A aplicação da toxina botulínica é feita no trapézio para alongar o pescoço e valorizar a clavícula.
Ana Júlia Alem
A nova obsessão do TikTok, popularmente conhecida como “Barbie Botox”, já ultrapassou a marca de 10 milhões de visualizações na plataforma. A tendência é baseada em aplicar a toxina botulínica no trapézio a fim de alongar e afinar o pescoço, além de valorizar a ‘saboneteira’ – nome popular da clavícula – para torná-la mais aparente.
O procedimento dura menos de uma hora e consiste em injetar cerca de 60 unidades da toxina nos músculos na região posterior do pescoço e tórax. Quando injetado o botox, o músculo encolhe, dando ao pescoço a aparência mais fina e contornada. A técnica custa cerca de cinco mil reais.
Originalmente, o procedimento foi concebido para auxiliar na liberação dos músculos que estavam sobrecarregados e poderiam ocasionar enxaquecas e tensões no pescoço. Porém, a técnica passou a ser administrada off-label – uso diferente do descrito na bula – para fins estéticos. “Apesar de estar ganhando forças nas redes sociais, o uso da toxina botulínica pode causar febre, enfraquecimento dos músculos do trapézio e botulismo, por exemplo”, comenta a dermatologista Isabela Mendes.
As experiências
Segundo uma pesquisa publicada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, desde 2017, houve um aumento de 54,4% em procedimentos minimamente invasivos, como Botox e preenchimentos. Além disso, a projeção do relatório mostra que o mercado global de injetáveis faciais vai duplicar e atingir a marca de 36,8 bilhões de dólares até 2032.
Um dos vídeos mais visualizados da nova tendência foi o de Isabelle Lux, uma criadora de conteúdo de 32 anos de Palm Beach, na Flórida. Ela conta que procurava emagrecer os ombros em preparação para seu casamento e, quando conheceu o “Botox da Barbie”, resolveu tentar, mesmo que estivesse receosa.
Em seu vídeo, a influencer explicou que o botox “veio da ideia de ficar mais parecida com uma Barbie quando terminasse, o que eu não acho que seja algo ruim”. Após o procedimento, Lux foi orientada a evitar carregar peso, realizar exercícios ou massagens por pelo menos três dias.
Outra influenciadora que também experimentou a técnica foi Catherine Lockhart, de 27 anos. Quatro semanas após o procedimento, a americana publicou vídeos contando sobre sua experiência. Segundo ela, por trabalhar com redes sociais e passar muito tempo no celular, seus ombros estavam tensos e doloridos. Por isso, quando viu outros vídeos sobre o procedimento, resolveu experimentar.
Em sua publicação no TikTok, Catherine conta que o procedimento aliviou as dores que sentia, e para melhorar, afinou seu pescoço. “Não me preocupo em injetar toxina botulínica no meu corpo. Aplico botox preventivo no rosto desde os 19 anos e nunca tive nenhuma reação”, relata.
Os efeitos colaterais do “Botox da Barbie”
Para Isabelle Lux, as 40 doses aplicadas em cada trapézio mostraram resultados muito positivos, como o alongamento do pescoço, ombros mais finos e um físico muito delicado. “Na primeira semana, senti muita dor, tensão e rigidez no pescoço e ombro. Porém, dois meses depois, estava me sentindo melhor do que nunca”, diz. Lux finalizou o vídeo dizendo que já está planejando uma sessão de recarga para o inverno.
O resultado pode ser bom, mas a duração é curta. Dependendo do paciente, pode levar de quatro a doze meses para a toxina perder o efeito. Além do curto período, a técnica pode resultar em diferentes problemas de saúde para o indivíduo. “Primeiramente, acredito que esse procedimento deve ser contraindicado para fins estéticos, pois trata-se da aplicação de grande quantidade de um produto no corpo”, explica a dermatologista Isabela.
A médica informa que quando o botox é injetado em um músculo, ele interrompe a conexão com o nervo e, com o tempo, o músculo se enfraquece e paralisa, causando o encolhimento dele. “Porém, se administrado de maneira inadequada, a toxina pode paralisar completamente o músculo, enfraquecer a conexão nervosa da região e prejudicar os movimentos do pescoço, ombros e braços”, diz.
Para a dermatologista, a maior preocupação é a de que esse procedimento vem sendo realizado por esteticistas ou cabeleireiras que não têm experiências clínicas ou conhecimento de anatomia. “Isso é um procedimento médico e deve ser tratado como tal”, reitera.
Para finalizar, ela questiona até que ponto vale a pena utilizar uma técnica terapêutica para fins estéticos. “Não acredito que compense se expor a altas doses de toxina botulínica apenas para atingir o padrão de uma boneca irreal. Ainda mais quando se tem efeitos temporários. Minha dica é: deixe de lado as obsessões do TikTok e contate um profissional e entenda melhor sobre os procedimentos que são, de fato, seguros”, termina.