Atividades exigem resiliência e preparo psicológico o que pode levar à exaustão.
Eduardo Reymond
Cuidar de idosos é uma profissão que exige preparo técnico, e sobretudo, resistência emocional. Um estudo publicado pelo Journal of Clinical Nursing aponta que cuidadores formais têm altos índices de burnout, e que mais de 60% deles relatam sintomas de exaustão emocional. Diante de pacientes em situação de vulnerabilidade física e psicológica, muitos cuidadores estão diante de uma rotina desgastante que pode comprometer a própria saúde.
A atuação dos cuidadores de idosos se concentra na assistência geral. Eles precisam lidar diariamente com a dor, o sofrimento, as limitações e até mesmo o fim da vida de seus pacientes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil já ultrapassa os 30 milhões de idosos, e a tendência é que esse número dobre até 2050. Com o envelhecimento populacional, cresce também a demanda por cuidadores e, junto a ela, os desafios emocionais dessa função.
Estresse por convivência
Luciana Fontes, cuidadora de idosos e responsável por um lar, compartilha sua vivência:
“Por Deus e para Deus. Pensar espiritualmente sobre o trabalho que faço é um bálsamo.” Para ela, a fé é uma das ferramentas que a ajudam a suportar o peso emocional da profissão. “É um trabalho que exige muito. É um chamado. Só quem faz por missão consegue ficar”, completa.
A cliente Shirley Lima, familiar de uma idosa assistida, também comenta sobre o ambiente:
“É um lugar pesado, com pessoas doentes e debilitadas. Isso afeta até quem está só passeando, imagine quem cuida o tempo inteiro”, destaca.
Já para Sônia Silva, que atua em uma casa de repouso, a realidade é desafiadora. “Muitos idosos aqui têm transtornos mentais psicóticos. Às vezes, presenciamos surtos psiquiátricos difíceis de controlar. É um ambiente que manifesta doença, rejeição e morte”, ressalta.
Ela aponta também a dificuldade em lidar com comportamentos hostis. “É comum os idosos serem mal-educados ou ingratos. A gente busca entender o porquê das atitudes, mas são situações bem chatas”, conta.
A psicóloga Elisabete Eliandra alerta para os riscos emocionais dessa exposição constante. “Estar diante da dor dos outros constantemente, aumenta a carga emocional”, afirma. Ela explica que muitos cuidadores negligenciam seus próprios sentimentos e acabam desenvolvendo quadros de estresse, ansiedade e até transtornos do sono.
A falta de apoio institucional, baixos salários e a sobrecarga de trabalho agravam ainda mais o cenário. “A empatia é uma ferramenta importante, mas sem limites saudáveis, ela pode ser destrutiva para quem cuida”, aponta Elisabete.
Soluções e prevenções
Existem políticas públicas de valorização e cuidado com os cuidadores de idosos. Além de treinamentos técnicos, é essencial que haja suporte psicológico contínuo, rodas de conversa e espaços de escuta dentro das instituições onde atuam. “É preciso lembrar que quem cuida também precisa ser cuidado,” conclui Elisabete.
O psiquiatra Rodrigo Balada reforça a importância de preservar a saúde dos cuidadores. Segundo ele, é essencial que esses profissionais sejam treinados para lidar com os idosos e com suas próprias emoções. “A primeira chave é o autoconhecimento, cuidadores precisam aprender a reconhecer seus limites emocionais antes de ultrapassá-los,” afirma.
Balada sugere algumas medidas que ajudam a evitar o adoecimento mental e promovem um ambiente de cuidado mais equilibrado para cuidadores e idosos. Entre elas estão pausas programadas durante os turnos de trabalho, realização de acompanhamento terapêutico e desenvolvimento de rotinas de autocuidado, bem como a criação de grupos de apoio entre cuidadores. “O sofrimento emocional não pode ser tratado como parte natural da profissão”, conclui o especialista.