O movimento mundial incentiva a mudança de hábitos por um dia promovendo impactos duradouros.
Lucas Pazzaglini
Em 22 de setembro é comemorado o Dia Mundial Sem Carro. A data, criada em 1997 na França, tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre os poluentes atmosféricos emitidos pelos veículos a combustão.
A gerente de Mobilidade Urbana do WRI Brasil, Paula Santos, explica que “a data foi se difundindo na agenda de países da Europa e do resto do mundo, e nos anos 2000 chegou também ao Brasil, onde além do Dia Mundial Sem Carro, promove-se a Semana da Mobilidade e a Semana Nacional do Trânsito no mesmo período.”
O dia promove, além da conscientização, um alerta em relação ao estilo de vida adotado pela maior parte da população. Renata Falzoni é arquiteta, jornalista e criadora do canal de YouTube Bike é Legal e a mais de 47 anos é ativista na área, na tentativa de conscientizar sobre o uso exacerbado e desnecessário que os automóveis ocupam.
“Para que as cidades funcionem, é necessário torná-las mais e mais independentes do uso do automóvel. A solução consiste em promover a mobilidade ativa, mais o transporte público de qualidade e isolar este sistema, do congestionamento que é uma externalidade inevitável do excesso do uso dos automóveis”, esclarece a arquiteta.
Benefícios a todos
Não usar o carro pode contribuir positivamente em diversas áreas da vida, inclusive na saúde, uma vez que diminuir o nível de poluentes transmitidos à atmosfera tem um impacto direto na saúde. “A poluição causada pelos carros, que emitem as partículas mais finas (chamadas PM2.5), é uma das mais perigosas, porque as partículas conseguem atingir a corrente sanguínea e partes profundas do pulmão”, explica a especialista de Conservação em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil, Flavia Martinelli.
A especialista ainda acrescenta que a poluição excessiva do ar pode causar doenças no coração, câncer de pulmão, derrame e doenças pulmonares como a asma, tendo crianças, pessoas gestantes e idosos como os mais vulneráveis nessas situações.
Outras ações
Apenas um dia sem carro não é o suficiente para conscientizar a todos ou promover uma mudança drástica, afinal, a poluição do ar não é causada exclusivamente por carros. Flavia aponta que “as cidades no topo dos rankings de poluição do ar não são Rio de Janeiro ou São Paulo, que possuem frotas enormes, mas sim Acrelândia, no Acre, município com 16 mil habitantes. E essa poluição é resultado de desmatamento e queimadas em áreas próximas”.
Em setembro deste ano, Rio Branco teve taxas de poluição de mais de cinco vezes do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pela mesma razão. Deste modo, a especialista acrescenta que “todas as organizações e coletivos que atuam combatendo o desmatamento, como o WWF-Brasil, indiretamente estão combatendo também a poluição do ar.”
Além disso, Paula Santos aponta que existe uma agenda relevante para a mobilidade sustentável e segura: a Segunda Década de Ação pela Segurança no Trânsito da OMS/ONU. “Trata-se de uma campanha global para reduzir à metade as mortes e lesões graves no trânsito até 2030 através da abordagem de Sistema Seguro”, explica.
O Brasil faz parte desse movimento incorporando metas e ações para promover a segurança viária, além de “incorporar as premissas da OMS em seu Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRANS)”, afirma a gerente em Mobilidade Urbana.
Bicicleta como alternativa
Uma das principais alternativas no Dia Mundial Sem Carro é o uso da bicicleta. Renata Falzoni destaca que “a solução para as cidades serem mais resilientes, sustentáveis, acessíveis, passa necessariamente pela promoção dos modos ativos de deslocamento, e nesse quesito a bicicleta além de eficiente, rápida, não poluir, ela amplia muito o raio de locomoção de um cidadão, emitindo zero gases de efeito estufa, ocupando um mínimo de espaço e de quebra ainda promove a saúde de seu usuário”.
Além de agredir muito pouco o meio ambiente, a bicicleta estimula um estilo de vida mais saudável. “A Organização Mundial da Saúde recomenda meia hora de exercício todos os dias para prevenir as doenças que mais matam, que é a hipertensão e a diabete. Fora esse lado, pedalar oxigena o cérebro, faz super bem para a saúde mental de quem pedala”, afirma Renata.
Como participar
Participar do Dia Mundial Sem Carro é simples, basta aderir a outros meios de locomoção. Mas se você quiser ir além, pode participar de outras alternativas. Paula dá a alternativa de “compartilhar conteúdos relevantes que sempre são publicados nas redes sociais nesse período, falar com amigos e familiares sobre a importância da mobilidade sustentável”.
Existem também coletivos de mobilidade urbana que realizam ações na época, como o Bike Anjo, que atua em diversas cidades brasileiras e o Vá de Bike. É importante também se engajar em políticas públicas voltadas para a área. “Participe de mobilizações que peçam a vereadores, deputados, prefeitos e outros tomadores de decisão, projetos para melhorar a mobilidade urbana da cidade, como ciclovias, integração entre transportes, corredores para ônibus, etc.”, sugere Flávia.
Renata ainda vai mais longe e afirma que “é necessário o executivo das cidades promoverem o Dia Mundial Sem Carro, o ideal seria os gestores públicos nesse dia andarem a pé, de bicicleta e/ou combinarem os modos ativos ao transporte público”.
Deixar o carro em casa apenas uma vez no ano pode parecer pouco, mas é assim que os grandes movimentos começam.