Assim como o ser humano não vive sem respirar, o princípio da vida não existe sem a água.
Ana Toyota
Se o oceano fosse um país, ele seria a sétima maior economia do mundo. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a economia oceânica movimenta entre 3 a 6 trilhões de dólares a cada ano. No entanto, é preciso diferenciar a economia azul, que visa sobretudo o lucro através da pesca, turismo e navegação, da economia azul sustentável, que utiliza dos seus próprios meios para se renovar.
O maior ecossistema do mundo é o oceano. Dentro dele existe um universo desconhecido composto por organismos vivos, não vivos e principalmente água. “Vejo a Terra. Ela é azul”, foi isso que disse o cosmonauta soviético Iuri Gagarin ao ver o planeta do espaço. 70% do globo é composto por água e isso faz com que toda a sua extensão seja primordial para a vida na terra, não apenas o respirar, mas recursos econômicos e sustentáveis podem ser reaproveitados desse biossistema.
O que é a Economia Azul?
O termo “Economia Azul” foi usado pela primeira vez em 2009 pelo economista belga Gunter Pauli, através de sua reportagem para uma organização sem fins lucrativos chamada Clube de Roma. Em sua obra, o autor busca promover um modelo econômico que apresenta mais de 100 inovações que gerariam mais de 100 milhões de empregos ao redor do mundo.
Ela visa estabelecer um novo sistema econômico que vai contra o pensamento de descarte (usar e jogar fora) visto muito na cultura consumista. O Banco Mundial afirmou que a Economia Azul é o “uso sustentável dos recursos oceânicos para o crescimento econômico, a melhoria dos meios de subsistência e do emprego, preservando a saúde do ecossistema”.
Esse novo modelo busca aproveitar toda a abrangência em relação à biodiversidade existente, todos os recursos naturais, incluindo peixes, minerais, algas e organismos marinhos a fim de não atingir negativamente as gerações futuras, tanto humanas quanto de animais aquáticos e terrestres.
O maior desafio do uso de recursos naturais dentro da produção de lucro é a conservação do ecossistema. Nisso, a economia azul destaca-se, pois oferece a oportunidade de produzir e não destruir. Sobre a importância financeira, o especialista em economia Felipe Silva afirma que “a economia azul é importante porque reconhece a interdependência entre o desenvolvimento econômico e a conservação dos recursos marinhos.”
A realidade dos mares
O grande desafio é restaurar o tempo perdido. Por décadas, o oceano foi uma parte desprezada dentro do conceito de conservação do meio ambiente. Isso porque é o que constitui grande parte do planeta Terra, atingindo a marca de 70% de toda a superfície terrestre, e com isso, existe a dificuldade em explorar regiões muito profundas, deixando passar até mesmo muitas regiões inexploradas.
A grande extensão do oceano e a falta de habitação nessa região (por seres humanos) faz com que ele seja um grande atrativo para o descarte de lixo. Por anos, a indústria do plástico e têxtil, bem como outras, utilizam do oceano como depósito de resíduos que demoram séculos para se decompor, destruindo não apenas os recursos naturais, mas toda a vida do ecossistema.
Uma das atividades que degradam o meio aquático é a pesca. O biólogo Nelson Júnior destaca que, quando o assunto é lucro, as pessoas pensam apenas no hoje e agora. “Eu preciso tirar dinheiro, preciso retirar esse peixe, da quantidade que tiver, quer ele seja grande, ou pequeno, quer a fêmea esteja grávida ou não, e isso faz com que as outras espécies acabem sempre diminuindo em quantidade”, exemplifica.
No entanto, a área da pesca, principalmente no Brasil, é uma atividade em que o beneficiário representa uma classe pouco privilegiada financeiramente. Exigir um conhecimento sustentável do profissional que vive pela venda de peixes em feiras de domingo como forma de sobrevivência é uma tarefa que exige ação de conscientização e criação de alternativas oportunas.
A busca por dinheiro afeta diretamente o futuro. “Isso faz com que a gente fique preocupado porque eles vão tirar a quantidade que for preciso e isso afeta as outras gerações, e quando eu digo as futuras gerações, estou me referindo às futuras gerações da espécie que foram retiradas”, finaliza.