Ao mesmo tempo que a depressão dificulta a realização de atividades do cotidiano, existe uma outra doença, com sintomas sutis, mas que devem ser considerados.
Laura Rezzuto
A distimia é uma doença crônica e sem um período certo para começar. Diferente da depressão, mais conhecida por todos, ela não ocorre em episódios, mas sim, mantém-se por longas temporadas, inclusive décadas. Segundo o site Psicanálise Clínica, por este motivo, a pessoa afetada pela doença possui pouco sucesso em perceber os sinais. Além disso, os familiares e amigos tendem a achar que os sinais apenas fazem parte da originalidade do indivíduo.
De acordo com a psicóloga Camilla Viana, especialista em terapia cognitivo comportamental, reconhecer e diagnosticar uma depressão não é de forma alguma fácil. Sendo assim, a versão dela com sintomas menos intensos, possui um diagnóstico ainda mais trabalhoso. “É aí que está o risco. Essa doença passa de maneira mais silenciosa, ainda mais em crianças. Por ser difícil diagnosticar, acaba não existindo um tratamento na rotina da pessoa, o que aumenta as chances dela desenvolver uma depressão mais grave”, explica a psicóloga.
Sinais que passam despercebidos
Independentemente de os sintomas serem mais leves, a distimia ainda pode resultar em um grande custo próprio. A pessoa afetada, em geral, tem pouca energia e grande falta de concentração, o que, segundo Camilla, pode tornar o desempenho profissional ou acadêmico improdutivo. Alguns outros sinais são mau humor excessivo, tristeza, desinteresse, pessimismo e baixa autoestima. Além disso, pouco ou excesso de apetite são sintomas comuns.
“A depressão que conhecemos afasta as pessoas do meio social muitas vezes. Porém, em pacientes com distimia, a vida continua sendo seguida de maneira ‘normal’, com todos os sentimentos sendo despercebidos, mas ainda produzindo”, esclarece Camilla.
Além de todos os sintomas, que permanecem por muito tempo, um distímico coleciona durante esse período, várias perdas significativas. Segundo a psicóloga, esse sinal vale para relacionamentos, trabalho e família. Por isso, ela segue com uma dica. “Avaliar quantos dias você está bem ou mal pode ajudar. É importante saber se esses sintomas são naturais ou se estão evoluindo mais do que o normal ao passar dos anos. Então, se a insatisfação, impaciência ou negatividade começarem a durar semanas e até mesmo anos, é bom procurar ajuda”, alerta a especialista.
Tratamento e luta singular
Após o diagnóstico feito por um psicólogo e um psiquiatra, vem o tratamento. Esse deve ser feito com o auxílio do próprio médico psiquiatra. Os tratamentos mais comuns para a doença são medicamentos e terapia. Porém, o uso dos dois juntos ocasiona em um resultado mais eficaz. Também é essencial que haja uma avaliação de um clínico geral, para saber se existe alguma doença física que influencia ou agrava os sintomas.
A psicóloga Luiza Rezende, especialista em terapia cognitivo comportamental, detalha como funciona o tratamento contra a doença. “O tratamento mais adequado é através da Terapia Cognitivo Comportamental com psicólogo e acompanhamento com médico psiquiatra para uso de medicação”, comenta.
Luiza ainda continua explicando que em comparação ao tratamento contra a depressão não há diferenças, a indicação é a mesma, apesar de serem doenças distintas. “Elas se diferem, na verdade, quanto a intensidade e frequência dos sintomas. Porém, realizamos o mesmo tratamento. A psicoterapia é essencial para auxiliar no tratamento, visto que tem como objetivo auxiliar na administração das emoções e promover a ativação comportamental, uma vez que, esse transtorno é caracterizado pelo isolamento social, baixa auto estima, tristeza e irritabilidade persistente”, ressalta.
A distimia, como a depressão, possui uma estrutura específica para cada pessoa. Ainda que os sintomas sejam parecidos em todas, na mente e corpo delas funciona de maneira singular.
A terapeuta ainda completa dizendo que se o paciente estiver fazendo o tratamento com o psicólogo e o psiquiatra há um tempo e for avaliado com estabilidade ou diminuição dos sintomas, é possível que ele tenha alta. “Se o paciente estiver fazendo a terapia, ele tem um diferencial que ajuda bastante, que é promover autonomia suficiente para que o paciente não dependa a vida toda da terapia e através desse processo venha a se tornar “seu próprio terapeuta”. Isso significa ser capaz de administrar suas emoções, identificar pensamentos intrusivos e ter comportamentos mais saudáveis de maneira bastante independente”, finaliza Luiza.