Dia Mundial Sem Carne: porque ele existe?

In Geral, Meio Ambiente, Saúde

20 de Março é lembrado como o Dia Mundial Sem Carne e estimula a reflexão sobre esse consumo.

Lana Bianchessi

Comemorado em 20 de março, o Dia Mundial sem Carne é uma data-protesto criada nos Estados Unidos em 1985 através de uma iniciativa da ONG FARM (Farm Animal Rights Movement), uma organização sem fins lucrativos que defende os direitos dos animais e o veganismo. 

A data comemorativa surgiu com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre os direitos dos animais. Por isso, a representação da data é que as pessoas não consumam refeições com proteína animal e se lembrem de refletir sobre a necessidade de incluir alimentos de origem animal na sua rotina alimentar.

Dia Mundial sem Carne no Brasil

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), feita em abril de 2018, diz que 14% da população brasileira se declara vegetariana. Isso mostra que os brasileiros estão ficando cada vez mais interessados em ter uma dieta livre de proteína animal.

No Brasil, o Dia Mundial sem Carne ganhou visibilidade em 2014, quando a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) fez ações conjuntas com mais de 20 restaurantes por todo o país, com o objetivo de incentivar o maior número de pessoas a deixar a carne e derivados fora da alimentação cotidiana. Desde então, o mercado alimentício passou a mostrar novas opções que não possuem origem animal para os consumidores.  

Segunda-feira sem carne

Existente em mais de 40 países e apoiada por inúmeros líderes internacionais, a Campanha Segunda Sem Carne também se propõe a conscientizar as pessoas sobre os impactos que o uso de produtos de origem animal para alimentação tem sobre os animais, a sociedade, a saúde humana e o planeta.  

A campanha se baseia em separar todas as segundas-feiras no ano, convidando as pessoas a descobrir novos sabores ao substituir a proteína animal pela vegetal, pelo menos uma vez por semana. 

Ela foi criada inicialmente pela U.S. Food and Drug Administration, agência responsável pelas reservas de comida do exército americano e aliados durante a Primeira Guerra Mundial. Em 2003, a campanha reviveu nos Estados Unidos, com o objetivo de prevenir doenças causadas pelo excesso do consumo de carne e permanece até hoje. No Brasil, a iniciativa foi estabelecida em outubro de 2009 e hoje conta com o apoio de governos, empresas e celebridades.

Porque não comer carne?

Existem alguns motivos que fortalecem o não consumo da carne. Confira!

Benefícios à saúde

A abstenção do consumo de proteína animal pode trazer muitos benefícios à saúde. Segundo um estudo publicado em 2021 pela BMC Medicine, o consumo de carnes pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, metabólicas, diabetes, pólipo colorretal, refluxo, obesidade e a episódios de acidente vascular cerebral.

A nutricionista Larissa dos Santos Mendes diz que não comer carne “melhora a digestão, evita inflamações no corpo, ajuda na prevenção e no combate de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão e de alguns tipos de câncer”. 

Miriam Cristina de Moraes Rocha, também nutricionista, ensina que “mesmo com valores nutricionais de ferro e proteínas consideráveis na alimentação com carne, estudos mostram que a dieta vegetariana reduz níveis de colesterol e triglicerídeos, diminui também o risco de doenças cardiovasculares. Além disso, melhora os índices de vasodilatação no sistema cardiovascular, diminuindo risco de infartos e derrames, contribui com a diminuição de peso e à redução do Índice de Massa Corporal (IMC)”.

Gabriela de Santana Pereira é estudante e se tornou vegana a mais de 2 anos. Ela conta que a primeira diferença que notou foi a mudança no seu paladar. “Depois de me tornar vegana, eu percebi uma mudança muito positiva no gosto das coisas e meu intestino começou a funcionar muito melhor também”, diz.

Salvar os animais

Além da saúde humana, não comer carne também ajuda a salvar os animais. O número de animais criados e abatidos para consumo por ano no mundo chegou a 88 bilhões, segundo a organização Humane Society International (HSI).

Gabriela explica que quando as pessoas começam a se informar sobre o processo de produção [da carne], é impossível achar justo e digno. “O que a indústria faz com os animais é muito violento. Depois, a questão ambiental também conta bastante. Boa parte dos problemas gerados pelas mudanças climáticas tem origem na produção em massa de alimentos, especialmente a agropecuária”, fala a estudante.

Impactos ambientais

De acordo com a Greenpeace, uma organização não governamental ambiental, a produção de carne emite tanto gás de efeito estufa quanto todos os carros, caminhões, aviões e navios do planeta somados. No Brasil, além das emissões, a pecuária está ligada à privação de direitos de trabalhadores, povos indígenas e comunidades devido à expansão das fronteiras da produção agropecuária. Além disso, a expansão da pecuária no Brasil gera impactos nas paisagens naturais do país.

