida por fazer e pensar várias coisas ao mesmo tempo, não conseguia terminar uma tarefa simples sem me confundir ou me distrair”, relata.
Sara conta que já tinha “superado” o susto que foi a descoberta da gravidez, mas não soube lidar imediatamente com esse “sintoma” que a acompanhava. “Foi difícil aceitar que eu não era mais a mesma, eu chorava todas as noites. Por diversos momentos eu levei tudo isso para o lado negativo”, lamenta.
A psicóloga Marina explica que existem alterações químicas reais nas funções do cérebro da mulher desde o início do processo de gestação. “É como se o cérebro mandasse um alerta para todo o restante do corpo de que algo diferente está acontecendo, e que este período é um momento de preparação, reorganização e muito trabalho, ou seja, uma remodelação cerebral em decorrência da maternidade”, afirma.
Nasce um filho, nasce uma mãe!
A psicóloga Marina ressalta que os cuidados com o recém chegado bebê devem ser estendidos com prioridade à mãe. Segundo ela, a maternidade, desde seu descobrimento, coloca a mulher em um turbilhão de sentimentos, dúvidas e expectativas. “Acolher a mulher torna-se indispensável. Ações como promover uma escuta afetiva e mostrar-se disponível dentro daquilo que para ela tem sentido no momento, faz toda a diferença”, aconselha.
Para a nova mamãe Sara, o apoio da família tem sido fundamental. “Eu tive a chance de explicar o que estava acontecendo e eles entenderam e aceitaram. Eles costumam me dizer constantemente que vai passar”, conta. Sara ainda diz que fazer listas dos seus afazeres tem ajudado muito. “Agora posso dizer que estou em paz, só esperando a Ágata nascer”, finaliza.
Marina afirma que cada gestação é singular em cada mulher. Ela explica que mesmo após o parto, com a intensa demanda de cuidados, privação de sono e gasto de energia emocional, é comum que o seu corpo leve um tempo para retomar seu funcionamento habitual. “Apesar disso, se os sintomas do Baby Brain persistirem por longo prazo e afetarem significativamente a vida da gestante/puérpera, ela deve recorrer a um especialista”, recomenda a psicóloga.