Segundo a ONU, a poluição sonora provoca 12 mil mortes prematuras por ano na União Europeia e afeta aproximadamente 100 milhões de americanos.
Luiza Strapassan
A poluição sonora começou a ser discutida em comitês ambientais nos anos 70. Não muito tempo depois, em 2024, o assunto voltou a ser uma das pautas principais dos grupos ambientalistas após o lançamento de uma nota. O alerta divulgado pela ONU diz que a poluição sonora urbana está se tornando uma ameaça global à saúde pública.
A linha de trem do metrô de Manhattan passava ao lado de metade das salas de aula da Public School 98, escola do estado de Nova York, nos EUA. Cerca de 15 vezes por dia as aulas eram interrompidas pelo barulho e tremores do trem, atrapalhando a linha de raciocínio dos professores e principalmente das crianças.
Após muitos anos de reclamações, Arline Bronzaft, professora de Psicologia no Lehman College, da City University of New York (Cuny), publicou um estudo que mostrou que as crianças que estavam ao lado da linha do metrô tinham mais dificuldades e atrasos em relação ao resto.
Ela descobriu que a parte silenciosa da escola tinha conseguido aprender a ler e a escrever de 3 a 4 meses antes da parte barulhenta. O nível médio das notas de leitura das turmas também tiveram uma diferença considerável.
Após esses resultados terem sido divulgados, a Autoridade do Trânsito instalou amortecedores de borracha, que serviram como abafadores nos trilhos do trem, e o Conselho de Educação equipou as salas com materiais de isolamento acústico.
O que é poluição sonora?
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), poluição sonora se refere aos sons em determinado volume e quantidade que ultrapassam os níveis da normalidade para os seres humanos. Diferentemente dos outros tipos, a poluição sonora não acumula resíduos nos mares, terra ou ar, mas afeta diretamente os seres humanos.
A organização reforça que nem todo som é considerado poluição sonora. Os níveis sonoros a partir de 65 decibéis (db) são considerados ruídos, prejudiciais à audição humana. O recomendado pela organização é não ultrapassar os 50 db durante o dia, e para dormir melhor, manter abaixo de 30 db.
Prejuízos
De acordo com a neuropsicopedagoga, Cleonara Novaes, o cérebro humano, independentemente da idade, precisa de condições ideais para aprender, como atenção focada e direcionada. As interferências causadas por ruídos roubam parte desse foco e provocam “lacunas”, alterando a capacidade desse órgão de absorver a maior parte de conhecimento possível.
Cleonara complementa que a exposição ao ruído influencia negativamente o desempenho cognitivo. A presença constante de estímulos sonoros perturbadores demanda a atenção do cérebro, tornando desafiador focar em atividades que exigem concentração, como estudo ou trabalho.
“O barulho gera um estado de alerta constante no sistema nervoso. O cérebro, interpretando o excesso de estímulos sonoros como ameaças potenciais, desencadeia uma resposta de estresse. Este estado prolongado de alerta contribui para o aumento dos níveis de cortisol, o hormônio do estresse, desencadeando uma série de efeitos negativos no corpo”, explica a neuropsicopedagoga.
A especialista alerta que o ruído excessivo também desempenha um papel significativo no desenvolvimento e agravamento de distúrbios de ansiedade, já que ambientes ruidosos criam um clima de desconforto constante. Isso aumenta os sintomas de transtornos de ansiedade existentes ou desencadeia a manifestação de novos quadros.
Soluções
Luciana Maria, mãe de uma criança de 4 anos, afirma que seu filho perde a concentração com facilidade, principalmente com barulho. Ela percebeu que ruídos ao redor geraram interesse e preocupação, fazendo com que seu filho queira terminar as atividades mais rápido, para poder ver o motivo do barulho.
Para ela, se as escolas aprimorassem a dinâmica de atividades externas e tivessem uma boa acústica no ambiente, para neutralizar os barulhos externos, seria um grande feito para as crianças.
Já para a neuropsicopedagoga, o ideal seria salas que tivessem paredes à prova de ruídos ou até mesmo que o silêncio fosse mantido como ordem nas escolas e arredores.
Em casa, muitas famílias não conseguem manter momentos de silêncio. Algumas moram em áreas barulhentas e outras são compostas por muitas crianças ou parentes. Apesar disso, a neuropsicopedagoga afirma que o ideal é que a criança em idade escolar tenha um ambiente adequado para estudar.
“Em Belo Horizonte, temos uma escola na área nobre em que todas as salas têm paredes acústicas. Em outra, na mesma área, os alunos usam fones que abafam ruídos internos e escutam somente a voz do professor. Quando querem se manifestar fazem seus questionamentos por chats”, compartilha.
Ela acredita que cabe aos gestores procurar meios de manter o silêncio nas escolas, já que assim poderia haver maior parte da fixação de conteúdos científicos.