Dia do Professor: data para comemorar ou para refletir?

In Educação, Geral

Dados mostram que o prestígio da profissão no Brasil tem o pior índice entre os 35 países avaliados.

Gabrielle Ramos Venceslau 

O Dia do Professor relembra a missão que esse profissional tem de garantir uma educação de qualidade aos estudantes brasileiros. Apesar disso, a valorização e reconhecimento dessa profissão é muito baixa no Brasil, em comparação com outros países, o que desencadeia um problema em relação à remuneração adequada ao trabalho desempenhado pelos professores. Isso evidencia a necessidade de assegurar um processo formativo de qualidade, uma carreira bem-estruturada, e boas condições de trabalho. 

O papel do professor na visão deles

Para Leandro Reinaldo, professor graduado em Ciências Biológicas, o papel fundamental desta profissão é atuar na formação integral do indivíduo. Ou seja, “é ensinar, educar, ajudar na preparação para o mercado de trabalho e contribuir com o desenvolvimento do estudante”, afirma. 

Já Simone Oliveira, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia, complementa dizendo que além disso, também é função do professor “desenvolver novas competências e habilidades no processo ensino-aprendizado do aluno”. Ela enfatiza a importância desta profissão para promover o aprendizado e a construção do conhecimento. 

É por isso que ser professor é ter a oportunidade de construir uma sociedade melhor, preparada para fazer escolhas certas, afirma Karina Cordeiro, formada em Pedagogia. Assim, “o professor precisa estar sempre se atualizando e aberto para novas oportunidades”, explica.

Falta de prestígio do professor

Durante o período da pandemia da COVID-19, essa profissão conviveu com um sentimento de desvalorização. A pesquisa do Instituto Península revela que na percepção de 74% desses profissionais, os professores não são respeitados no Brasil, enquanto que para 77%, a profissão é desvalorizada. “A falta de suporte dificultou o acesso ao ensino para a maioria das crianças, visto que muitos professores não tinham os recursos necessários para atender as necessidades dos alunos”, afirma Karina que, atualmente, é orientadora educacional de um colégio particular. 

Segundo o relatório Global Teacher Status 2018, elaborado pela Varkey Foundation, o prestígio da profissão de professor no Brasil tem o pior índice entre os 35 países avaliados. O Brasil recebeu a nota mais baixa da escala de avaliação, apenas um ponto. Outra conclusão feita pela ONG, é que a valorização não está relacionada apenas à remuneração, pois também envolve a atratividade da carreira para os jovens, as condições de trabalho, o respeito pelos profissionais, dentre outros fatores. 

O professor de Biologia, Leandro, conta uma situação dentre as quais se sente desvalorizado na profissão. “Quando a gente [professores] encontra pais querendo nos ensinar a fazer nosso trabalho, fica parecendo que somos qualquer profissional, que ensinar é uma tarefa das mais simples e que aqueles que não tem nenhum tipo de informação têm o direito de impor suas ideias sobre nós”, expõe. 

A pesquisa também mostra que as notas do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) são consideravelmente mais altas em países que valorizam mais seus educadores. Na visão de Simone e Leandro, a promoção de oficinas e cursos de formação ou aperfeiçoamento, o reajuste salarial, a valorização do profissional e ações concretas do poder público podem ajudar na melhoria do reconhecimento da profissão do professor no Brasil. 

Além disso, outra ação que pode ser realizada é a valorização do local de aprendizado. “Como a sociedade vai respeitar o professor se eles muitas vezes trabalham num local que está caindo aos pedaços? Então o que acontece ali dentro não é importante? Por que respeitar quem trabalha ali?”, questiona o professor de Biologia. Assim, os prédios precisam ser alvos de ações a fim de criar um ambiente adequado para o aprendizado e fazer a sociedade respeitar quem trabalha ali, complementa Leandro. 

Remuneração adequada?

O piso salarial dos professores brasileiros que atuam nos anos finais do Ensino Fundamental é o mais baixo entre 40 países, de acordo com o estudo Education at a Glance 2021, divulgado em setembro, pela Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). Após usar uma escala de paridade de poder de compra, é possível comparar salários entre países e ver que, no Brasil, o salário inicial dos professores corresponde a 13,9 mil dólares anuais, já na Alemanha chega a 70 mil dólares. 

O rendimento médio bruto mensal dos profissionais do magistério no Brasil corresponde a 74,8% do total que os demais professores, com mesmo nível de escolaridade, recebem em outros países, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua em 2019, do IBGE. “O professor é muito mal remunerado no Brasil, principalmente em comparação com outros países e isso acaba desmotivando o profissional que se sente inferior em comparação a outras profissões”, afirma Simone, professora do Ensino Fundamental II e Ensino Médio.

Para o professor de Biologia, considerando a importância do papel do professor, o salário realmente deixa a desejar. “O salário pago aos professores de modo geral é muito baixo comparado a outras profissões que exigem nível superior. Além disso, exige-se que o professor ainda tenha especializações e que continue estudando a sua vida inteira”, explica.

Por isso, “faz-se necessário, além de melhorar a condição de trabalho, conscientizar pais e responsáveis, autoridades e a própria escola, que o professor é um mediador do conhecimento e que exerce um papel muito importante na vida dos alunos”, afirma a orientadora, em relação ao que seria necessário para que os professores recebam valorização, tanto em relação à remuneração quanto ao respeito pelos profissionais. 

Formação não capacita suficientemente 

Somado a todos estes desafios, 65% dos professores, ouvidos no estudo da pesquisa Retratos da Carreira Docente, do Instituto Península, concordam que a formação para esta profissão no Brasil não os prepara para as complexas situações às quais eles precisam lidar diariamente. 

Opinião que é compartilhada por Leandro. “A minha formação não me capacitou para todos os desafios que a minha profissão exige”, deixa claro, pois muitas vezes ele se vê como pai, psicólogo, psicopedagogo ou até mesmo médico do aluno. Dessa forma, precisa de diversos outros tipos de conhecimentos além daquilo que lhe foi ensinado no curso superior. 

Simone também diz que os desafios exigidos pela profissão são enormes. “Muitas vezes não estamos preparados para lidar com tudo que é proposto na prática pedagógica, como os assuntos pessoais dos alunos, que muitas vezes interferem no processo de ensino aprendizagem”, comenta.

Além disso, o professor de Biologia também ressalta que a desmotivação e falta de interesse dos alunos dificulta o ensino do conteúdo. Porque todas as teorias que ele aprendeu na faculdade partem da premissa de que tem alguém querendo ensinar e tem alguém querendo aprender. Contudo, muitas vezes, essas técnicas não funcionam na sala de aula. “Realmente a nossa formação acaba ficando defasada, ou acaba ficando longe da realidade que a gente enfrenta no dia a dia”, explica.

You may also read!

Fora das quadras: o que atletas fazem após se aposentar?

Como atletas de alto rendimento mudam a rotina – e a profissão – ao deixarem as competições. Helena Cardoso

Read More...

Deep fakes: o novo pesadelo da era digital

Especialistas alertam para traumas psicológicos e consequências legais para agressores, que podem pegar até 6 anos de prisão. Vefiola

Read More...

Plano Nacional de Educação não cumpriu suas metas

O prazo de 10 anos venceu em junho deste ano e precisou ser prorrogado. Nátaly Nunes A Campanha Nacional

Read More...

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu