Estudo do Sebrae aponta aumento nos números de mulheres empreendedoras em 2022, após crise econômica dos últimos anos com o impacto da pandemia.
Larissa Vieira
O número de mulheres empreendedoras no Brasil vem crescendo, chegando a marca histórica de 10,3 milhões de mulheres sendo donas dos seus próprios negócios. Esse número é equivalente a 34% do total de empreendedores, de acordo com a última pesquisa do Sebrae realizada no ano passado.
Atualmente o número de mulheres abrindo negócios no Brasil não para de crescer, mas nem sempre foi assim. De acordo com o Sebrae, em estudo feito a partir de um levantamento da Global Entrepreneurship Monitor, entre 2018 e 2021, o país registrou uma enorme diminuição nos números femininos. Com uma queda, entre as mulheres, de quase o dobro do que entre os homens.
Pandemia, desemprego e empreendedorismo
A pandemia foi um grande fator para esta queda das mulheres no ramo. Elas foram as mais afetadas, já que precisaram lidar com fatores externos: a perda de renda, o desemprego em uma situação imprevisível, a impossibilidade de ir trabalhar fora de casa, muitas vezes com a ‘dupla jornada’ de trabalho.
Diversas mulheres precisaram cuidar de seus filhos, que não iriam mais para escola e em alguns casos, até mesmo cuidar de mais idosos, como avós ou pais. Tudo isso contribuiu para que as empreendedoras tivessem mais dificuldades para trabalhar fora, logo a alternativa foi optar pelo empreendedorismo, trabalhando de casa.
Segundo Dirlene Silva, CEO da DS Estratégias e Inteligência Financeira, a pandemia trouxe dificuldades para as mulheres no setor trabalhista. “Quando há uma perda de renda, uma situação de desemprego, e, principalmente numa pandemia que não havia sido prevista, registrou-se uma grande corrida pela sobrevivência, na qual muitas mulheres não conseguiram retornar ao mercado de trabalho”, explica.
Essa situação fez com que muitas mulheres começassem uma jornada de empreendedorismo, já que era uma necessidade. Sem qualquer tipo de planejamento e estrutura adequada, muitas empresas tiveram o seu começo de uma forma equivocada e sem instrução necessária. O que fez com que muitas destas não conseguissem manter seus negócios em atividade e fechassem naquele mesmo ano.
Em outros casos, iniciados pela necessidade, somente buscando uma renda provisória e emergencial enquanto não conseguiam um emprego, muitas mulheres se adaptaram ao home-office e em ser donas de seus próprios negócios. Diante disso, perceberam que esse método era uma alternativa viável para se sustentarem e que vinham sendo mais rentáveis do que em um emprego tradicional.
Lugar de mulher é onde ela quiser
A pandemia foi um propulsor para a criação de novos negócios online, como o da Laura Fernandes, dona da Moda Feminina Diferenciada. “A ideia partiu em 2021 em plena pandemia, em que me encontrei num estado de depressão, de repente me peguei em um momento muito delicado em que não conseguia ocupar minha cabeça com nada. Aí então tive a ideia de empreender, abrindo uma loja 100% on-line, pelo Instagram”, relata.
Como uma jovem antenada nas trends das redes sociais, conciliar a criação de conteúdo digital foi tranquilo para Laura que já acompanha e se identifica com esse ambiente online, tendo facilidade na criação de vídeos, postagens, fotos e design. “Além do benefício de estar lidando com algo que sempre gostei, eu ainda teria o retorno em renda extra. Arrisquei investindo 500 reais. Montei uma “Bag Delivery”, onde conseguia levar a malinha até a cliente experimentar”, conta.
O empreendedorismo feminino não cresceu só na pandemia, antes desse período já existiam empreendedoras fortes no ramo, que se mantêm no mercado até hoje. Como é o caso de Mirian Maria, a fundadora do salão de beleza, Mirian Hair Studio, que oferece trabalhos capilares, estéticos, manicure/pedicure e nail design. O negócio, criado em 2002, possui sua unidade em São José, Santa Catarina.
Nesse ano de 2023, a dona da empresa foi premiada no evento Emprendedoras Catarinense, na categoria da Beleza, como a personalidade empreendedora mais buscada na internet no seu estado. “Para mim foi a realização de um sonho. Empreender é um esforço diário. Uma premiação dessas nos faz olhar para trás e ver o caminho já trilhado, com isso me impulsionando a seguir em frente e ser reconhecida pelos meus esforços e dedicação”, comemora.
Muda-se a forma de consumo
A empresa de Mirian já existe a mais de 21 anos e durante todo esse tempo, ela vinha seguindo uma dinâmica de trabalho muito familiar para si, até a pandemia, quando tudo mudou. “É um trabalho presencial, que não pode ser realizado de forma online. Então depois da pandemia tudo mudou, tive que reaprender e me adaptar com as vendas pelo WhatsApp e com um atendimento mais personalizado e digital, movimentando muito mais as redes sociais. As clientes vêm gostando dessa dinâmica e se sentindo mais à vontade também”, declara a empreendedora.
A pandemia abriu as portas para os empreendedores, com uma valorização do digital, sendo mais presente e facilitando a compra online. Sem ter que sair de casa, as pessoas compram com mais facilidade, é o que conta Laura. “Isso se manteve mesmo após pandemia, tenho clientes que me falam que não se vêem mais indo em shopping ou andando a cidade em busca de uma roupa. Então as oportunidades que surgiram nessa época foram incríveis e ver isso se mantendo facilitou a consolidação das lojas no mercado ”, acredita.
O empreendedorismo é de todos, e ultimamente, principalmente das mulheres. “Nós mulheres empreendedoras estamos buscando nosso espaço no mundo dos negócios, sofremos com dificuldades e desafios, mas buscamos respeito com persistência. Antes a mulher era vista apenas como dona de casa e subordinada ao marido, mas ao longo dos anos, conquistou espaço no mercado de trabalho e tem buscado, cada vez mais, se desenvolver e se realizar profissionalmente”, afirma Laura.