61,9% dos brasileiros entre 18 e 24 anos não estão matriculados em nenhuma instituição de ensino.
Paula Orling
“Desde criança eu sempre fui muito bem na escola, minhas notas todas sempre foram acima de oito, sempre fazia tudo que era para fazer, sempre ganhei prêmios em quesitos de atividades acadêmicas, sempre fui um destaque”. Todos os dias, a estudante Larissa Dörl acordava às seis da manhã e seguia para um dia completo de estudos, rotina que se intensificou com o passar dos anos. “Quando cheguei no Ensino Médio minhas notas aumentaram muito. No segundo ano do Ensino Médio eu gabaritei todas as médias finais”, compartilha. Apesar de todo o esforço, ela não conseguiu passar no vestibular de uma universidade pública.
O processo seletivo para Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Paraná (UFPR), universidade dos sonhos de Larissa, teve uma nota de corte de 734,2, classificando o curso como de “ampla concorrência”. Mesmo competindo pela melhor nota da classe durante toda a vida escolar, o resultado dos seus esforços não foi bem-sucedido.
Este é o caso de milhares de brasileiros, que mesmo buscando reter o conhecimento adquirido nas salas de aula, não alcançam resultados satisfatórios em provas tão concorridas como os vestibulares.
Possibilidade irreal de ingresso
A oferta de vagas em ambientes universitários públicos não supre a demanda de jovens formados. De acordo com uma pesquisa realizada pela Abres, em 2018, 61,9% dos cidadãos brasileiros entre 18 e 24 anos, fase de ingresso no ensino superior, não estudam.
Um dos fatores de desistência para os jovens é a nota de corte irreal das Universidades Federais e Estaduais. No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021, as médias nacionais por competências variam entre 490,39 e 588,74, de acordo com dados divulgados pelo FDR. Contudo, as médias do SISU necessárias para o ingresso em instituições públicas variam entre 523 e 793 dependendo do curso escolhido, de acordo com apuração do Stoodi, cursinho online. Neste sentido, é impossível para a maior parte dos candidatos o ingresso em uma destas instituições.
Públicas x Privadas
As Universidades Federais ainda representam grande status para os estudantes brasileiros. A orientadora educacional do Colégio Curitibano Adventista Bom Retiro Marsele Camargo, explica o esforço que observa nos alunos do Ensino Médio que buscam o ingresso em uma Universidade Federal. “Quem quer passar numa federal é bem mais dedicado, eles se empenham mais, estão mais preocupados, porque a federal realmente é mais difícil, mais concorrida”, completa.
Mesmo com a tentativa de ingressar em uma instituição pública, a rede privada segue representando 88,4% do total de Instituições de Ensino Superior no país, concentrando 75,8% das matrículas de todas as graduações.
Neste sentido, os milhares de brasileiros que não são absorvidos pelas universidades governamentais procuram se encaixar em instituições particulares que “cabem em seus bolsos”. Têm acesso à qualidade de ensino aquele que paga mais.
Assim, os estudantes, como a Larissa, que passaram a vida acadêmica inteira buscando os melhores resultados, não são apoiados pelo Estado. Contudo, o Governo Brasileiro espera que estes alunos, os destaques acadêmicos, conduzam a economia, a política e a cultura nacionais, a partir dos conhecimentos que adquiriram nas instituições privadas e sem auxílio público, apesar de seus esforços.