“Acredito que por orientar o meu consumo às minhas responsabilidades ambientais enquanto cidadã, o veganismo faz muito sentido. Particularmente, é muito bom viver tudo isso na prática. Alinhar meus princípios éticos e os meus valores ao meu comportamento, é gratificante”, completa Gabriela. 

Veganismo x vegetarianismo x plant-based

Vegetarianos são pessoas que não consomem proteína animal na sua alimentação, seja ela carne vermelha, branca ou frutos do mar. Existem 3 tipos de vegetarianismo, que são:

  • Ovo-lacto vegetariano: não possui carne de animais na alimentação, mas consome laticínios e produtos com ovos;
  • Lacto-vegetariano: não possui carne e ovos na alimentação, mas consome produtos lácteos, como leite, iogurte, queijo, manteiga, entre outros;
  • Ovo-vegetariano: não possui nenhum tipo de produtos de origem animal, porém, consome ovos.

Os veganos são aqueles que não consomem nada de origem animal e nem utilizam produtos de origem animal, como produtos de higiene, cosméticos, vestuário e medicamentos. O grupo não se baseia somente na dieta alimentar, mas também no estilo de vida. 

Então, os vegetarianos são aqueles que só excluem a carne do prato e o veganismo é um estilo de vida que recusa todo e qualquer tipo de derivado de exploração animal em seu dia a dia.

Já a dieta plant-based (baseada em plantas) é um conceito alimentar que valoriza o consumo de alimentos de origem vegetal, isto é, que não sejam refinados ou ultraprocessados. Até é recomendado a exclusão do consumo de produtos de origem animal como ovos, laticínios e carnes. Essa dieta engloba todos os alimentos de origem vegetal, incluindo vegetais, grãos integrais, legumes, sementes, frutas e nozes.

Existe também o flexitarianismo, que são traz pessoas que ainda comem carne, mas com moderação, são pessoas que buscam seguir uma alimentação flexível e substituir a proteína animal por outras alternativas, algumas vezes na semana.

Quais as dificuldades desse não consumo?

Miriam explica que nem todos podem ter acesso a um profissional da área de Nutrição para fazer uma dieta equilibrada. “Não é só virar vegetariano da noite para o dia, tem que ter acompanhamento no início, reeducação alimentar e orientação nutricional. Afinal, o organismo pode vir a sofrer deficiência de alguns nutrientes, como vitaminas e minerais, ocasionando doenças graves”, fala. 

“Tenho que prestar muita atenção na escolha dos alimentos que compõem o meu prato, pra manter a dieta o mais balanceada possível”, explica Gabriela. 

Também existe a dificuldade para comer fora de casa, pois nem todos os restaurantes são inclusivos sobre essas dietas restritivas. “As vezes quando saio pra comer em algum lugar diferente, nem sempre existem opções veganas ou vegetarianas no cardápio e isso acaba sendo uma dificuldade”, relata Gabriela.

Larissa comenta que essa dificuldades têm sido diminuídas pelo aumento das opções de mercados e restaurantes. “Hoje é mais fácil comer fora, sendo vegetariano, que anos atrás”, diz a nutricionista. 

A estudante vegana diz que, no final das contas, essas pequenas dificuldades são superadas pelos benefícios que o veganismo proporciona.

Como começar a parar de comer carne

A nutricionista Larissa entrega algumas dicas para quem está tentando ter esse hábito de renúncia à carne. “Ter conhecimento sobre o assunto, ler, pesquisar e de preferência buscar ajuda profissional para que a transição seja feita de forma segura e equilibrada. Tentar começar reduzindo o consumo, ao invés de cortar de uma só vez, também é essencial para que as mudanças sejam sustentáveis a longo prazo”, explica ela.

Para a nutricionista Miriam não existem regras. Ela comenta que antes de tomar a decisão, é aconselhável entrar em contato com pessoas que já decidiram virar vegetarianos. “É claro que alguns vão te dizer que você precisa cortar todo o tipo de carne de uma só vez, outros vão dizer que é melhor parar aos poucos. A verdade, contudo, é que não há certo ou errado para virar vegetariano. Se, para você, for melhor diminuir a carne aos poucos, que assim seja”, exemplifica Miriam.

“Procurar fazer desafios: começar com um dia sem carne, pular para uma semana sem carne, depois um mês. Quando se der conta, você já montou um cardápio sem crueldade e sem dificuldade. E, claro, procurar auxílio de um profissional de saúde especializado nisso (nutricionista ou nutrólogo) para te ajudar nesse período de transição”, completa Miriam.

Gabriela destaca que “aos poucos essas pequenas mudanças vão se tornando hábitos e a nova dieta começa a fazer parte da vida do indivíduo, se tornando algo natural”.

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