A falta de conhecimento básico sobre como administrar o dinheiro tem sido uma grande causadora de inadimplência no Brasil.
Camylla Silva
Um levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) apontou que quatro em cada dez brasileiros adultos (39,41%) estavam negativados no mês de agosto deste ano. A porcentagem equivale a 63,71 milhões de brasileiros e a quantidade de pessoas com contas atrasadas cresceu 10,13% se comparado com o mesmo período o ano passado.
Segundo os dados disponíveis em sua base, que contém informações das capitais e do interior de todos os Estados da federação, além do Distrito Federal, a CNDL e o SPC Brasil apontaram que a variação anual analisada em agosto deste ano ficou acima da observada no mês anterior. Na virada do mês de julho para agosto, o número de pessoas endividadas cresceu 0,78%.
Em nota, o presidente do CNDL, José César da Costa, ressaltou que a melhora de alguns índices e o aprimoramento das contratações de trabalhadores temporários podem trazer um resultado positivo. “Tivemos uma melhora nos índices no cenário macroeconômico, como o aumento do PIB, diminuição do desemprego e liberação de retroativos de auxílio emergencial, mas o que mais tem impacto é a inflação alta principalmente nos alimentos. Por outro lado, estamos próximos das contratações do fim de ano e do pagamento do 13º, o que geralmente traz um alívio no bolso”, diz José.
O economista, especializado em macroeconomia, Alexandre Almeida, acredita que o brasileiro entrou nessa situação devido à expansão de crédito exorbitante nos últimos anos, acompanhada de uma crise que ampliou o desemprego populacional. “As famílias tomavam crédito, isto é, antecipavam consumo pagando juros parcelados”, enfatiza.
“Entretanto, chegou o momento em que as famílias já não conseguiam arcar com as próprias parcelas, reduzindo consumo. Consequentemente a demanda agregada do país, a venda de bens e serviços culminaram na destruição de vagas de emprego e em um alto nível de desemprego”, acrescenta.
Na soma de todas as dívidas, cada consumidor inadimplente devia em média, R$3.630,64. Considerando todas essas dívidas, cada consumidor negativo tinha em média 1,94 empresas credoras. Aproximadamente quatro em cada dez compradores tinham dívidas de até R$500 percentual, equivalente a 49,24% quando se refere às dívidas de até R$1.000.
Educação Financeira e Inteligência Financeira
É de suma importância e extremamente necessário saber o que é de fato a educação financeira, uma vez que esse conceito pode ajudar qualquer um a organizar, planejar e até mesmo identificar algum problema em suas finanças.
Para a Organização para Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), a educação financeira é um processo no qual os consumidores e investidores são orientados a compreender mais sobre produtos, conceitos e serviços financeiros, desenvolvendo habilidades que fazem com que o consumidor calcule riscos, aproveitando oportunidades e fazendo boas escolhas para a melhor saúde financeira. Em resumo, educação financeira é uma orientação para que as pessoas aprendam a organizar seu orçamento, sair das dívidas e por fim, fazer investimentos.
Portanto, esse conceito não tem sido praticado pelas famílias brasileiras. Sendo assim, é preciso ter Inteligência Financeira, que diferente do conceito anterior, é a educação financeira transformada em prática. “O meu sonho é casar e ter 2 filhos. Se eu não me planejar financeiramente e simplesmente tiver 2 filhos e uma casa financiada sem qualquer preparo, é muito provável que eu não consiga equilibrar tudo no final”, declara Alexandre.
“Sabendo onde eu desejo chegar, posso fazer um planejamento para conseguir equilibrar tudo de forma mais suave e harmoniosa […], pois requer dinheiro para fazer isso e com planejamento fica muito mais fácil e prazeroso curtir o sonho realizado”, finaliza.
Relevância nas escolas e na educação dos filhos
A educação financeira nunca esteve tão em evidência no Brasil, já que fatores como a facilidade de acesso e a tecnologia podem influenciar de forma positiva no alcance dessas orientações. Mesmo com essa acessibilidade, infelizmente esse conceito não é muito falado nas escolas. Sendo assim, é importante que os professores e pais entendam a relevância desse assunto para contribuir no desenvolvimento de uma consciência financeira nas crianças.
Alexandre acredita que mesmo em tempos de crise, a implantação da educação financeira é simples, mesmo na base curricular de ensino público. “A matemática pode ser usada como instrumento e pode facilmente ser explorada com exemplos simples e intuitivos que hoje são facilitados pela tecnologia”, finaliza.
Claudia Tavares é mãe e administradora nas horas vagas. Embora seja difícil falar sobre educação financeira para o filho na primeira idade, para ela, isso pode contribuir de maneira positiva para que o pequeno se torne um adulto consciente a respeito do dinheiro e economia. “Meu filho tem um ano e quatro meses, e para ele eu ensino, por exemplo, sobre o desperdício de água, o que é algo bem simples […] isso já vai modulando e conscientizando, tanto economicamente como de forma sustentável”, sugere.
“Já com as crianças maiores, você pode definir um valor de mesada e ensiná-lo a distribuir esse dinheiro no decorrer do mês. Além de ajudar na capacidade de estabelecer planejamentos financeiros, a criança consegue desenvolver um pensamento crítico sobre a relação com o dinheiro”, conclui.
Embora muitas pessoas tenham ouvido falar sobre educação financeira, elas só conhecem os conceitos de fato quando estão endividadas e buscando formas de sair da situação, ou quando percebem que necessitam mudar de vida e buscar um futuro melhor.
Independente da idade, um dos principais locais de aprendizado de uma pessoa é dentro de casa. Portanto, é importante cuidar do orçamento familiar e buscar aprender cada vez mais, pois a educação financeira, assim como outras áreas do conhecimento, é vasta e inesgotável.